9.9.06

ela deita na cama quarto. já é de manhã...

o cabelo ainda cheira à shampoo de motel.

ela olha para o teto.

fecha os olhos.

não consegue dormir.

os pensamentos começam a desenrolar, sem freio. ela nunca se importou com o sexo. achava bom, mas não importava tanto fazer ou não. para os caras, sempre foi algo importante, então ela se deixava entregar. não sentia o bastante pra achar bom ou ruim. mas era o bastante pra saciar a vontade do corpo.

mas agora, tem algo diferente.

essa noite, o que ela teve foi muito pouco. desejou que fosse diferente. desejou que fosse com alguém diferente.

desejou sentir mais.

dancefloor

as luz pisca em um ritmo intenso, seguindo a batida dos amplificadores. corpos se entregam ao ritmo de luz e som.

sentado em um canto, ele observa ela dançar.

o corpo dela parece ter sido desenhado para a pista de dança. cada curva esculpida pelas batidas, cada movimento delineado pelos mixers...

ele olha as luzes desenharem a silhueta dela e seus olhos brilham.

ele percebe os outros olhares para ela. sabe que ela atrai a atenção de outros homens e mulheres.

mas ele gosta assim.

faz mais doce o gosto do beijo, quando ela vêm lhe procurar, mais tarde.
"você tem escrito melhor do que nunca!"

"é... eu te disse que escrevia melhor quando estava triste, né? você não acreditou."

"hummm... vai ver que é por isso que você gosta de se sentir triste, né?"



nha...

é. pode ser por isso.
nenhuma lâmina corta tão fundo quanto o silêncio de quem se ama.

8.9.06

coração cheio.

alma vazia.

sempre tem que haver dicotomia em tudo...

profecia

o sangue do sacrifício é espalhado no solo.

o feiticeiro gira, em seu transe, em volta do fogo.

em seu sonho, ele toca as estrelas, e se encontra com os deuses.

as planícies e as montanhas são a pele do feiticeiro. os rios, o sangue que corre em suas veias... as florestas são seus cabelos...

o mundo e ele são um só.

e ele recebe a mensagem.
em silêncio, a bailarina dança.

a luz do sol entra pelas amplas janelas da sala onde ela treina para a vida.

ela lembra de um soldado de chumbo que a observava.

a bailarina gira no ar.

e os pensamentos giram junto.

o mundo está mudando. maior e mais lotado de pessoas.

mas, no silêncio da sala de dança, ela se pega pensando no soldado.

limites

eu evito falar com você.

só pra perceber que procuro você em todos os lugares que passo.

estranho? é. você causa essas coisas estranhas em mim.

trás novas cores, desejos que eu pensava ter enterrado bem fundo afloram, me vejo querendo mais e mais.

e não sinto haver limite.

não sinto ter limites com você.

ainda procuro sua boca, em sonho.

ainda vejo seus olhos em outros olhos.

seu cheiro me toma o pensamento.

e não parece haver limite.