1.9.06

e ainda assim... eu quero mais.
não me importo tanto em sofrer por conta das coisas do coração. é assim que sou... é assim que sei ser.

e prefiro sofrer por ter tentado, por ter vivido algo do que nunca ter sentido nada.

mas é que às vezes parece que não tenho mais tanto fôlego pra isso.

cada vez é mais custoso, voltar a me imaginar livre para sentir algo novo novamente.

os anos e as decepções cobram seu preço.

a inocência morre cedo demais.

mas a vida segue, com um pouco menos de cor.

novo dia...

escrevo em linhas tortas que só eu entendo.
mas é um livro solitário e triste.

lá fora o dia avança, cinza e silencioso
imagino um mundo sem ninguém
e quase me sinto feliz por isso.

em seu quarto escuro
a menina dorme um sono sem sonhos,
em uma vida sem sonhos,
em um mundo sem sonhos.

eu quis mostrar possibilidades,
tecer sonhos,
criar novos mundos.

mas a realidade é um muro de pedra
e eu estava correndo rápido demais.

minha poesia é confusa,
minha mente está confusa

e agora, essa é toda a clareza de que sou capaz.
há uma certeza por aqui.

eu não vou passar pelo mesmo caminho duas vezes. nunca.
que sentido há em passar pelo mundo fazendo de tudo para sentir nada por ninguém?

encontrando alívio em pequenas cápsulas de felicidade industrializada e sexo casual...

tá... pra você, ouvir música até tarde, comendo chocolate e falando besteiras deve ser mais interessante que sexo.

um dia, menina, te mostro umas coisas...

aí vamos ver se vc ainda vai ficar por aí sem sentir nada.

momento sarcástico da semana

encontrei o amor da minha vida.

agora só preciso fazê-la sentir o mesmo...

31.8.06

lirismo do beco

"michel ama carla!"

as letras feitas com spray pareciam velhas demais naquele muro. ele se perguntava se elas teriam durado mais do que o sentimento que elas proclamam...
o ar estava um pouco frio e os carros passavam por ele com seus faróis acusadores. ele gostava de se sentir anônimo enquanto caminhava, à noite. a luz dos veículos trazia ele à realidade da vida rápido demais.

sentia o resto do gosto da bebida. estava se tornando um hábito, nos últimos meses. "que ótimo... arrumando novos vícios aos trinta anos. perfeito!"

ele mesmo achava estranho, mas ele gostava de andar pelas ruas antigas e sujas do rio. ele dizia que combinavam com a maneira com a qual ele via a sua própria alma.

"há uma beleza poética na tristeza. uma beleza que vem das coisas que poderiam ter sido, mas se desfizeram. uma beleza que vem dos desgostos, da perda e da dor. a dor é bela, se você se afasta o bastante para apreciar. há beleza em cada coisa da vida. basta ter os olhos certos."

em cada poste de iluminação pública enferrujado, em cada esquina transformada em casa por um mendigo, em cada muro pixado, ele via um pedaço de suas próprias experiências.

"o lirismo do beco é construído de sujeira e sonhos destruídos. mulheres abandonadas e prostitutas baratas. a falta de perspectiva cria uma realidade própria, contundente e cheia de detalhes que sobrecarregam os sentidos. a certeza de não ter futuro algum liberta a alma."

ele caminha, ouvindo sambas antigos em sua cabeça, em direção ao amanhecer.