1.4.06

presente

um presente que ganhei de aniversário, da paty...

brigado, menina... adorei o texto! (meu lado megalomaníaco falando)

Era uma vez um menino que lia livros de adultos.

Que se envolvia em um mundo que não lhe era permitido

Que sonhava com cavaleiros medievais, princesas em perigo, donzelas distantes.

E não se contentava com uma existência medíocre

Era uma vez um menino

Que tinha um irmão e se sentia sozinho

Que tinha uma nódoa de tristeza na alma

E parecia carregar todas as mágoas do mundo

Era uma vez um rapaz

Que amava as mulheres mas não se fazia entender

Que amava os quadrinhos, música e literatura

E tinha o dom da poesia no sangue

Era uma vez um rapaz

Que se sentia sempre sozinho

Que gostava de passar desapercebido

E tinha uma carência constante

Era uma vez um homem

Que gostava de facas

Que apreciava o sexo

E tinha ânsia de saber sobre tudo

Era uma vez um homem

Que ainda não se compreende

Que escreve para aplacar turbulências

E reclama de tudo na vida

Era uma vez um homem

Que evoluiu do rapaz

Que surgiu do menino

Mas que não deixa de ter

A criança e o jovem em si

Em eterno conflito

31.3.06

para uma nova mãe...

ela olha para fora do quarto, em direção ao bosque nos fundos da casa... o vento do outono eleva as folhas vermelhas das árvores, criando um balé silencioso no final da tarde.

ela se sente feliz, sem motivo algum... só por estar viva. só por estar ali.

ao seu lado, um caderno de desenho repousa, mostrando a todos a última criação de sua dona, um desenho simbólico da terra mãe, pulsando de vida.

ela ouve um pequeno gemido e se vira para o lado, em direção a um berço que repousa junto à parede.

um corpinho pequeno e rosado se mexe, fazendo barulhos de bebê...

ela o pega nos braços e começa a balançar, cantando uma canção antiga que aprendeu há muito, muito tempo atrás.

a criança se aconchega nos braços dela, sentindo o calor do corpo materno e se acalmando aos poucos.

ela se pega às vezes tentando acreditar ainda que tudo isto aconteceu em tão pouco tempo... sente o toque de dedos pequeninos em seus ombros e uma alegria imensa invade seu corpo, aquecendo a alma.

ela que percorreu tantos caminhos antes, agora inicia uma nova jornada...

ela observa as folhas lá fora, no fim de tarde outonal e pensa no futuro...

e ela sonha.

29.3.06

ela está vestida de branco.

sorri para mim. eu toco em seu rosto, fazendo carinho de leve.

mas é tudo sonho.
na minha cidade pais entregam todo o dinheiro a uma igreja
enquanto seus filhos morrem de fome em casa.

na minha cidade duas meninas trocam juras de amor
enquanto o pai de uma delas espera com uma arma nas mãos.

na minha cidade uma criança trabalha por trocados em um sinal
enquanto um homem fecha os vidros de seu carro importado.

na minha cidade dois olhares se cruzam por um instante
enquanto grades trancam um detento.

na minha cidade...

na minha cidade há uma alma boa.

e isso já basta.
a lâmina corta em silêncio, abrindo caminho na carne...
o corte é profundo
mas não alcança a alma.

anti-social

é... sou eu, sim...

sou aquele que senta no banco do canto, no ônibus, coloco meus fones de ouvido, abro um livro e me desligo dos outros.

sento na mesa com pessoas que conheço... mas podia ser outra mesa, podiam ser outras pessoas.

não é que eu não goste de ninguém. eu gosto... eu amo... eu preciso de pessoas.

mas não o tempo todo.

e definitivamente, eu gostaria muito que vocês entendessem isso.
ele escreve um conto e mostra a ela.

ela o lê... pensa por alguns momentos e vira para ele:

- você sempre escreve coisas tão tristes. você sempre está tão triste. eu tento mudar isso, sempre, mas você parece não querer.

ela vai embora e ele fica sozinho, olhando a folha largada sobre a mesa.

ele não entende porque as pessoas sempre parecem querer salvá-lo.
no cume da montanha, ele estica os braços, para tocar os céus.

28.3.06

irish blood

o cabelo muito ruivo contrastava com a alvidez do rosto. ela pensou que ele parecia doente. mas o sorriso em seu rosto lhe dizia que ele estava se divertindo.

o forasteiro chamara a atenção de todos no pub, por ter chegado de forma ruidosa e pelo forte sotaque irlandês. havia algo de fanfarronice em seus modos, mas nenhum deles pensou em expulsá-lo. havia algo indescritível nele, algo irreal em sua aparência. ela poderia dizer que ele se parecia com um personagem de um conto mitológico daqueles que ouvira quando nova, no colégio.

todos compartilharam suas histórias e o irlandês se tornou em pouco tempo a única pessoa a falar ali. ele parecia ser novo, vinte e cinco anos, no máximo, mas os olhos traziam algo de antigo, neles. como se tivessem visto todo o mundo.

ele ofereceu uma bebida a ela... a voz baixa e rouca tocou em uma parte de seus ouvidos que agitou cada pedaço de seu ser.

conversaram horas e horas. a fanfarronice dele fora deixada de lado e ela percebeu que ele parecia compreender muito bem como ela se sentia. como se ele a conhecesse desde sempre.

tinha um odor de flores distante, mas persistente, que a deixava um pouco tonta, cada vez que ele se aproximava dela para dizer algo.

os olhos dele eram duas chamas que queimavam verdes em suas órbitas. não conseguia afastar olhar... esquecera de todos os outros que ali estavam.

e o cabelo, de um vermelho como nunca havia visto antes. quando a luz refletia neles, era como um halo de fogo...

mais tarde, pediu que ele a levasse em casa.

ela o levou junto para casa... para a cama.

ela era dele. não pensava em mais nada além de entregar-se àquele homem.

ela quis sentir cada centímetro do corpo dele. a pele era macia... o irlandês sussurrou coisas no ouvido dela que a fizeram queimar por dentro... ela gemia, entregue ao toque dos dedos dele. ele corria seus lábios pelo corpo trêmulo.

eles se amaram... ela perdeu nocão do mundo... sentia o toque dele em todo o seu corpo, os lábios, as estocadas dele invadindo o seu ventre, enquanto ela o puxava para dentro de si. queria ele. era toda dele.

a dor veio repentina, perto do seio direito. tentou se debater, mas seu corpo não respondia, entregue aos espasmos de prazer. tentou gritar e tudo o que ouviu foi um gemido de prazer com a sua própria voz. pensou em afastá-lo, mas seus braços o puxavam sobre si.

abriu os olhos uma vez mais... não sabia onde estava.

pensou ter visto um homem deitado ao seu lado. os cabelos dele eram vermelhos...

vermelhos como o sangue...
perdi um objeto, hoje.

não sei como aconteceu, porque eu sempre me preocupei bastante com esse objeto.

depois de um tempo triste com o sumiço, eu comecei a imaginar algo.

esse objeto era um símbolo de tanta coisa do passado. coisas legais, mas também coisas que me faziam mal.

talvez (eu nesse momento estou sendo meio egocêntrico), a perda tenha sido um sinal...

sinal de que os tempos mudam, sinal de que é necessário mudar.

27.3.06

eu tenho quase 30 anos...

e ainda olho para fora da janela e vejo um mundo do qual entendo tão pouco.
tudo bem...

eu faria MUITA coisa hoje por uma boa garrafa de vinho, uma música legal, um lugar aconchegante e uma boa conversa.

como ando sentindo falta de boas conversas...

a cumplicidade simples de se dividir pequenos segredos.

perdido de mim

tem um pedaço de mim perdido no mundo.

um pedaço que entreguei para alguém cuidar,

um pedaço que foi perdido há tempos.

tem um pedaço de mim perdido no mundo.

ele tem a forma de um coração

e foi perdido em um lugar distante.

tem um pedaço de mim perdido no mundo.

um pedaço que quero encontrar.

sem ele eu sou sombra, sou vazio.

tem um pedaço de mim perdido no mundo.

e uma dor que ficou no seu lugar.

26.3.06

dry

i'd like to take you someplace where angels fear to tread
i always hate to love you
get out of my head it's easy just to say it
so hard to be kind
these thoughts are still within me
infecting my mind

pushing it's way out burning in my mouth
until it hurts

i'd like to violate you
i've done it before
i always love to hate you
you perfect whore
it's easy to imagine
i'm somebody else
so much has happened inside myself

pushing it's way out burning in my mouth
until it hurts

i'd like to push you down
i'd like to push you under
i'd like to push it in you
i'd like to push you push you...

i'd like to give you something
a piece of me
you always like to take it so easily
i never wanted us to end this way
but somethings changed in me
i'm not the same

pushing it's way out
burning in my mouth

and now I'm dry

tura satana - dry