11.9.04

the sound of a heart beat

o som de vozes preenche cada espaço do lugar... ele sente a estática no ar, toda a energia que está contida ali.

percebendo os olhares na escuridão, que percorrem cada centímetro de seu corpo, tentando penetrar em sua alma, ele se sente sufocado pela antecipação.

seu corpo é tomado por todas as emoções que inundam o palco onde ele e seus companheiros se encontram... um altar de veneração para milhares de súditos...

ali eles são mais que homens... são as personificações dos sonhos e esperanças de toda uma geração... eles são deuses, imortais num segundo infinito...

ele fecha os olhos, e lentamente percebe que todo o nervosismo vai embora...
um som toma os seus sentidos... um compasso que ele conhece bem... as batidas de seu coração...

e ele sente todos os conflitos se dissiparem, enquanto ele se entrega ao ritmo daquele som...

então, ao longe, outros sons se mesclam à batida surda em seu peito... ele reconhece a melodia que toma, subitamente o ar, buscando passagem por entre tudo...

e todos os que estão ali se calam, pois naquele segundo, ele também se torna aquele som... a voz de todos...

ele se torna a música.
definitivamente, eu sou uma antítese hiperbólica...

(sorriso)

confuso

eu estou meio confuso com algumas coisas que andam acontecendo...

não queria me sentir assim não... mas sou péssimo em esperar por acontecimentos... acho a espera sem nenhuma resposta uma tortura mental...

de qualquer maneira... eu estou esperando... não muito pacientemente...

mas esperançosamente...




andando entre os vivos

algumas vezes, quando estou andando em um lugar amplo, onde estão várias pessoas, eu faço uma coisa...

eu ando, olhando para a maior quantidade de pessoas que consigo... tentando sentir cada uma... tentando entrar pelo menos um pouco em cada alma...

se vc prestar bastante atenção, consegue sentir a energia que é trocada entre os corpos... percebe quem carrega fardos grandes, só por sentir o peso na alma da pessoa, ou a alegria de alguém que está com a alma leve...

eu me sinto bem, quando faço isso... me sinto parte daquilo tudo... um dos raros momentos em que me sinto perto do mundo...




7.9.04

through the window

enquanto observa os últimos móveis serem colocados dentro do caminhão, ele pensa em tudo o que havia acontecido nos últimos tempos...
não sem lembrava de quando se mudara para lá. sua mãe disse uma vez que foi logo após o seu aniversário de um ano.
enquanto crescia, aprendia todos os segredos daquele lugar que, ficara sabendo, foi contruído por um industrial para acomodar sua grande família. todos os quartos, o porão e o sotão (esse tinha um teto inclinado, que fazia com que qualquer adulto fossem até lá tivessem que se abaixar, para não bater a cabeça. foram diversas e diversas expedições exploratórias pelo jardim enorme, que terminava onde um bosque parecia criar uma cerca invisível, nos fundos.
dois dos homens que estavam carregando os móveis levavam agora a escriva do escritório, onde seu pai costumava passar o dia, escrevendo sobre coisas que o menino ainda não entendia.
ele sentiu uma pontada de tristeza tomar o seu coração, quando se lembrou que nunca mais veria o pai, novamente.
o funeral havia acontecido há algumas semanas mas parecia que tudo acontecera minutos atrás... os amigos de seu pai compraram uma coroa de flores com uma inscrição em negro sobre uma fita branca.
não sentira medo do mundo, naquele dia. apenas uma tristeza profunda e que parecia entorpecer todos os seus sentidos. seu pai havia ido sem que ele desvendasse todos os segredos da relação que eles tinham. sua mãe chorava muito. o menino sentiu que sua mãe sentia medo, pois naquela noite ela foi a seu quarto muitas vezes. ficava parada na porta, olhando-o enquanto ele fingia dormir. por duas vezes ela sentou ao lado do menino, chorando baixo. ele quis consolá-la mas não sabia o que dizer. sentia falta do pai mais do nunca, nessas horas.
quando a sua mãe ligou o carro e fechou os vidros, separando-os daquele que parecia um novo e estranho mundo, o menino colocou a mão no bolso do casaco e tocou o pequeno objeto, sentindo um pouco de calor chegar a seu coração.
o pequeno prisma de cristal com um pequeno globo incrustrado dentro sempre fora o objeto que mais chamava a sua atenção, na escrivaninha do pai... e agora era dele. uma lembrança de um mundo que havia terminado.
sabia que seu pai sempre estaria com ele, enquanto tivesse aquele prisma.

5.9.04

mad love is religion enough to my heart...

white sound

a estática de um rádio sem sintonia é chamada de som branco... é quando sabemos que não há ninguém lá fora, se comunicando com a gente...

é assim que vejo a minha vida, de vez em quando... que tudo é estática... ruído branco...

algumas vezes eu preciso de algumas respostas... outras eu penso que não há resposta alguma, de verdade... só um monte de perguntas e incertezas... que tenho que me acostumar com isso...

tem dias que tenho vontade de sair caminhando por aí... de não parar até deixar o mundo inteiro para trás... mas eu acabo voltando para casa... sem nem mesmo saber por quê...

sei que eu erro muito... sei mesmo... mas algumas vezes parece que todos os erros são meus... e isso eu não acho muito legal... mas eu estou tentando não me importar com isso, agora... porque eu preciso aprender um monte de coisas, ainda... preciso trocar de estação... preciso aprender a me ver de outra maneira...

e acho que estou indo pelo caminho certo... :)

alguma coisa se move nas sombras

domingo à noite é uma das piores horas de toda a semana... não sei se é a proximidade com a segunda-feira, se é a sensação de fim de um ciclo, mas o domingo à noite é estranho...

welcome back, me!

oi... é isso mesmo... tô voltando a escrever... não sei se isso vai durar, ou se é mais uma coisa passageira... o que eu sei é que quero me sentir melhor... chega de ser só uma sombra de quem eu era... eu quero mais... quero ser melhor do que eu era...

e voltar a escrever é uma parte dessa tentativa...

espero que alguém aí entenda o que quero dizer...

(sorriso)

before dawn

ele olha para os seus irmãos que ainda estão dormindo e reflete sobre sua própria vida. ele nunca conseguira dormir na véspera de uma batalha... se mantinha acordado, como um espírito, um fionúir, caminhando por entre as trevas, incapaz de descansar.

sentia no ar o cheiro das fogueiras que os druidas ascenderam, para fazer seus feitiços. queria ter perguntado a orthanach sobre o que os deuses disseram sobre o dia de amanhã, mas isso pouco importava para ele, agora.

presságios são para reis... guerreiros só precisam rezar para que suas vidas terminem rapidamente, em um campo de batalha...

guerreiro? sim... era isso que o pequeno lonán havia se tornado... poucos anos haviam se passado desde que os meninos da vila o chamavam de pássaro negro, por causa de seu cabelo escuro como a noite, mas os anos haviam trazido inúmeras batalhas à sua vida.

tudo o que acontecera de importante na vida de lonán acontecera durante as batalhas que assolavam interminantemente o solo da bretanha. todas as coisas boas e as ruins aconteceram durante o caos criado pelos guerreiros. ele imaginava se isso teria sido uma brincadeira dos deuses.

ah, os deuses pareciam estar brincando demais com a vida dos homens, nesses dias... principalmente os deuses do sangue e do fogo...

macha e seus corvos farão um banquete amanhã, levando embora em suas garras os olhos dos homens mortos...

mas a cabeça de loán não estava ali... ele passara a noite pensando se seu senhor chegara com segurança ao caer... se ele houvesse caído, nem mesmo os deuses poderiam proteger a bretanha de ser tomada pelos saxões. não havia em todo o mundo um homem que pudesse reunir novamente todas as tribos...

e se o homem que o criara como um filho houver morrido, não haveria mais ninguém capaz de proteger líobhan.

não... não deveria pensar em líobhan agora... não poderia se permitir sentir medo de perdê-la...

ele subiu um pequeno monte, perto de onde os homens haviam levantado acampamento e sentou-se, esperando a manhã... esperando a morte...