22.12.06
20.12.06
trapezistas do vazio
na penumbra ela procura localizar-se. não conhece o quarto, mas parece ser um quarto genérico de hotel. em volta do seu corpo, um braço desconhecido descansa.
a jovem tenta se lembrar de como foi parar ali, mas a dor de cabeça intensa afasta qualquer possibilidade de explicação.
a nudez indolente do homem ao seu lado e um gosto salgado em sua boca a fazem imaginar o que teria acontecido.
ela se sente envergonhada. lembra de outras camas em outros hotéis. outras noites passadas na companhia de um estranho.
lembra do garoto que ela deixou em casa. provavelmente estaria dormindo. seu coração aperta em saber que ele está sozinho e que a culpa é só dela.
de repente, o braço à sua volta parece apertar mais. as paredes do quarto parecem se aproximar, fechando-se ao seu redor. respirar é difícil demais. ela precisa sair.
a dor de cabeça parece diminuir quando ela sai na rua. nas mãos um maço de cigarros roubado do casaco do homem. ele nem mesmo percebeu que ela saiu do quarto.
cambaleando, ela atravessa ruas, em direção à sua casa.
a fumaça do cigarro não preenche o enorme vazio que há em seu peito.
em um bar, um homem olha para o nada, segurando um copo. ele não está bêbado. gostaria, mas não tem coragem de fazer nem mesmo isso.
"hoje ela faria 35", ele pensa. em sua cabeça, imagens de um passado que parece quase inexistente dançam.
sonhou com ela novamente, mais cedo. acordara tremendo, na cama.
fugiu de sua própria casa, como sempre fazia quando a dor era forte demais. caminhou respirando o ar da noite. prostitutas lhe ofereciam alívio. ele as recusava.
o alívio que elas ofereciam nunca lhe foi suficiente.
ele toma o último gole e levanta-se. o ar noturno está frio e sombras passam, cobertas em casacos pesados.
ele caminha sem saber onde chegar.
ela e ele se cruzam. por um instante ,se olham.
e por um instante, é como se os dois se reconhecessem.
os olhares se afastam.
mas uma lembrança desse momento os seguirá.
19.12.06
acid mode on?
ali parece o lugar perfeito...
como vc faz isso, hein?
acid mode on III
e de sangue.
e de ler sobre coisas que ninguém mais parece gostar.
e de ver filmes estranhos.
e desenhar sempre as mesmas coisas.
e de fotografar coisas que só eu entendo.
não. eu não sou igual a ninguém que você conhece.
eu nem sou uma pessoa.
sou só eu.
ainda estou tentando descobrir o que isso significa.
acid mode on II
acho que não amo lugar nenhum no mundo.
ainda assim quero ver tudo.
vai que eu estou errado, né?
acid mode on
por que insistem em desgastar todos eles, transformando-os em conversas entediantes?
que os guardem até que valham a pena.
procura-se
a última vez que foi visto, estava na cabeça de um certo escritor. desapareceu quando fazia o caminho da cabeça para o papel.
boa remuneração a quem encontrá-lo.
pra vc...
pessoas cinzas caminham por um asfalto cinza. carros cinzas param em sinais onde luzes cinzas alternam-se.
prédios cinzas tocam um céu cinza.
árvores de folhas cinzas balançam ao sabor de um vento cinza.
eu visto roupas cinzas.
de repente, você entrou na minha vida e de repente eu vejo cores.
eu sempre quis tudo de uma vez. sempre.
nunca me contentei em ir ao poucos. nunca me contentei em ter só o agora.
o agora sempre foi muito pouco. sempre tosco e sem vida, diante de todas as possibilidades futuras.
o problema era que eu me perdia nas possibilidades e deixava de viver o agora.
sempre gostei mais das cores com as quais a minha imaginação pinta o mundo do que as cores reais.
é tão complicado, viver o agora.
complicado demais viver com calma.
diminuir a velocidade.
sentir aos poucos.
eu ainda sinto a vontade de jogar muito mais combustível no fogo.
porque eu amo a chama.
mas nunca aprendi que ela queimava depressa demais desse jeito.
tenho que aprender a alimentar o fogo aos poucos.
é muito difícil.
mas eu quero aprender.
13.12.06
fragmentos...
um vento frio sopra e a menina chega mais perto do rapaz, abraçando-o.
ele beija-lhe a testa...
no horizonte, novas cores pintam o céu, aos poucos.
eles olham o nascer de um novo dia e em seus corações, a semente de uma nova esperança brota...
o amor é flor frágil. precisa de cuidados. precisa de carinho e atenção.
o amor é flor que brota no meio das pedras. beleza em meio à aridez do mundo.
o amor é tênue... o amor é etéreo...
o meu amor é o que me move, certos dias.
porque eu quero tudo. e quero perder todos os medos, receios e pudores...
quero mergulhar.
quero morrer e nascer novamente... mil vezes num dia.
e quero você.
enjoy the silence
break the silence
come crashing in
into my little world
painful to me
pierce right through me
cant you understand
oh my little girl
all i ever wanted
all i ever needed
is here in my arms
words are very unnecessary
they can only do harm
vows are spoken
to be broken
feelings are intense
words are trivial
pleasures remain
so does the pain
words are meaningless
and forgettable
all i ever wanted
all i ever needed
is here in my arms
words are very unnecessary
they can only do harm
enjoy the silence
12.12.06
11.12.06
tabuleiro
eu percebo cada movimento dela.
tenho paciência. esse é o meu jogo e aprecio cada lance, cada investida.
então, em um determinado momento, ela me percebe. estou longe o suficiente para que ela não entenda de imediato minhas intenções, mas perto o bastante para ela perceber que estou olhando em sua direção.
então, o jogo começa...
durante a noite, de forma quase que imperceptível, vou chegando mais perto. e mais vezes nossos olhares se cruzam. até que um sorriso inevitável se abre no rosto dela. desvio o olhar por um segundo, tímido.
há vários caminhos para o coração de uma mulher... os mais rápidos passam pelo desejo delas de cuidar de alguém. existem poucas que resistem a um ser carente.
e timidez é um sinal claro de carência.
finjo tomar coragem e ofereço um drink. ela não sabe, mas agora já não conseguirá ir embora.
conversamos um pouco. eu finjo ouvir. sempre funciona. as pessoas sempre estão a procura de alguém que as ouça.
todo o lance seria entediante, se a recompensa não fosse tão grande.
tenho que segurar minha vontade. só ela me denunciaria, agora.
dançamos juntos, corpos colados na pista. olhares encaixados. gosto dos olhos dela. gosto da mistura de sentimentos que vejo neles. o cheiro da pele dela é bom.
nos beijamos na pista. o gosto dela é suave. perfeita.
saímos dali... ela me leva ao seu apartamento. roupas caem no chão. ela geme baixo, frente aos avanços da minha língua.
chegamos à cama. nus, enroscados, um no outro. meu corpo e o dela.
ainda aqui, cada movimento meu é calculado. não sinto prazer na carne.
espero por algo mais profundo.
ela me puxa com força em sua direção. com o corpo pressionado contra o dela, eu faço o lance final:
ela me olha surpresa. mesmo sem conseguir ver os olhos dela, eu conheço a expressão perfeitamente. ela grita, tentando me afastar, mas meu abraço a impede.
eles sempre ficam desesperados, nessa hora.
os dentes abrem a carne do pescoço, com força. o gosto dos músculos e gordura logo é substituído por algo mais nobre.
um rio vermelho desce pelos ombros, até o peito. ela esperneia, sem conseguir fugir.
o gosto é familiar.
fecho os olhos e vejo tudo vermelho. escuto o coração dela batendo rápido e sinto o meu coração aumentando deu ritmo, acompanhando o dela.
um calor percorre meu corpo, começando pela cabeça e descendo pela espinha, até a base das costas. pequenos choques elétricos parecem percorrer meu corpo.
não paro de beber até que a batida no peito dela se torne débil demais até para os meus ouvidos.
o rosto ainda se concentra na expressão de dor e surpresa. ela me olha, sem reação alguma. os lençóis estão vermelhos, nossos corpos brilham, molhados de sangue.
eu a olho... ainda perfeita.
e aos poucos, o brilho dos olhos foge.
quase consigo perceber o momento em que a alma deixa o corpo dela.
fico ali durante algum tempo. extasiado.
beijo o rosto sem vida com carinho. ela e eu dividimos a mesma essência. por algum tempo, vejo o mundo como ela via.
lá fora, o dia começa a nascer.
toco a janela do quarto, sentindo o calor do sol do jeito que ela sentia. a sensação aos poucos vai embora.
como um vício, me pego pensando em uma próxima caçada.
eu ganhei o jogo...
pedaços
eu sei tudo sobre ela, qual o jeito que ela gosta de dormir, como é o sorriso dela, qual a cor do olhar. e ao mesmo tempo, aquela mulher deitada na minha frente é uma completa estranha para mim.
por que tudo sempre retorna ao mesmo ponto? por que sempre pareço procurar algo que foge de mim quando chego perto. a minha felicidade parece água escorrendo das minhas mãos enquanto tento em vão agarrá-la.
passei a noite aqui, no sofá, olhando para ela e vendo outras mulheres em outras noites assim. há algo de belo na tristeza, eu dizia antigamente. agora, eu repudio essa beleza árida.
não quero deixá-la. não quero passar por aquela porta e descer as escadas. não quero atravessar a rua sem olhar para trás.
ao mesmo tempo, não consigo deixar de pensar que eu sou o causador de todas as coisas erradas aqui.
me sinto só. se todas as pessoas do mundo estivessem aqui, agora, eu me sentiria só. porque a minha alma se perdeu da única alma que importava para mim.
me levanto em silêncio. caminho em direção a cama, sempre observando a respiração dela. beijo-a delicadamente na testa enquanto uma lágrima cai, escorrendo por nossos rostos.
adeus, meu amor.
eu passo pela porta e desço as escadas. atravesso a rua sem olhar para trás. mas um pedaço de mim ficou naquele quarto.
me pergunto sobre o dia em que não sobrarão mais pedaços.
10.12.06
prólogo
se você está lendo isso, provavelmente já conhece boa parte de nossa história. bom, acho que só a versão que a imprensa publicou.
essa é a minha versão sobre o que aconteceu naquele ano. não vou usar nomes, porque isso nos transformaria em pessoas, como você. e não somos como você. não somos nem mesmo pessoas.
somos uma idéia absurda, um desejo amoral.
somos nós.
eu havia guardado tudo o que aconteceu comigo. mas hoje de manhã aconteceu algo que me fez lembrar dela. então me vi escrevendo, como nunca havia escrito antes. página após páginas nasciam no computador. me vi novamente como uma criança, relembrando cada detalhes, cada lugar.
e relembrando das coisas que fizemos.
7.12.06
30.11.06
quero invadir o mundo que você nunca liberou pra ninguém.
quero entrar sem pedir.
quero abrir as pernas da sua cabeça, desvirginar a sua mente.
quero violar o seu corpo do jeito que você gosta.
quero que se entregue. agora. de todos os jeitos.
quero que você peça mais e mais. que deseje cada instante.
quero ser seu mestre e seu pupilo. me ensina cada parte do seu corpo.
quero desbravar prazeres que você não conhece.
quero matar você. a pequena morte dos franceses.
quero fazer você respirar meu sopro. beber da minha boca.
quero amarrar seu corpo, marcar sua pele.
quero arrancar cada dor do passado. quero te fazer nova.
quero trazer luz às salas escuras.
quero brincar nas sombras.
pensando melhor, quero tudo isso bem devagar...
quero aproveitar cada segundo.
- como assim?
o olhar dela é mais de dúvida do que espanto.
- eu gosto de lâminas. elas têm milhares de brilhos dentro de si. basta refletir as luzes certas. seus olhos são assim.
- meus olhos?
- é. eu gosto.
- eu acho estranho. mas é um estranho bom.
- é. mas as lâminas cortam.
tons de carmim
sinto um pouco de frio... a coberta está jogada a meu lado, mas não quero me cobrir. olho meu corpo nu, no teto do quarto e, como sempre, não reconheço a imagem que se reflete.
ela fala algo, na ante-sala. não consigo ouvir, mas penso que a voz dela parece sempre brincar entre tons e meios-tons. sinto saudade dela, de forma súbita. há um cheiro no ar. odor de sexo. cheiro do meu corpo e do dela, misturados.
ela entra no quarto, nua. meu olhar, como sempre, pousa no meio das pernas dela. ela é perfeita em cada pequeno defeito.
segurando dois copos, ela olha para mim de forma curiosa. continuo olhando intensamente. em minha cabeça, pensamentos despem o corpo dela além da carne. quero olhar a essência dela.
ela caminha pelo quarto, passando rapidamente pela luz que entra na janela. o corpo dela parece brilhar por um instante. um anjo sem pudores, cheio de desejos.
pego o copo gelado... cheiro por um instante o vinho tinto e bebo um longo gole.
vinho sempre foi a minha bebida.
ela sorri... bebe um pouco e coloca o copo ao lado da cama. volta-se pra mim e me beija de leve. eu a abraço forte e beijo. começo a correr as mãos por seu corpo. ela move a língua dentro da minha boca e se encosta em mim.
o corpo dela é quente e macio. a boca puxa a língua em direção a ela. mordo os lábios dela, enquanto minhas mãos alcançam as coxas lisas e firmes.
ela me olha com um olhar lascivo. faz que não com a cabeça e afasta minhas mãos de seu corpo. ela se senta sobre mim e começa a se mover, com os olhos a poucos centímetros dos meus.
quero tocá-la. sinto vontade de puxá-la pra mim. quero estar inteiro dentro dela. luto contra ela, para livrar minhas mãos. ela resiste, sorrindo. livro-me por fim dos braços dela, mas algo acontece.
ouço o barulho vários segundos antes de perceber o que aconteceu. um calor estranho escorre pelo meu braço. olho-o na penumbra e percebo o sangue do corte. um caco de vidro do copo, ainda ensangüentado jazia a meu lado. não há dor e ela se move rebolando sobre mim.
levanto o braço em direção a ela, quase que por instinto. ela olha o sangue que desce por um longo instante, com os olhos arregalados. então, ela pega o braço, com delicadeza e o aproxima de si. sinto o toque dos lábios macios no corte.
ela não para de se mover sobre mim, soltando gemidos baixos.
olho para ela, enquanto ela passa o lado do corte por sobre seus peitos e abdômen.
não sei o que é, mas aquela visão despertou algo em mim. ver o corpo dela desenhado em vermelho me deixa com tesão demais.
começo a mover-me, puxando-a para mim. levantando o corpo dela no ar. meu corpo lateja de prazer.
o sangue escorreu por meu peito. ela se abaixa para lamber as gotas que se espalham.
quero-a para mim. quero-a toda. agora.
nos movemos com força. a cama range diante da violência. ela geme alto.
eu fecho meus olhos e de repente o mundo parece pintado em vermelho.
as estocadas ficam mais rápidas. ela geme cada vez mais alto, mordendo os lábios.
até que gozamos, um para o outro, forte... muito forte.
um gozo em tons de carmim.
12.11.06
início ?
a menina grita entre as pessoas:
- hipócritas! ignorantes, todos vocês! incapazes de terem idéias próprias. assassinos e ladrões!
ela sai correndo em direção à saída, com um sorriso de satisfação entre os lábios. enquanto passa pelo meio dos livros, ela os joga no chão.
a menina abre os olhos e percebe as pessoas folheando livros com ar blasé à sua volta. um senhor a observa à distância, fingindo que presta atenção no livro de arte que tem nas mãos. ela não gosta do olhar dele. não gosta do olhar que a maioria dos homens dá a ela. se sente suja.
ao invés de gritar, ela coloca o livro que tem nas mãos de novo na prateleira e sai da livraria.
10.11.06
natal
fiz umas fotos em natal, no fim de semana...
as que eu achei mais legais estão aqui: http://www.flickr.com/photos/dreamofalife/sets/72157594363349046/
cada vez mais alto... cada vez mais longe...
o balanço leva o garoto, de novo e de novo...
com o balanço do balanço, vão também os pensamentos do garoto.
para frente e para trás...
ele se lembra do pai. ele costumava empurrar o garoto no balanço, mais e mais alto e dizia que se o garoto esticasse os braços o bastante, poderia alcançar o céu e quem sabe, até tocar em uma nuvem.
o garoto vai e volta, no balanço.
ele estica os braços, quando o balanço está bem no alto.
quem sabe, se ele esticar o braço o bastante, consegue alcançar o pai, lá no céu.
- não...
- por quê?
- não consigo. acho sempre que tenho que ter tudo de uma vez.
- mas de vez em quando é bom ir com calma.
- eu sei, menina... eu ando tentando isso. mas é que parece que tem tanta coisa no mundo ainda por tentar... fico querendo demais.
- não se pode ter tudo, né?
- é... acho que não.
mas eu vivo tentando...
tsc, tsc, tsc...
9.11.06
ao luar...
a guerra havia tornado o garoto que dali saíra, anos atrás em um homem. ele pensa consigo mesmo que as batalhas pareciam levar um pouco da inocência consigo. foram tempos negros. tudo o que ele acreditava havia sido tirado dele. apenas uma coisa ele manteve consigo.
ele toca o objeto amarrado em uma corrente que carrega em seu pescoço. a forma familiar traz a seu coração um sentimento bom.
quase que instintivamente, o cavalo o leva à floresta que cerca o castelo onde o homem costumava brincar quando ainda era criança. o aroma das árvores de frutos e as flores preenche o ar, trazendo a ele a lembrança de uma noite quase perdida entre seus pensamentos.
ele se lembra de um menino que ouvia as histórias da antiga rainha, sobre os seres da floresta. uma dessas histórias se mostrou mais interessante que todas as outras. a mãe do menino contou um antigo segredo sobre a floresta.
ela contou que todas as noites as fadas e os seres selvagens se juntavam para festejar a lua. e todas as noites, as fadas brincavam entre as árvores, cantando e dançando. mas ao final de todas as noites, a rainha das fadas ia até o centro da floresta e cantava uma canção dos tempos antigos, quando era permitido que as fadas e os homens vivessem juntos, colaborando entre si. a canção era a mais bela canção e também a mais triste. e todas as fadas choravam, saudosas de outros tempos. e as lágrimas das fadas enchiam as pétalas e folhas de pequenas gotículas. e era dito que, se alguém capturasse uma dessas gotas após o primeiro raio de luar, seria o senhor da fada que havia deixado a lágrima escorrer na folha.
o garoto ouvira a história com atenção e em sua mente, um plano havia sido traçado.
pequeno momento.
do lado de fora, um rapaz acena, com o mesmo sorriso a iluminar o rosto.
eu também sorrio, no meu canto, pensando que o mundo pode ter solução, afinal.
7.11.06
sem título
não quero dormir.
algo me diz para ficar acordado essa noite.
alguém pode precisar de mim.
quero estar aqui por você.
sempre.
31.10.06
29.10.06
sempre me sabotei, quando aparecia no horizonte algum sinal de que eu poderia ser feliz de verdade. procurava a primeira oportunidade para mostrar a mim mesmo o quão ruim eu era. o quanto eu não merecia ser feliz.
e isso é bizarro, porque é o tipo de comportamento que só aumentava o vazio que eu sentia dentro de mim. sei que esse vazio é inerente à alma... sei que é possível ele nunca seja preenchido completamente, porque é esse vazio que me impulsiona a buscar coisas novas... a experimentar... a viver.
o vazio machuca. mas é uma dor conhecida.
eu tinha medo do mundo desconhecido que a felicidade poderia me proporcionar. então me sabotava, porque sempre foi mais fácil me entregar a uma dor conhecida.
não quero mais o vazio. quero experimentar. quero tentar ser feliz.
cansei de ser complicado. a simplicidade me parece ser muito mais interessante, agora.
27.10.06
crônica de uma morte anunciada (versão cinematográfica)
essa confissão não está sendo feita por causa da consciência pesada. nem é uma forma de me inserir em nenhuma cultura underground. eu a escrevi mais como uma mea culpa.
no final de semana eu fui ao cinema. o filme? "dália negra", mas isso não é o mais importante. enquanto eu estava esperando a sessão começar, comecei a divagar (coisa que nem é complicada, pode perguntar a qualquer pessoa que me conhece): sempre gostei de cinemas. de verdade, mesmo! eu achava demais, entrar naquela sala enorme, decorada muitas vezes com um certo luxo que lembrava os grandes teatros do passado, para assistir a um filme.
não! assistir não é a palavra correta. o que eu fazia era mergulhar no filme, me empolgar com a história, levar sustos, me colocar como personagem principal, chorar no fim... enfim... viver cada segundo dos quadros que se passavam na minha frente, na imensa tela branca. era algo mágico... especial. adentrar a porta do cinema era estar aberto a viver essa experiência.
e foi sobre isso que acabei divagando. cada vez mais pessoas baixam filmes pela internet e cada vez menos pessoas vão aos cinemas. não estou fazendo campanha pelos enormes estúdios, mas se continuarmos assim, logo o negócio cinematográfico não dará tanto dinheiro assim, para sustentar as enormes salas de exibição.
dentro de algum tempo, estaremos todos felizes em baixar centenas de filmes de centenas de fontes diferentes, todos os dias. muitos serão bons, muitos ruins e tenho certeza de que muitos deles mudarão a nossa vida.
mas... eu não consigo pensar que a magia foi deixada para trás. não importa o conforto, o tamanho das nossas tv's, e o quanto o filme que estamos assistindo me cativa, eu vou sentir falta das salas de exibição.
é... eu baixo filmes pela internet.
e música também...
25.10.06
20.10.06
19.10.06
13.10.06
12.10.06
the catcher
e... putz! só o artigo já fez com que eu me identificasse muito com a história!
ok. eu estava precisando muito ler um livro desses que modifica a vida da gente.
e acho que o apanhador é esse livro.
2
a expressão dele era quase de quem estivesse sonhando acordado. distante, olhando para o nada.
ela observou os olhos dele, longamente. queria de alguma maneira dizer a ele que o caminho não seria assim tão difícil.
- acho... vc, já foi bem distante, aqui.
ele sorriu.
- eu quero mais. ahhh... sempre quero mais!
- acho que é melhor assim. irmos com calma. sempre que me deixei levar, acabava numa cama, pensando que deveria haver mais, sentir mais.
ele a olhou, de forma intensa. um olhar de reconhecimento.
- eu entendo. já senti isso.
- você já amou alguém?
ele fita o chão, por um segundo, como se lembrasse de algo.
- já. e foi como aqueles amores de filmes antigos.
- e como é?
- você se sente totalmente à vontade com a pessoa e sabe que ela se sente assim com você também. é como se ela carregasse um pedaço de você que não está contigo. e a pessoa pode ter todos os erros, mas o que você sente sobrepuja isso.
- não sou boa em perdoar erros.
- eu também não. não mesmo. mas quando eu amo alguém, eu me entrego de uma maneira absurda.
ela fica quieta por um tempo, olhando a noite com um olhar um pouco triste.
- acho que nunca amei...
ele a abraça, apertando-a forte contra si, depois beija-a calma e longamente, fazendo carinhos no rosto dela. e então olha-a dentro dos olhos.
- eu quero fazer você feliz. quero que se sinta livre de todos os erros de antes. quero que se sinta leve. e quero que se sinta amada.
ela chora, encostada nos ombros dele. não é um choro ruim... é algo que ela não consegue explicar... mas, naquele instante, ela não gostaria de estar em nenhum outro lugar do mundo.
8.10.06
uma noite
a praia estava completamente vazia, os últimos pássaros sobrevoavam o litoral
o barulho das ondas trazia uma calma diferente.
e
três momentos
bocas, respiração, transpiração e pernas.
sexo, sexo, sexo
a palavra não descreveria
era mais um turbilhão de líquidos e pele e desejo.
terminou rápido e forte, extasiante e cheio de força.
a segunda vez foi com o coração,
carinhos e frases no pé do ouvido,
brincadeiras e mãos percorrendo o corpo.
era um poema, era uma promessa.
terminou em suspiro e sorriso e abraço.
a terceira...
a terceira foi a vez da alma,
beijos que ultrapassavam a carne, olhares que queimavam por dentro,
tocaram-se onde ninguém havia alcançado antes, em silêncio, orquestrados pelos gemidos.
era tudo, era o mundo inteiro, cada parte da eternidade.
e terminou em amor.
limiar
passo após passo, ele sente o vento soprar-lhe aos ouvidos.
os pés alinham-se, entre a terra e o vazio.
passo a passo, ele caminha no limite do abismo, testando a si mesmo.
há anos ele faz isso. há anos, ele deseja perder o rumo de si mesmo.
e ele caminha, passo a passo, testando a si mesmo.
mas hoje, hoje algo acontece.
um sussurro... uma voz diz seu nome... uma mão toca-lhe delicadamente o ombro.
hoje, os passos se distanciam lentamente do limiar...
seus pés alcançam um terreno mais seguro.
ele abre os olhos, que se inundam com a visão de um mundo diferente, cheio de novas cores...
eu escuto, imaginando as caras que ela faz. sorrio, com o ouvido encostado no telefone.
solto um "hummm...", quase sem querer.
ela pára, acho que tentando imaginar o que eu estou pensando.
eu fico sem jeito. quero falar, mas me pego pensando coisas demais...
"calma, marcio", penso... "vai haver uma hora pra isso tudo."
e no itunes, bowie canta "little wonder".
1.10.06
strangers in the night
eles se beijam. as mãos percorrem os corpos, apertando-se um contra o outro.
eles desejam estar sozinhos...
e desejam um ao outro.
ruas desertas
conversam sobre si mesmos e sobre o mundo. ela tem uma urgência em falar sobre si mesma, mas algumas palavras simplesmente não saem.
ele a observa, prestando atenção no rosto dela, encantado com o brilho que ela emana dos olhos. percebe uma confusão em seus pensamentos, como se ela estivesse tentando lhe dizer um monte de coisas, mas não se importa muito com isso.
eles entram em uma padaria... ela pede um café e ele bebe água mineral. conversam sobre suas vidas, querendo conhecer mais, um do outro.
aos poucos o dia fica claro e eles decidem ir embora.
eles se abraçam, longa e fortemente. ela olha para ele em silêncio. e se beijam carinhosamente.
ele quer que ela fique. ela quer que ele peça para ela não ir.
o dia amanhece um domingo cinza.
eles vão para casa, cheios de pensamentos e sentimentos novos.
27.9.06
23.9.06
ele deseja as vestes do paraíso
tecidas com a luz do ouro e da prata,
o azul e o sombrio e as vestes negras da noite
e a luz e o crepúsculo,
eu espalharia as vestes sob seus pés.
mas, sendo eu pobre, tenho apenas meus sonhos.
tendo eu espalhado meus sonhos sob seus pés,
pisa suavemente,
porque caminhas sobre os meus sonhos.
tradução: marcio carvalho
22.9.06
20.9.06
o sol já estava alto no céu. dormira na praça. não. desmaiara na praça. a dor do seu corpo o faz lembrar que havia apanhado de novo dos caras mais velhos e eles haviam roubado o dinheiro que ele havia conseguido.
havia um gosto de sangue velho em sua boca. o olho parecia estar inchado, mas ele não se importava muito. a fome doía mais dentro dele do que qualquer outra dor física. a fome corroía seu corpo. não o deixava pensar, não o deixava.
ele levanta, caminha até a rua, olhando as pessoas. precisava comer algo. qualquer coisa.
mas ele era invisível. os homens e mulheres passavam a sua volta, ignorando os olhos que pediam atenção. aprendera desde cedo que as crianças de rua eram invisíveis. eventualmente, um dono de loja ou um policial o via, quando tentava roubar algo. mas era invisível quase o tempo todo. por alguma razão que ele não sabia nomear, sentia um vazio dentro de si, quando pensava que não podia ser visto.
vira uma vez outro menino, mais novo que ele, morto em uma calçada do centro. as pessoas passavam por ele como se passassem por um animal.
era isso que ele sentia. sentia que para eles era como um animal. menos que isso, ainda.
pediu, implorou por esmola, mas não ganhou nada. depois de 2 horas, sentou-se junto à marquize de um velho edifício e, com a cabeça entre as mãos, deixou duas lágrimas escaparem por seus olhos. chorou de raiva. chorou de frustração.
e acima de tudo, chorou de fome.
não percebeu que uma menina sentou ao seu lado. ela usava uma camiseta branca, muito maior que o tamanho dela e que agora era de uma cor indefinida. a cor das ruas.
ela deu a ele uma garrafa plástica. no fundo, uma cola espessa. ele cheirou, sem falar nada. conhecia ela.
eles dormiam juntos, às vezes, nas ruas. cuidavam um do outro, quando podiam.
o garoto fechou os olhos, embalado pela onda da cola.
sonhou com a menina. estavam juntos, em um lugar limpo.
os dois riam. e eram felizes.
mas ele abriu os olhos.
os dois se abraçaram, invisíveis para o resto do mundo.
de um jeito torto, da única maneira que os dois conheciam, eles experimentaram algo que as outras pessoas chamavam de amor.
não... não estou falando em sexo.
tá. estou falando de sexo também, mas não só de sexo. eu sou viciado em começar coisas.
amo a sensação de estar estreando algo, de estar fazendo aquilo pela primeira vez. amo sentir o frio na barriga de antecipação. adoro sentir o relaxamento que vem depois que algo feito pela primeira vez termina bem.
mas não sou bom em continuar coisas. isso é algo que ainda estou aprendendo.
eu era do tipo que construiria um castelo, pedra por pedra, só para poder vê-lo terminado. e então virar as costas e procurar outro local interessante para construir um castelo. e recomeçar.
estou aprendendo aos poucos a cuidar do que me é importante. e não apenas virar as costas e recomeçar.
algumas vezes há diversão em apenas cuidar de algo.
17.9.06
dream on
as your bony fingers close around me
long and spindly
death becomes me
heaven can you see what i see
hey you pale and sickly child
you're death and living reconciled
been walking home a crooked mile
paying debt to karma
you party for a living
what you take won't kill you
but careful what you're giving
there's no time for hesitating
pain is ready, pain is waiting
primed to do it's educating
unwanted, uninvited kin
it creeps beneath your crawling skin
it lives without it lives within you
feel the fever coming
you're shaking and twitching
you can scratch all over
but that won't stop you itching
can you feel a little love?
can you feel a little love?
dream on dream on
blame it on your karmic curse
or shame upon the universe
it knows its lines
it's well rehearsed
it sucked you in, it dragged you down
to where there is no hallow ground
where holiness is never found
paying debt to karma
you party for a living
what you take won't kill you
but careful what you're giving
can you feel a little love?
can you feel a little love?
dream on dream on
can you feel a little love?
can you feel a little love?
dream on dream on
dream on dream on
amor eternno
ele se cala diante do sorriso dela. não porque parece desdenhoso, mas porque o desarma no primeiro segundo.
e fica em silêncio, enquanto ela pega um cigarro despretensiosamente e o acende.
é em silêncio que ele observa o cabelo dela cair sobre o rosto.
e é em silêncio que ele deseja que a noite não acabe nunca.
10.9.06
recomeço
ele respira ofegante, olhando para tudo.
e começa a juntar novamente os pedaços.
o elenco é um tanto grande e eu não gosto muito do protagonista.
mas, acho que ele precisa de um par romântico.
se ao menos eu pudesse ler o roteiro.
não! na real, eu queria ter acesso ao roteiro para mudar algumas partes do passado do protagonista.
personagens complicados me parecem um tanto fáceis de se prever. sempre terminam se enrolando.
é. reviravoltas. preciso de reviravoltas no roteiro.
e sem dúvida, de uma luz melhor.
mas eu gosto da trilha sonora...
negócio arriscado
os tiros ainda ecoam no beco. o homem de sobretudo segura a arma no ar, como se fizesse pose para uma foto.
a chuva escorre do corpo caído. uma poça de água e sangue se forma no chão. olhos vidrados olham em direção ao céu.
o homem joga o resto do cigarro fora e guarda a arma calmamente. sente o cano ainda quente, no coldre junto ao peito.
ele fecha o sobretudo e caminha em direção a um carro. a chuva cai violentamente, como se deus quisesse lavar o mundo de tudo o que é errado.
"não ia sobrar muita gente", o homem pensa.
ele entra no carro e pega algo no porta-luvas. olha o distintivo da polícia por um segundo e o recoloca dentro do bolso da camisa.
um celular toca. o homem atende:
"eu."
"e então?"
"já foi."
"ótimo. nos encontramos mais tarde?"
"ok. mas esse foi o último."
"a gente conversa sobre isso depois. no lugar de sempre?"
"é. trás a grana."
"claro. até."
as luzes dos faróis tentam iluminar a noite, mas a chuva não deixa.
o homem sai com o carro, sabendo que o corpo que está jogado no beco não foi o último. mais um corpo espera por ele num restaurante, com uma mala cheia de dinheiro.
natascha
as paredes do quarto se fecham cada vez mais. ela não sabe se é dia ou noite, não há janelas. não há saída.
as paredes se fecham sobre natascha. ela luta contra a exaustão e o sono.
ela chora em silêncio. já não tem mais voz.
as mãos estão machucadas de bater na porta. sua mãe não pode ouvir. ninguém pode.
as paredes se fecham e ela não consegue respirar.
medo.
na primeira noite (era mesmo uma noite?) ela pediu para fugir.
depois pediu a deus para morrer.
deus não a ouviu.
natascha está sozinha.
não. quando a luz do lado de fora do quarto se acende, ela sabe que não está sozinha.
ele. ele está lá.
a porta se abre e a luz invade o minúsculo quarto.
cega, ela se arrasta para a parede contrária.
não é longe o bastante.
natascha não pode escapar.
juro que hoje queria falar de outra pessoa, outra vida.
mas aí percebo que a única pessoa que conheço de verdade sou eu (e mesmo assim, ainda me surpreendo). e a única vida que sei como é vivida é a minha.
e eu estou aqui lutando contra uma vontade enorme de cavar um buraco no me quarto e passar alguns anos por lá.
nha... coisas do domingo. não liguem...
apinhados como bichos, no caminhão
que chora e range enquanto se afasta.
ele ficou com as irmãs e a mãe.
o homem que ele chama de pai se foi
o garoto que ele chama de irmão também.
nos meses seguintes, suas únicas companheiras são
a mãe
as irmãs
e a fome.
ele vai com a irmã mais velha todas as manhãs, buscar água
água com cor de terra
e gosto de terra
mas que os faz sobreviver mais um dia.
o sertão tem a cara da morte,
usa uma máscara de caveira de boi.
um dia, sua irmã mais nova morreu
assim, assim...
parou de se mexer (não chorava há alguns dias),
desistiu de lutar contra a fome e a sede.
a mãe a enterrou no fundo do quintal.
a morte é companheira do menino.
ele conversa com ela todos os dias, quando vai dormir.
o menino houve a mãe falar de deus e do diabo,
do céu e do inferno.
ele não precisa de explicações,
sabe bem em qual dos dois está.
a grande lua cheia ainda reina, mas as nuvens no horizonte começam a se avermelhar, antecipando a presença de uma manhã.
a paisagem se move depressa, do lado de fora da janela do carro. as luzes da cidade vão sa afastando. o homem observa e não pode deixar de ficar impressionado com a beleza dessa simplicidade.
a cidade se torna onírica, no final da madrugada. não há pessoas nas ruas, tudo parece deserto.
ele ouve o sussuro da cidade que ainda dorme e guarda seus segredos.
os primeiros raios de sol pintam de dourados os edifícios. ao longe, o mar parece competir com o sol que se levanta, espalhando luz por todos os lados.
o homem pensa consigo mesmo que o amanhecer e o anoitecer são as horas que ele mais gosta. elas têm um sentido quase religioso de mudança.
a paisagem se afasta rápido, do lado de fora.
dentro do carro, um homeme sorri.
9.9.06
o cabelo ainda cheira à shampoo de motel.
ela olha para o teto.
fecha os olhos.
não consegue dormir.
os pensamentos começam a desenrolar, sem freio. ela nunca se importou com o sexo. achava bom, mas não importava tanto fazer ou não. para os caras, sempre foi algo importante, então ela se deixava entregar. não sentia o bastante pra achar bom ou ruim. mas era o bastante pra saciar a vontade do corpo.
mas agora, tem algo diferente.
essa noite, o que ela teve foi muito pouco. desejou que fosse diferente. desejou que fosse com alguém diferente.
desejou sentir mais.
dancefloor
sentado em um canto, ele observa ela dançar.
o corpo dela parece ter sido desenhado para a pista de dança. cada curva esculpida pelas batidas, cada movimento delineado pelos mixers...
ele olha as luzes desenharem a silhueta dela e seus olhos brilham.
ele percebe os outros olhares para ela. sabe que ela atrai a atenção de outros homens e mulheres.
mas ele gosta assim.
faz mais doce o gosto do beijo, quando ela vêm lhe procurar, mais tarde.
8.9.06
profecia
o feiticeiro gira, em seu transe, em volta do fogo.
em seu sonho, ele toca as estrelas, e se encontra com os deuses.
as planícies e as montanhas são a pele do feiticeiro. os rios, o sangue que corre em suas veias... as florestas são seus cabelos...
o mundo e ele são um só.
e ele recebe a mensagem.
a luz do sol entra pelas amplas janelas da sala onde ela treina para a vida.
ela lembra de um soldado de chumbo que a observava.
a bailarina gira no ar.
e os pensamentos giram junto.
o mundo está mudando. maior e mais lotado de pessoas.
mas, no silêncio da sala de dança, ela se pega pensando no soldado.
limites
só pra perceber que procuro você em todos os lugares que passo.
estranho? é. você causa essas coisas estranhas em mim.
trás novas cores, desejos que eu pensava ter enterrado bem fundo afloram, me vejo querendo mais e mais.
e não sinto haver limite.
não sinto ter limites com você.
ainda procuro sua boca, em sonho.
ainda vejo seus olhos em outros olhos.
seu cheiro me toma o pensamento.
e não parece haver limite.
1.9.06
e prefiro sofrer por ter tentado, por ter vivido algo do que nunca ter sentido nada.
mas é que às vezes parece que não tenho mais tanto fôlego pra isso.
cada vez é mais custoso, voltar a me imaginar livre para sentir algo novo novamente.
os anos e as decepções cobram seu preço.
a inocência morre cedo demais.
mas a vida segue, com um pouco menos de cor.
novo dia...
mas é um livro solitário e triste.
lá fora o dia avança, cinza e silencioso
imagino um mundo sem ninguém
e quase me sinto feliz por isso.
em seu quarto escuro
a menina dorme um sono sem sonhos,
em uma vida sem sonhos,
em um mundo sem sonhos.
eu quis mostrar possibilidades,
tecer sonhos,
criar novos mundos.
mas a realidade é um muro de pedra
e eu estava correndo rápido demais.
minha poesia é confusa,
minha mente está confusa
e agora, essa é toda a clareza de que sou capaz.
encontrando alívio em pequenas cápsulas de felicidade industrializada e sexo casual...
tá... pra você, ouvir música até tarde, comendo chocolate e falando besteiras deve ser mais interessante que sexo.
um dia, menina, te mostro umas coisas...
aí vamos ver se vc ainda vai ficar por aí sem sentir nada.
momento sarcástico da semana
agora só preciso fazê-la sentir o mesmo...
31.8.06
lirismo do beco
as letras feitas com spray pareciam velhas demais naquele muro. ele se perguntava se elas teriam durado mais do que o sentimento que elas proclamam...
o ar estava um pouco frio e os carros passavam por ele com seus faróis acusadores. ele gostava de se sentir anônimo enquanto caminhava, à noite. a luz dos veículos trazia ele à realidade da vida rápido demais.
sentia o resto do gosto da bebida. estava se tornando um hábito, nos últimos meses. "que ótimo... arrumando novos vícios aos trinta anos. perfeito!"
ele mesmo achava estranho, mas ele gostava de andar pelas ruas antigas e sujas do rio. ele dizia que combinavam com a maneira com a qual ele via a sua própria alma.
"há uma beleza poética na tristeza. uma beleza que vem das coisas que poderiam ter sido, mas se desfizeram. uma beleza que vem dos desgostos, da perda e da dor. a dor é bela, se você se afasta o bastante para apreciar. há beleza em cada coisa da vida. basta ter os olhos certos."
em cada poste de iluminação pública enferrujado, em cada esquina transformada em casa por um mendigo, em cada muro pixado, ele via um pedaço de suas próprias experiências.
"o lirismo do beco é construído de sujeira e sonhos destruídos. mulheres abandonadas e prostitutas baratas. a falta de perspectiva cria uma realidade própria, contundente e cheia de detalhes que sobrecarregam os sentidos. a certeza de não ter futuro algum liberta a alma."
ele caminha, ouvindo sambas antigos em sua cabeça, em direção ao amanhecer.
27.8.06
24.8.06
vingança
o corredor escuro tem cheiro de vômito. baratas e outros vermes se arrastam pelo chão enquanto ele se afasta. o disparo da arma ainda parece ecoar, distante.
ele não se preocupa, naquele lugar, ninguém seria testemunha. não existem almas boas no inferno.
o elevador soa como se um animal morrendo antes de começar a se mover em direção ao térreo. dentro, a luz pisca erraticamente.
ele fecha os olhos. ele quer não sentir nada.
quer sentir somente a paz daqueles que estão prontos para morrer.
mas a lembrança do corpo dela na mesa do necrotério ainda está quente demais.
o sangue ainda está fresco demais.
o homem grita de ódio, de dor. soca a parede do elevador, que urra como um dinossauro de metal.
a luz se apaga.
a porta se abre.
e de dentro do elevador, algo sai. não é o homem que entrou há pouco. nem ao menos se parece um homem, agora.
mas ele quer vingança. e a arma junto ao seu peito está carregada...
21.8.06
não
em uma definição
em uma explicação
em um mundo
em uma situação
digo o que quero
mesmo que seja o contrário
do que prometi que nunca faria
ou diria
porque eu não sou apenas eu
eu sou cada palavra que já disse
e todas as que ainda não nasceram
eu sou o que você ama
eu sou o que você teme
sou apenas eu
e isso é pouco
e ainda assim verdadeiro
sou anormalmente normal
sou humano
animal
racional?
não me defino em palavras
não conseguiria
ainda assim estou aqui
escrevendo
o que sou.
ladeira
nem de suas palavras vazias
mas não consigo viver sem elas
e não consigo viver sem você
uma noite eu disse que você seria minha ruína
aquela noite eu construí um epitáfio para mim
sim. você será minha ruína,
me entrego em sacrifício por você
pois assim eu me liberto
da minha prisão,
dos meus conceitos,
e reencarno
novo
limpo
você ama o momento
eu insisto em querer me tornar cada momento seu
quero sentir que há algo que brilha em você
por trás da fumaça do cigarro.
balas verdes em paralelepípedos
eu jogo
eu desisto
volto novamente, novo, inspirado
me torno algo novo a cada dia
pois a cada dia você me mata um pouco.
não. não quero um pouco de atenção
quero ser apocalipse, quero ser a atração principal
destrua-me
desata-me
decifra-me
pois eu devoro.
inquietude
daqueles que se escondem atrás de verdades não ditas
o telefone me olha, impassível
em silêncio, ele me conta tudo o que não foi dito
o copo vazio ainda cheira à álcool e ódio
e solidão
o sol nasce novamente lá fora
e eu morro um pouco novamente, aqui dentro
não há fim para o mundo
há um fim para mim
há um fim em mim
sem fim, o mundo continua
após a morte
estou cansado das pessoas
porque as conheço demais
não me canso de quem não conheço
mas infelizmente, preciso tê-las
preciso conhecê-las
para largar
exercício de desapego eterno
apegar-se ao que me dá enjôo.
quinze minutos com bukowski
"melancolia
a história da melancolia
inclui todos nós.
eu, eu escrevo em lençóis sujos
enquanto olho para paredes azuis
e nada.
eu já me acostumei tanto com a melancolia
que
eu a reçebo como uma velha
amiga.
eu terei agora15 minutos de aflição
pela ruiva perdida,
eu digo aos deuses.
eu faço isso e me sinto bastante mal
bastante triste
então eu levanto
LIMPO
apesar de que nada
está resolvido.
isso é o que eu ganho por chutar
a religião na bunda.
eu deveria ter chutado a ruiva
na bunda
onde o cérebro e o pão e
a manteiga dela
estão...
mas, não, eu me senti triste
por tudo:
a ruiva perdida foi apenas outro
rompimento em uma vida
de perdas...
eu ouço a bateria no rádio agora
e sorrio.
há alguma coisa errada comigo
alem
da melancolia."
charles bukowski
"A Genialidade Da Multidão
Há bastante deslealdade, ódio,
violência,
Absurdo no ser humano
comum
Para suprir qualquer exército em qualquer
dia.
E O Melhor No Assassinato São Aqueles
Que Pregam Contra Ele.
E O Melhor No Ódio São Aqueles
Que Pregam AMOR
E O MELHOR NA GUERRA
--FINALMENTE--SÃO AQUELES QUE
PREGAM
PAZ
Aqueles Que Pregam DEUS
PRECISAM de Deus
Aqueles Que Pregam PAZ
Não têm paz.
AQUELES QUE PREGAM AMOR
NÃO TÊM AMOR
CUIDADO COM OS PREGADORES
Cuidados com os Sabedores.
Cuidado
Com Aqueles Que
Estão SEMPRE
LENDO
LIVROS
Cuidado Com Aqueles Que Detestam
Pobreza Ou Que São Orgulhosos Dela
CUIDADO Com Aqueles Que Elogiam Fácil
Porque Eles Precisam De ELOGIOS De Volta
CUIDADO Com Aqueles Que Censuram Fácil:
Eles Têm Medo Daquilo Que
Não Conhecem
Cuidado Com Aqueles Que Procuram Constantes
Multidões; Eles Não São Nada
Sozinhos
Cuidado
Com O Homem Comum
Com A Mulher Comum
CUIDADO Com O Amor Deles
O Amor Deles É Comum, Procura
O Comum
Mas Há Genialidade Em Seu Ódio
Há Bastante Genialidade Em Seu
Ódio Para Matar Você, Para Matar
Qualquer Um.
Sem Esperar Solidão
Sem Entender Solidão
Eles Tentarão Destruir
Qualquer Coisa
Que Seja Diferente
Deles Mesmos
Incapazes
De Criar Arte
Eles Não Irão
Compreender Arte
Eles Vão Considerar Sua Falha
Como Criadores
Apenas Como Uma Falha
Do Mundo
Incapazes De Amar Completamente
Eles Vão ACREDITAR Que Seu Amor É
Incompleto
E ELES VÃO ODIAR
VOCÊ
E Seu Ódio Será Perfeito
Como Um Diamante Brilhante
Como Uma Faca
Como Uma Montanha
COMO UM TIGRE
COMO Cicuta
Sua Mais Fina
ARTE"
20.8.06
não quero
só preciso de alguém que viva por mim,
que queira estar junto de mim, me abraçando.
não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame,
não me importando com que intensidade.
não tenho a pretensão de que todas as pessoas
que gosto, gostem de mim.
nem que eu faça a falta que elas me fazem,
o importante para mim é saber que eu,
em algum momento, fui insubstituível.
e que esse momento será inesquecível.
só quero que meu sentimento seja valorizado.
quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto,
mesmo quando a situação não for muito alegre.
e que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.
quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém.
e poder ter a absoluta certeza de que esse
alguém também pensa em mim quando fecha os olhos,
que faço falta quando não estou por perto.
queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras,
alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho.
que me veja como um ser humano completo,
que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona,
que dê valor ao que realmente importa,
que é meu sentimento e não brinque com ele.
e que esse alguém me peça para que e nunca mude,
para que eu nunca cresça,
para que eu seja sempre eu mesmo.
não quero brigar com o mundo,
mas se um dia isso acontecer,
quero ter forças suficientes para mostrar
a ele que o amor existe.
que ele é superior ao ódio e ao rancor,
e que não existe vitória sem humildade e paz.
quero poder acreditar que mesmo
se hoje eu fracassar, amanhã será
outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por
palavras pessimistas. que a esperança nunca me
pareça um "não" que a gente teima em maquiá-lo
de verde e entendê-lo como "sim".
quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa,
de poder dizer a alguém o quanto ele é especial
e importante para mim, sem ter de me preocupar com terceiros.
sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão.
que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas,
que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim.
e que valeu a pena ! ! !
19.8.06
18.8.06
my art is...
nas sombras que você tem medo de encarar
minha arte é efêmera como as sombras
e perene como o universo
nos lugares vazios é onde minha arte mora
e tem nomes que não foram inventados
minha arte tem o gosto de sexo
a cor do sangue
minha arte é sutil
minha arte é fútil
minha arte encanta o seu olhar
enquanto arranca um pedaço da sua alma
minha arte fala da solidão
da falta, da espera
minha arte fala da esperança
minha arte fala da morte
minha arte é egoísta
e quer sempre mais
minha arte é para ser vista
tocada, sentida, amada
minha arte.
16.8.06
13.8.06
la petit mort
- tá bem. e vê se não morre, ok?
- não! morro não. prometo.
- tá bem. bom...
- que foi?
- ah! se quiser, a gente pode morrer aos poucos, juntos. (sorriso)
desejos e fomes nascem dentro de si, mas ela os afoga com álcool. ela não quer crescer.
eternamente criança, eternamente irresponsável.
ela cria uma barreira dentro de si. nada do que está fora entra. nada do que está dentro pode sair.
ela pede ajuda. mas não quer ajuda.
ela estende a mão, só para retraí-la, um instante depois.
ela ama alguém, em seu silêncio velado. ela quer viver algo, mas não aceita perder nada do que tem. mesmo não percebendo que pode ganhar.
ela luta contra si.
mas não há como vencer.
a fool's journey.
ela olha para as representações desenhadas no papel. pensa na idade do deck, pensa no tempo e energia gastos para transformar aquelas cartas em algo que representasse a própria vida.
à sua frente, inicia-se a jornada de um tolo pela vida.
em sua busca, ele aprende aos poucos os segredos do mundo, apaixona-se, cresce, perde tudo, se torna aprendiz e professor, morre e ressucita, se torna a própria existência.
a mulher observa o desenho formado pelas cartas à sua frente.
por alguns segundos, ela se torna o tolo.
e, de alguma forma, ela compreende a jornada.
biblioteca
cada um de nós é um volume na enciclopédia da existência. preenchemos as páginas do livro de nossas experiências a cada dia, cada palavra, cada ato que tomamos, cada decisão que deixamos para trás se transforma em um parágrafo do livro.
até o dia em que todas as histórias sobre você se acabam, o livro é fechado e recolocado na estante, preenchido com sua vida.
como em toda grande biblioteca, os volumes são variados. alguns são extensos, cheios de detalhes sórdidos e lugares exóticos. outros são como memorandos, preenchidos em meia página, falando sobre a importância da higiene pessoal.
mas cada um é único.
10.8.06
desejo de mais
quero os segredos que seu sorriso dissimulado guarda.
quero as dores que o seu peito carrega.
quero cada detalhe do seu corpo gravado em minha mente, em minhas mãos e em minha boca.
quero abrir o seu peito com uma lâmina que você não conhece.
quero fazer seu coração parar e bater novamente.
quero de você o que é imoral, o que é baixo.
quero ser o seu céu, o seu paraíso.
quero cada desejo seu transformado em realidade a dois.
quero ver você filosofar, bêbada, em um bar com vinho barato.
quero ver você pedir mais.
quero ver você chorar.
quero ver você sorrir com olhos brilhantes.
quero ver você me pedir para ficar.
quero ver você gritar para eu ir embora.
quero seu amor.
quero todo o seu amor.
quero o que é vivo em você
quero fazer você morrer um pouco.
quero te fazer perder o ar.
quero te fazer respirar algo novo.
quero delirar ao seu lado.
quero ver seus sonhos.
quero te ajudar a sonhar.
quero amar na chuva.
quero te fazer gritar meu nome.
quero você.
quero tudo em você.
quero agora.
e quero mais.
a dança
ela hesita, um segundo, antes de decidir se divertir, deixando-se levar.
eles rodam no salão de baile vazio. somente os dois dançam, a noite é só dos dois.
o homem dá uma velocidade nova aos movimentos, uma cadência diferente, alternando posições, enquanto trás lentamente o corpo da parceira para mais perto de si.
ela sorri, confiante de si própria, conhecedora da arte de seduzir com seu corpo e seu olhar. ele, no entanto parece olhar além dos olhos dela. parece abrir um buraco em todas as barreiras que ela criou em si. ela aos poucos fica fascinada com o olhar. ela deseja mais.
e ele gira com ela, sem parar, não dando tempo dos pensamentos dela se assentarem.
ele guia a música, agora. ele dá o ritmo, ele é o maestro desse número de dois.
9.8.06
want
your mind won't let you say that you want me
your mind won't ever, never let you say what you want
you howl and wail like a banshee
still your mind wont ever let you say
your mind won't let you say that you want me
your mind won't ever, never let you say what you want
my little tired devotee
your mind don't even let you feel
quivering now, shivering now, withering
your mind won't let you say that you're
wondering now, pondering now, hungering
won't let you say that you're
questioning, wavering, weakening
you mind won't let you say that you're
hearkening, listening, heeding me now
won't let you say that you want
your mind won't let you say that you want me
your mind won't ever, never let you have what you want
i feel your hunger to taste me
still your mind won't ever let you say
your kind is just the type that should use me
but your mind won't seem to let you have
the opportunity to abuse me
your mind won't even let you feel
quivering now, shivering now, withering
your mind won't let you say that you're
wondering now, pondering now, hungering
won't let you say that you're
questioning, wavering, weakening
you mind won't let you say that you're
hearkening, listening, heeding me now
won't let you say that you want...me
savor the addiction, savor the affliction, savor me
savor the addiction, savor the affliction
savor the addiction, savor the affliction
savor me, savor her mind
your mind won't let you say that you want me
because your mind won't let you say that you want me
your mind won't let you say that you want me
because your mind won't let you say
that you want me to want me
your mind won't let you say
that you want me to want me
mind won't let you say
that you want me to want me
won't let you say
that you want me to want me
what do you want?
6.8.06
lost hope
ele virá um dia, buscá-la. não será lindo, não virá num cavalo branco, tampouco será um príncipe.
mas ele será diferente de todos os outros.
ela sonha com os poemas que ele escreve, enquanto escuta a promessas de bocas com hálitos de álcool e ácido.
ela se guarda para ele, enquanto se entrega a outros homens por dinheiro.
para ele, ela será sempre virgem. há um lugar dentro dela que nenhum homem além dele jamais irá alcançar, com beijos ou socos.
ela sonha com os presentes que ele dará, enquanto sente o veneno de cor clara entrar em suas veias.
um dia, ela acorda.
e pela primeira vez, ele não está lá.
nunca mais estará.
canção do apocalipse
sua companheira inseparável
na seca do seu mundo.
o nordestino canta a seca
a terra rachada,
a fome velada,
canta o coração com sede.
o nordestino canta a sede,
a sede da carne,
a sede da alma,
a saudade dos que se foram.
o nordestino canta a saudade,
a falta do verde,
a saudade da lágrima
derramada do céu.
o nordestino canta o apocalipse;
ele espera pelo fim;
canta a certeza da vinda do paraíso
pois o inferno está logo ali.
cada prédio, cada barreira, cada promessa vazia.
e quero reconstruir tudo, com novas cores.
quero ser a nêmese de tudo o que foi chamado de convencional.
e quero ser o sonho de crianças mortas.
e quero ser o som de uma guitarra, durante a madrugada.
quero tudo.
e quero mais.
levantando a poeira, deixando marcas, remexendo o que havia sido jogado ao chão.
o tornado em tons de vinho aumenta de intensidade, sua força arrancando pedaços dos muros. quebrando barreiras antigas, ele atravessa os limites da minha alma.
e se intensifica ainda mais com o que encontra lá. ganhando nova força, o fenômeno se transforma em algo novo. tocando cada pedaço, cada parte, ele mistura suas cores às cores dali.
algo novo nasce.
de coisas egoístas
- como assim? o amor não é entrega? não é confiança?
- é! é sim. na superfície.
- como assim?
- ah... assim: é claro que, quando você ama, você quer bem à pessoa. você quer ficar junto, fazer coisas para aquela pessoa.
- sim. isso não é se doar?
- é... mas qual a razão disso? não é só fazer o outro se sentir bem. o que acontece é que quando você ama, projeta no outro a sua própria felicidade. a outra pessoa fica sendo, de uma maneira ou de outra, a sua referência para você mesmo. e então, o que você faz e cuidar de você mesmo!
- ah! não. não acho isso. é possível se sentir bem por fazer bem aos outros.
- tá. VOCÊ se sente bem por fazer algo por outra pessoa. nós somos animais, sabe? mesmo lá no fundo, escondido por milênios de "sociedade", somos animais. você faz bem a alguém porque você também se sente bem com isso.
- ok! você quer acabar com todo o romantismo.
- não, não! eu só afirmo que por baixo de tudo o amor é um sentimento egoísta. eu adoro fazer coisas bobas e românticas, mesmo sabendo que muitas vezes as faço para que eu me sinta bem.
- tá. então o amor é fruto do egoísmo humano?
- é! e eu sou um dos maiores egoístas!!!
2.8.06
a luz fraca da cidade ilumina um quarto pequeno e sem cor.
a lâmina brilha por um segundo. e o homem se perde no brilho, imaginando outra vida, outro lugar.
os sons da cidade abafam o barulho fraco da respiração dele.
a lâmina dança, firme e cheia de si.
o homem se lembra de alguém com olhos verdes e cabelos cor de fogo.
algo escorre quente e viscoso por seu braço.
a lâmina dança, cortando.
o homem escreve um nome com a lâmina.
o homem a observa sumir por entre as árvores secas do inverno. por um segundo vê o brilho de olhos de raposa ao longe... e então ela some.
no chão, aos pés dele, no local onde a raposa estava há pouco ele vê um objeto.
ele apanha uma pequena chave.
ela abre as portas de um lugar que só a raposa conhece.
1.8.06
desconstrução
não sei o que vai acontecer no fim.
não sei o que vai sobrar, não sei o que vai ter que ir embora.
sei que está sendo, no mínimo, divertido.
poema de sentidos
você é vento
que dança por mim,
que assobia sussurros antigos em meus ouvidos,
me provocando.
eu sou corpo
você é lâmina
que corta o pulso
que me mata em seu fio
me libertando.
eu sou noite
você é estrela
todas as estrelas
que me cercam,
iluminam meus segredos.
eu sou calmaria
você é tempestade
que me transforma
que transtorna
limpando as sujeiras do mundo.
eu sou silêncio
você é som
o grito,
o gemido,
dançamos uma melodia de nós mesmos.
eu sou fogo,
e você é fogo
nos consumimos,
nos alimentamos um do outro
até não sobrar mais nada.
até sobrarmos nós dois.
26.7.06
porque hoje essa música me perseguiu...
aprendi a esperar, mas não tenho mais certeza
agora que estou bem, tão pouca coisa me interessa
contra minha própria vontade sou teimoso, sincero
e insisto em ter vontade própria
se a sorte foi um dia alheia ao meu sustento
não houve harmonia entre ação e pensamento
qual é teu nome, qual é teu signo?
teu corpo é gostoso, teu rosto é bonito
qual é o teu arcano, tua pedra preciosa
acho tocante acreditares nisso
já tentei muitas coisas, de heroína a jesus
tudo que já fiz foi por vaidade
jesus foi traído com um beijo
davi teve um grande amigo
não sei mais se é só questão de sorte
eu vi uma serpente entrando no jardim
vai ver que é de verdade dessa vez
meu tornozelo coça,
por causa de mosquito
estou com os cabelos molhados, me sinto limpo
não existe beleza na miséria
e não tem volta por aqui,
vamos tentar outro caminho
estamos em perigo, só que ainda não entendo
é que tudo faz sentido
não sei mais se é só questão de sorte
não sei mais, não sei mais, não sei mais
á vem os jovens gigantes de mámore,
trazendo anzóis na palma da mão,
não é belo todo e qualquer mistério,
o maior segredo é não haver mistério algum.
legião urbana - l'âge d'or
23.7.06
deserto de palavras
não consigo encontrar as palavras,
explicações.
não há nada aqui que defina o que meu coração sente
não é dor
tampouco amor.
o sol do deserto me causa alucinações
por um momento avisto um oásis de definições
mas quando chego perto percebo que é apenas
uma poça de lama,
repleta de justificativas falsas.
talvez eu deva parar por aqui.
deixar o calor e a areia fazerem seu trabalho.
deixar o corpo falecer,
mumificar na falta de sentimentos úmidos.
que sirva de aviso a outros escritores que por esse deserto tentarem caminhar.
"fuja!
fuja enquanto ainda podes manter
seus sentimentos intactos.
guarde-os no cantil, preserve-os."
há!
o delírio me faz escrever coisas engraçadas.
freaking out
i was so much an outcast
no one ever liked me
'cause i wasn't wanted
i was so different from
the rest of them all
"fucked up on the drugs
from all the speed
and i never got no sleep
'cause i kept on trippin' over
what they said
and everything that
my mom said made me mad
and everything that
my dad said made me sad
why am i even trying?
i'm crying out
i'm crying out
i cannot seem to keep
from freaking out
spinny round, spinny round
i've fallen down
i cannot seem to keep
from freaking out"
21.7.06
minha cama tá desarrumada, sinal de uma insônia que se instalou por aqui e não quer me deixar. bebidas e remédios dividem a mesa com o computador.
esse sim, sempre aceitou tudo o que eu contei a ele, sem dúvidas, sem apreensões.
"sinto falta de intensidade", ouvi um dia. não... você não sente falta de intensidade. acho que sente falta de se sentir no controle da situação.
well... não tem muito controle na terra da qual eu venho. mas há intensidade. intensidade de palavras, de atos e principalmente, intensidade de emoções.
eu vou esperar novamente. mas não existe espera eterna.
e minha alma, querida, anseia por intensidade.
ela olha pra ele, por um segundo. não esperava que essa frase viesse dele. ela sempre foi quem no fim ia embora, desligando a luz e fechando a porta de um capítulo na vida de outras pessoas.
"por quê?"
"porque eu amo você. porque eu amo de verdade."
ele olha pra ela de forma solene. ela pensa em como ele parece sério, muitas vezes, quando fala dos sentimentos dele, como se fossem tudo o que importasse para ele.
"então fica mais um pouco."
"não posso. porque eu não sou o que vc precisa. ou você não é o que eu preciso. não agora."
ele para por um instante e retorna a falar:
"não. esta tudo errado. eu sou tudo o que vc precisa. e você é tudo o que eu sempre procurei, minha vida inteira. mas acho que somos burros demais pra perceber a preciosidade disso."
"mas tem sido tão legal. os nossos momentos."
"pois é... mas são momentos. sem continuidade. eu fico no telefone, esperando uma ligação sua. ou eu prometo ligar e não ligo. temos medo de ser mais do que somos. temos medo de ser tudo o que podemos ser juntos. e eu não quero, me recuso a ser só em parte."
"eu... eu entendo. mas eu não sei ser diferente."
"eu também não! eu sinto sempre essa urgência de sentir o tudo, sempre. e com você é diferente. mas ao invés de aprendermos um com o outro, ficamos aqui, ligados nas coisas que são comuns aos dois."
"..."
"eu não estou te cobrando, ok? eu estou me cobrando. me cobrando ser mais que alguns momentos bons pra vc. eu quero ser tudo de bom. quero ser tudo o que você pode sentir por alguém. toda a intensidade. boa ou má. me ame até a morte, ou me odeie pra toda a eternidade... mas que seja tudo o que você pode sentir."
ela fica momentos em silêncio. a noite parece fria demais, de repente. o vazio que ela sempre sentiu dentro de si parece estar mais profundo.
"eu não quero ir. não quero mesmo. mas acho que preciso. pra não ser ruim."
"me abraça... ?"
ele a abraça, sentindo o corpo dela frágil, perto do seu. e, pela primeira vez em muito tempo, o coração dos dois bate juntos.
19.7.06
let's spend the night together
i'm in no hurry
i can take my time
i'm going red
and my tongue's getting tired
out of my head and my mouth's getting dry
i'm h-h-h-high
let's spend the night together
now i need you more than ever
let's spend the night together now
i feel so strong
that i can't disguise, oh my
well, i just can't apologise, no
don't hang me up but don't let me down
we could have fun just by fooling around, and around
and around
let's spend the night together
now i need you more than ever
let's spend the night together now
oh, you know i'm smiling baby
you need some guiding baby
i'm just deciding baby
let's spend the night together
now i need you more than ever
let's spend the night together now
this doesn't happen to me every day
no excuses i've got anyway, heh
i'll satisfy your every need
and i'll know you'll satisfy me, oh my-my-my my-my
let's spend the night together
now i need you more than ever
let's spend the night together
they said we were too young
our kind of love
was no fun
but our love
comes from above
do it!
let's make love
hoo!
let's spend the night together
now i need you more than ever
let's spend the night together now
17.7.06
buenos aires
num dos cantos, uma banda toca alguma coisa que ele reconhece como um arranjo original, mas sem espírito, de um gardel. ele tira o chapéu cuidadosamente. cada movimento seu é sempre cuidadosamente planejado. principalmente ali.
sempre fora um boêmio. conhecia praticamente todos os bordéis de buenos aires, mas sempre voltava para lá.
passou pelas mesas de sinuca, cumprimentando os homens que entregavam o salário semanal para o jogo e as "damas".
o barman entregou-lhe o vinho, antes que pedisse. sempre tomava o mesmo vinho tinto e forte da casa. não era gostoso. mas mesmo assim, era um vício. como ela.
as mãos de outro homem apertavam-lhe o quadril, enquanto dançavam no meio do salão. era uma mistura de deusa e demônio.
na meia 3/4 um maço de notas indicava que a noite havia sido boa para ela.
ele se sentia atraído pela sensualidade do corpo de prostituta dela desde a primeira vez que a viu. ela foi dele, naquela noite. por três vezes.
e em todas as noites em que ele estivera ali.
ele sentia o corpo queimando, só em ver as curvas das pernas dela se emaranhando às do outro homem, ao som da música.
ela nunca dançou com ele. recusara-se desde a primeira vez. perguntara a ela muitas vezes, enquanto fumavam um cigarro que consumava o gozo dos dois. ela apenas se calava.
eles se amaram e gozaram e trocaram juras muitas e muitas vezes. mas ele sabia que ela sempre desceria as escadas novamente, para se entregar ao tango com outros.
puxou o canivete rapidamente, por baixo do terno de seda importado da frança. a lâmina brilho no ar por um instante, antes de encontrar a carne do homem que dançava com ela. cortou-lhe rapidamente o rosto e cravou o metal contra o peito dele, com uma força animal. o sanque sujou-lhe a mão, escorrendo pelo braço. o homem caiu.
a música continuou.
ele a pegou nos braços, enroscando-se em seu corpo. puxou-lhe para si. ela se entregou completamente, como uma virgem, como uma prostituta, como seu amor.
e eles dançaram um tango com cor de sangue.
o vinho em seu copo era vermelho como o sangue e aos poucos o barulho no salão o fez voltar ao bordel, onde ela dançava nos braços de outro e nunca seria dele.
10.7.06
a luz fraca deixa transparecer músculos retesados, à espera.
ele caminha, de um lado para outro,
olhos fixos em um ponto adiante.
lá, uma menina brinca com pequenos potes de vidros,
ela parece alheia ao animal.
mas dentro de sua alma, algo espera ansiosamente pelo ataque.
a falsa paz dos que nada sentem.
você me pede intensidade, mas a encara com medo de se perder.
eu quero a entrega dos apaixonados,
a força do seu coração batendo em mim
eu quero o gozo e o choro e o riso insano da sua alma.
me dê a mão, por hoje.
deixe-me te guiar pelos caminhos de pedras vermelhas
dos corpos se tornando um corpo.
não, não olhe para o outro lado, criança
não fuja da dor, do prazer,
não tape os ouvidos para o grito da mulher que há em você
entregue-se
entregue-me
você.
8.7.06
pure morning
a friend with weed is better,
a friend with breasts and all the rest,
a friend who’s dressed in leather,
a friend in needs a friend indeed,
a friend who’ll tease is better ,
our thoughts compressed,
which makes us blessed,
and makes for stormy weather,
a friend in need’s a friend indeed,
my japanese is better,
and when she’s pressed she will undress,
and then she’s boxing clever,
a friend in need’s a friend indeed,
a friend who bleeds is better,
my friend confessed she passed the test,
and we will never sever,
days dawning, skins crawling…
days dawning, skins crawling…
days dawning, skins crawling…
pure morning,
pure morning,
pure morning…
a friend in need’s a friend indeed,
a friend who’ll tease is better,
our thoughts compressed,
which makes us blessed,
and makes for stormy weather,
a friend in need’s a friend indeed,
a friend who bleeds is better,
my friend confessed she passed the test,
and we will never sever,
days dawning, skins crawling…
days dawning, skins crawling…
days dawning, skins crawling…
pure morning,
pure morning,
pure morning…
a friend in need’s a friend indeed,
my japanese is better,
and when she’s pressed she will undress,
and then she’s boxing clever,
a friend in need’s a friend indeed,
a friend with weed is better,
a friend with breast and all the rest,
a friend whos dressed in leather
7.7.06
vazio
hoje eu senti nada por você,
nada além do vazio.
hoje eu rezei para um altar vazio
caminhei por ruas vazias
alimentei o vazio na alma com promessas de novos dias
vazios.
quero nomear o nada que vive em mim,
mas ele nem nada é.
é menos que nada
é menos que vivo
existência pela falta de definição
explicação auto-contida em si.
é o nada, simplesmente por que nada mais o é.
esvazio minha mente em palavras vazias,
num canto vazio de um quarto vazio
que costumava se chamar eu.
limites
você consegue perceber a linha que delimita você?
eu sempre tive limites auto-impostos. não, não... eu nunca fui uma criatura calculista. eu não percebia que esses limites existiam, eu até sentia que só poderia ir até certo ponto, mas eu nunca soube dizer que ponto seria esse, até alcançá-lo.
e nunca ultrapassei os limites.
se você me perguntar agora um exemplo desses limites, eu não poderia te dizer. mas sei que algumas pessoas por aí poderiam.
mas. sabe? eu tenho uma questão, agora.
de repente, eu não sinto mais nenhum deles. sério.
sem muros, sem fronteiras, sem vigias.
não tem nada lá a não ser novos lugares a se chegar.
e... sabe? eu estou muito, muito curioso.
5.7.06
i like you
you were going through something, i had just about scraped through
why do you think i let you get away, with the things you say to me?
could it be i like you, it's so shameful of me, i like you
no one i ever knew or have spoken to, resembles you,
this is good or bad, all depending on, my general mood
why do you think i let you get away, with all the things you say to me?
could it be i like you, it's so shameful of me, i like you
magistrates who spend their lives, hiding their mistakes
they look at you and i, and, envy makes them cry, envy makes them cry
forces of containment, they shove their fat faces into mine,
you and i just smile, because we're thinking the same lines
why do you think i let you get away, with all the things you say to me?
could it be i like you, it's so shameful of me, i like you
you're not right in the head and nor am i, and this why,
you're not right in the head and nor am i, and this why
this is why i like you, i like you, i like you,
this is why i like you, i like you, i like you
because you're not right in the head, and nor am i, and this is why,
you're not right in the head, and nor am I and this is why,
this is why i like you, i like you, i like you, i like you
this is why i like you, i like you, i like you, i like you,
this is why i like you, i like you...
pra você
"preciso fugir." é tudo o que se passa em sua cabeça. os olhos verdes percorrem o terreno, procurando o melhor lugar para se esconder.
o rapaz olha, à distância, o pequeno animal se afastar. ele não consegue entender o que acontece.
a raposa encontra sua antiga toca. o local onde dormiu no inverno. ela se sente segura. deitada, ela lembra-se do rapaz que encontrara num outono distante, que vinha todos os dias para a floresta, só para visitá-la. aprendeu a desfrutar da companhia dele. percebeu-se esperando o momento em que ele apareceria, só para chegar perto.
mas uma noite, uma noite a raposa teve um pesadelo. ela estava presa, dentro de uma jaula, iguais às que via alguns caçadores carregarem. e o rapaz estava lá fora e a olhava dentro da jaula.
e a raposa sentiu medo e raiva.
e ela precisou fugir.
agora estava deitada em sua toca, pensando no rapaz e na jaula. nas tarde de outono e no medo de estar presa, de viver uma vida como uma raposa presa.
quando uma melodia tomou o ar.
levantando as orelhas, curiosa, a raposa lembrou-se daquela música. o rapaz trouxe uma gaita, uma vez, até a floresta e tocou para a raposa.
"esta é sua música", disse o rapaz.
"nossa música".
e a raposa se lembrou que foi feliz naquela tarde.
o rapaz estava tocando, pensando naquela música e no que ela representava para ele, quando viu o pequeno animal de pêlos vermelhos e olhos curiosos perto de si. a raposa o observava.
ele se sentou numa pedra e continuou tocando. a raposa aproximou-se, até aninhar a cabeça em seu colo. ele a acariciou, sentindo o pêlo macio.
naquela noite, a raposa sonhou. e no sonho não havia jaulas ou medo. no sonho, ela era uma menina com olhos de raposa.
e o rapaz estava com ela.
3.7.06
vasculham em seus corações, procurando o momento em que tudo aquilo se tornou real, mas não percebem uma linha, uma fronteira.
perseguem explicações para apaziguar todas as dúvidas, em vão.
em seus corações, um fogo novo queima. brilhante e perigoso...
fascina-os...
seduz...