2.5.07

aprenda a ler os sinais.

é importante que você aprenda.

1.5.07

dissonantes

olharam um para o outro por muito tempo. conheciam cada marca, cada expressão do rosto um do outro. não havia nada de novo. não havia mistérios, não havia segredos. compartilharam tudo por um tempo que pareceu uma eternidade para os dois. estavam cansados
estavam entediados.

uma manhã ela desperta e ele não está lá. surpresa por um segundo, ela logo sente um alívio por não ter que contemplar aquele rosto novamente tão cedo.
ela resolve caminhar. os raios de sol iluminam as pedras no caminho, as árvores parecem resplandecer com uma vitalidade renovada.
ela chega a uma praça e senta, observando tudo a sua volta. de repente, uma voz diferente chega-lhe aos ouvidos.
ela se vira e percebe um jovem. um rosto novo, desconhecido.
uma pontada de preocupação lhe toma o coração, mas logo ela é derrotada por uma excitação grande. ela ouve as palavras do rapaz e elas são todas novas.
ele parece trazer um ar de frescor um mistério no olhar que a deixa curiosa por mais.

na casa dela o outro homem, aquele que ela conhece até demais chega e encontra a cama vazia. um olhar de espanto é trocado rapidamente por um certo alívio. ele senta na cama e observa as flores que trazia. ele sente uma liberdade nova tomar o seu coração, mas as flores o lembram de algo precioso.

a mulher sorri, encantada. o rapaz a leva a lugares novos. ela conhece novos rostos, descobre uma nova vida. sente-se renovada por dentro e por fora.
mas ela observa os olhos felinos do rapaz e sente algo diferente.
ele ainda parece o mesmo, mas de repente o brilho que parecia vir dele se torna muito tênue. e, inevitavelmente ela começa a se lembrar do olhar do homem que conheceu há tempos. e começou a comparar o olhar dos dois.
e a cada dia, toda aquela nova vida parecia-lhe fútil, sem razão.

na casa antiga, o homem se deita cedo e olha o teto. na mesa de cabeceira um ramo de flores começa a murchar, enquanto ele tenta se lembrar do sorriso conhecido dela. ele sonha em reencontrar o rosto dela na multidão de desconhecidos, lá fora.
e, sozinho, ele chora.

a mulher está deitada ao lado do rapaz. na escuridão da madrugada, ela toma uma decisão.
no dia seguinte ela volta à casa que abrigou-a durante anos. ela entra no quarto e o encontra dormindo. ela senta ao seu lado e chama o nome, surpresa com a sensação boa que isso desperta.
ele acorda e a vê. saltando da cama, ele a abraça.
ela sente o calor bom do abraço dele.

mas agora, quando ele a olha, vê algo diferente. é o mesmo rosto, a mesma mulher, mas ele percebe alguma coisa por baixo de tudo.
e ela ainda gosta de olhar para ele. mesmo tendo que esconder a vergonha que sente de si mesmo.

eles se beijam, os mesmos, mas ainda assim, diferentes.

Nereid