20.7.07

tá.

eu sinto saudade de vc sim...

vc me faz querer rir mais. :)
ele toca o espelho, fascinado.

a imagem do outro lado é embaçada... como se coberta por uma fumaça espessa. quase leitosa.

ele não se reconhece no reflexo.

não reconhece os olhos, não reconhece a face. o cabelo está diferente.

ainda assim, ele sabe que no mundo inteiro, não há nada que se pareça tanto com ele.

ele toca o espelho, imaginando como seria atravessar.

ele pensa em hiatos, tempos, erros e acertos. pensa em distâncias entre corações e mentes.

ele imagina o que a pessoa do outro lado do espelho pensa.

o toque da superfície espelhada é frio.

raiva. ele sente raiva e frustração.

grita em direção ao reflexo.

esmurra o vidro.

uma rachadura em forma de teia marca o espelho.

um filete de sangue escorre do local onde o punho bateu.

do outro lado, uma pessoa olha.

diferente, mas ainda assim, iguais.

moto perpétuo

o vento sopra fraco, trazendo ondas leves em direção à areia.

o garoto brinca na beira da água, afastado das outras crianças. ele molda a areia com cuidado. gosta dos pequenos detalhes. gosta de ser diferente de todos os outros.

aos poucos o castelo toma sua forma, erguendo-se na areia fofa e clara. depois de terminado, o menino se levanta e caminha para olhar o castelo de longe.

ele encosta-se nas pedras e espera. pouco tempo depois as ondas começam a subir mais e mais até começarem a bater no castelo.

as pequenas torres vão se desfazendo aos poucos e a construção vai perdendo a forma. em minutos não há nada além de um monte de areia um pouco mais alto que o resto da praia. logo não se nota sinal de nada.

as outras crianças continuam brincando. duas delas riem do castelo desfeito.

o garoto não liga.

ele se sente feliz quando constrói o castelo, mas fica igualmente encantando quando o mar vêm e toma tudo de volta.

e pensa consigo mesmo qual seria a graça em se construir um castelo de areia que durasse para sempre...

18.7.07

desabafo

desastre aéreo em s. paulo.

estava acompanhando agora há pouco os comentários em sites de notícia sobre o desastre aéreo com o avião da tam em congonhas. espanta em se ver que a maioria esmagadora dos comentários culpa o governo lula sobre o problema com o caos aéreo, a liberação da pista sem todas as medidas de segurança e praticamente todas as desgraças que aconteceram no brasil nos últimos anos.

eu fico indignado com isso. não, eu não sou petista. não pertenço a partido nenhum e tenho altas tendências anarquistas. minha indignação é direcionada aos brasileiros. cada vez que ouço as pessoas reclamando dos casos de corrupção descobertos no governo, a indignação cresce mais um pouco.

desde criança ouço falar que vivemos em uma democracia. que nós elegemos os governantes. que o governo eleito é a representação da nação brasileira. então, senhores, só me resta indagar o quanto a nação brasileira está afundada no famoso mar de lama.

jeitinho brasileiro
tenho dito nos últimos tempos que o problema do brasil é o "jeitinho brasileiro". o nosso famoso jogo de cintura para passar por cima de situações problemáticas e que é tão celebrado pela mídia se tornou, a meu ver, o grande mal do país.
outro dia estava em um ponto de ônibus e logo atrás de mim estavam duas meninas, conversando. em determinado momento uma delas briga com a outra por ter jogado o papel no chão. a outra menina diz que se ela não jogar o papel no chão, o lixeiro não teria trabalho. as duas começaram a rir.

é disso que falo: o brasileiro vive da prioridade pessoal, da capacidade de se dar bem em qualquer situação, com o menor esforço e maior lucro possível.

quantos de vocês aí já deixaram de realizar uma obrigação cível para ter um lucro qualquer?
reclamam da polícia corrupta, mas lembram de oferecer um dinheiro para a "cervejinha" para se livrar de uma multa.

primeiro o meu
nós brasileiros não temos noção de civilidade. não temos senso comum. não observamos regras básicas de convivência pública.

outro exemplo típico:
já tentou pedir a alguém que está em um espaço de convivência pública?
bom, salvo raríssimas exceções, a resposta que irá ouvir será algo do tipo "o lugar é público, eu faço o que bem quiser!"
não.
é justamente o contrário! espaços públicos são feitos para serem divididos entre todos. e é nesses lugares que temos que mostrar o respeito que temos pelas outras pessoas. ninguém é obrigado a gostar de ouvir a mesma música que você.
quer ouvir o último cd de funk, na última altura do seu som? faz isso em casa. mas faz nos horários em que se é permitido fazer isso!

vivemos em um país incrivelment belo. grande pela própria natureza, como diz o hino. mas feito pequeno pelos habitantes.

já chega de pensarmos em nós mesmos o tempo todo. já chega de colocar a culpa nos outros e fechar os olhos quando é algo que favorece a gente.

chega de cobrar do governo um comportamento que deve começar em casa, em pequenos atos.

o país não mudará nunca se não começarmos a mudar as pequenas coisas. não há alternativa.

bom... há uma alternativa.

pegar um avião e mudar de país.

se bem que eu não recomendaria, ultimamente.

17.7.07

o mundo é tão grande.

tenho 5 sentidos.

às vezes isso é tão pouco.
a noite tem a cor do silêncio trocado por dois amantes que temem não dividir nada além de seus corpos nus.


há amor no medo de ficar sozinho?


há verdade em um beijo de despedida?


há esperança em uma cama de motel?
a pequena menina dorme no banco da praça.

os cabelos claros, sujos e endurecidos caem sobre o rosto.

o corpo franzino e pequeno se dobra em posição fetal.

as roupas brancas estão encardidas, rasgadas, amassadas.

as pessoas passam em volta, perdidas em seus próprios mundos.

e não percebem, nas costas da menina, um pequeno par de asas.

15.7.07

um choro

ele se senta no beiral do prédio. o vento sopra as nuvens em direção ao horizonte e os sons da cidade são apenas murmúrios.

ele lembra dela.

o verão que passaram juntos. os segredos trocados embaixo dos lencóis. lembra do sorriso dela, que parecia iluminar a sala inteira. o beijo doce e suave.
ele pensa no silêncio dos olhares apaixonados.
lembra do calor do corpo dela. lembra do olhar silencioso e calmo.

a noite cai aos poucos. as luzes se acendem. a cidade não quer a escuridão.

ele lembra da noite do acidente.

lembra de apertar a mão dela. lembra de sentir a mão afrouxar.

ele pensa no dia do funeral. sente novamente a dor de se despedir de alguém que não deveria ter ido.

ele olha para as ruas. as lágrimas são levadas pelo vento.

é tão fácil se deixar ir. um pequeno empurrão.

terminar tudo.

então ele ouve o choro. ao seu lado, um pequeno rádio, conectado ao quarto da menina.

ela precisa dele.

ele precisa mais ainda dela.

tatuagem

as linhas se desenham aos poucos, sinuosas pelas costas, pelas pernas.
as pernas se enroscam quentes em volta do corpo.
o corpo se move, em meio a gemidos e suor.
o suor escorre pelo rosto, pelo pescoço.
em curvas sinuosas, pelas costas, pelas pernas.
feito as linhas da tatuagem.

luz

o sol brilha em todas as coisas. a luz amarela e quente se espalha pelo ar.
a luz, dizem, é símbolo da verdade. porque a luz nos faz enxergar o mundo.

ainda assim.

ainda assim, o sol faz meus olhos doerem.

(what heals me, kills me)

lembro das manhãs de inverno da minha infância. minha mãe me obrigava a ficar sentado ao sol, por causa da bronquite.

lembro que eu não gostava nada, porque tinha que ficar parado, ali.

o mundo é engraçado.