12.5.06
ele se beijam demoradamente...
com o coração apertado, ela vai embora. ele fica para trás, olhando.
ela some, em direção ao ônibus. ele fica parado por um longo tempo, ainda. as pernas não obedecem, ele não quer ir embora.
mas a realidade chega a ele, aos poucos. ele só pode viver de sonhos aos poucos. escolheu esse caminho.
ele vai embora, com uma cicatriz nova no coração e um pouco mais sábio.
com o coração apertado, ela vai embora. ele fica para trás, olhando.
ela some, em direção ao ônibus. ele fica parado por um longo tempo, ainda. as pernas não obedecem, ele não quer ir embora.
mas a realidade chega a ele, aos poucos. ele só pode viver de sonhos aos poucos. escolheu esse caminho.
ele vai embora, com uma cicatriz nova no coração e um pouco mais sábio.
11.5.06
o sangue escorre das mãos.
ele está ajoelhado, ao lado do corpo dela.
ele olha para ela... apaixona-se pela aparência quase irreal do corpo. os olhos abertos olham para a lua.
ele a beija.
ele a libertou desse mundo. com as suas mãos, tomou a alma dela para si.
nessa noite, o homem que ele era desapareceu.
e algo novo tomou seu lugar.
ele está ajoelhado, ao lado do corpo dela.
ele olha para ela... apaixona-se pela aparência quase irreal do corpo. os olhos abertos olham para a lua.
ele a beija.
ele a libertou desse mundo. com as suas mãos, tomou a alma dela para si.
nessa noite, o homem que ele era desapareceu.
e algo novo tomou seu lugar.
9.5.06
moto perpétuo
o tráfego parece quase irreal, daquela altura.
o vento sopra forte. o homem está sentado no beiral do prédio, olhando para o abismo de concreto metal e vidro abaixo dele.
ele gosta da sensação do vento. fecha os olhos e sente a força das rajadas velozes, nos cabelos, no rosto.
ele pensa em como é silencioso, naquela altura. os sons das ruas são murmúrios distantes.
olha para os céus. imagina que se esticasse os braços, poderia alcançar as nuvens.
o sol do outono brilha, trazendo luz mas não calor. o homem sentado no beiral do prédio gosta da sensação.
liberdade. é isso que ele sente. a liberdade de escolher o que fazer.
ele se dobra para a frente, caindo no vazio.
um silvo nos ouvidos, a pulsação acelerada, o vento frio e cortante.
um sorriso no rosto.
ele fecha os olhos.
o homem acorda...
está sentado na frente do computador. o cursor pisca, pedindo as palavras.
ele escreve sobre um homem em um prédio.
o vento sopra forte. o homem está sentado no beiral do prédio, olhando para o abismo de concreto metal e vidro abaixo dele.
ele gosta da sensação do vento. fecha os olhos e sente a força das rajadas velozes, nos cabelos, no rosto.
ele pensa em como é silencioso, naquela altura. os sons das ruas são murmúrios distantes.
olha para os céus. imagina que se esticasse os braços, poderia alcançar as nuvens.
o sol do outono brilha, trazendo luz mas não calor. o homem sentado no beiral do prédio gosta da sensação.
liberdade. é isso que ele sente. a liberdade de escolher o que fazer.
ele se dobra para a frente, caindo no vazio.
um silvo nos ouvidos, a pulsação acelerada, o vento frio e cortante.
um sorriso no rosto.
ele fecha os olhos.
o homem acorda...
está sentado na frente do computador. o cursor pisca, pedindo as palavras.
ele escreve sobre um homem em um prédio.
8.5.06
raposa
era pequena, em comparação à uma menina de sua idade.
e tinha a pele muito branca e sempre com olheiras, porque ficava acordada até tarde da noite e não gostava de brincar no sol, com as outras crianças.
escondida de todo mundo, ela ia até a sala e ligava a televisão.
assistia aos filmes de terror, sozinha.
era uma menina normal, no geral.
mas se olhasse mais de perto, perceberia que tinha olhos de raposa.
e tinha a pele muito branca e sempre com olheiras, porque ficava acordada até tarde da noite e não gostava de brincar no sol, com as outras crianças.
escondida de todo mundo, ela ia até a sala e ligava a televisão.
assistia aos filmes de terror, sozinha.
era uma menina normal, no geral.
mas se olhasse mais de perto, perceberia que tinha olhos de raposa.
piromania
se pudesse, hoje eu colaria fogo em tudo...
porque só assim sentiria que o mundo lá fora tá de acordo com o mundo aqui dentro...
porque só assim sentiria que o mundo lá fora tá de acordo com o mundo aqui dentro...
7.5.06
film noir
a lâmpada pisca erraticamente, mal iluminando as paredes sujas da sala...
ele está sentado, olhando para a arma e o envelope, sobre a mesa. os olhos parecem desfocados, olhando para outro lugar, outra época.
um dos pés bate nervosamente no chão. ele não percebe o tique.
ele espera. lá fora, o elevador do prédio começa a trabalhar, fazendo um barulho monstruoso.
o homem aperta as mãos. ele está nervoso. em seu estômago, algo se revira.
o elevador pára no andar, logo à frente do apartamento. a porta corre... ele escuta passos. os olhos ganham um brilho. há sentimentos demais em seu olhar.
a porta se abre devagar. um jovem de cabelos loiros aparece. ele olha para o homem sentado na cadeira. seus olhos correm rapidamente para a arma sobre a mesa.
mas ele não parece surpreso.
o homem levanta-se. pega a arma sobre a mesa e aponta para o garoto.
o garoto tem os olhos vidrados. parece não ter certeza do que está acontecendo.
ele abre a boca, mas é o homem quem fala:
- eu sabia que você viria pra cá. tá com tanta droga no seu corpo que não consegue mais pensar. senta aí!
- cara... eu não tive culpa... ela...
- cala a boca! senta na porra da cadeira!
o garoto desaba sobre a cadeira velha. o homem olha pra ele. a arma pesa em sua mão. quer acabar com tudo. quer voltar no tempo. mas continua ali, naquela sala suja, com a arma na mão e a sensação no peito.
- ela confiou em você! queria tirar o irmãozinho do mundo das drogas. "queria dar uma chance a ele", ela dizia. e é assim que você paga!
- porra... eu não tive nada a ver com aquilo. ela foi lá porque quis... eu não... eu não... não queria que ela fosse me pegar. falei pra ela não ir...
- três! ela foi estuprada por três, seu merda! ela foi te buscar e é isso que sobrou dela!
o homem apanha o envelope e o joga na cara do rapaz, que chora.
- abre! olha as fotos!
coloca a arma na cabeça do garoto com força.
o garoto abre o envelope e olha as fotos, chorando como criança.
o homem acha a cena patética. sabe que o garoto não sente praticamente nada, por causa do barato. mas ele precisa ver.
- olha pra ela, desgraçado! olha pro que você fez com ela!
- cara! eu não tava lá... não vi os caras fazendo isso.
- o socorro demorou meia hora, até achar o beco onde ela estava. jogada no lixo! ela foi pro hospital... demorou 3 horas, até que morresse...
o homem começa a chorar, também. o estômago está embrulhado, com a lembrança do que aconteceu. ele quer vomitar. quer trazer ela de volta.
- por favor! eu não fiz nada! eu não fiz nada... ela não tinha que ir lá!
- ela chamou o seu nome, na minha frente, na cama do hospital. mal podia ver e ainda assim, chamou o seu nome, verme! ela morreu por sua causa... ela morreu... ela...
- eu não queria... ela não... eu não queria... eu não queria...
o tiro atravessa o crânio. a cadeira e o garoto caem em um estranho movimento entrecortado, por causa da iluminação da sala.
o cheiro de pólvora sobe. o homem está chorando.
chora pelo que perdeu, mais do que pelo que acabou de fazer. chora por uma menina que morreu em seus braços. chora por saber que o que acabou de fazer não trará ela de volta.
o jovem faz movimentos estranhos, no chão... o sangue se espalha rapidamente em um vermelho escuro. a respiração termina abruptamente.
as fotos estão espalhadas pelo chão. uma delas pousa à frente dos olhos do garoto. uma menina loira em uma mesa de autópsia olha para o irmão morto.
a luz se apaga, uma última vez.
passos no corredor e o barulho da porta do elevador.
está terminado.
ele está sentado, olhando para a arma e o envelope, sobre a mesa. os olhos parecem desfocados, olhando para outro lugar, outra época.
um dos pés bate nervosamente no chão. ele não percebe o tique.
ele espera. lá fora, o elevador do prédio começa a trabalhar, fazendo um barulho monstruoso.
o homem aperta as mãos. ele está nervoso. em seu estômago, algo se revira.
o elevador pára no andar, logo à frente do apartamento. a porta corre... ele escuta passos. os olhos ganham um brilho. há sentimentos demais em seu olhar.
a porta se abre devagar. um jovem de cabelos loiros aparece. ele olha para o homem sentado na cadeira. seus olhos correm rapidamente para a arma sobre a mesa.
mas ele não parece surpreso.
o homem levanta-se. pega a arma sobre a mesa e aponta para o garoto.
o garoto tem os olhos vidrados. parece não ter certeza do que está acontecendo.
ele abre a boca, mas é o homem quem fala:
- eu sabia que você viria pra cá. tá com tanta droga no seu corpo que não consegue mais pensar. senta aí!
- cara... eu não tive culpa... ela...
- cala a boca! senta na porra da cadeira!
o garoto desaba sobre a cadeira velha. o homem olha pra ele. a arma pesa em sua mão. quer acabar com tudo. quer voltar no tempo. mas continua ali, naquela sala suja, com a arma na mão e a sensação no peito.
- ela confiou em você! queria tirar o irmãozinho do mundo das drogas. "queria dar uma chance a ele", ela dizia. e é assim que você paga!
- porra... eu não tive nada a ver com aquilo. ela foi lá porque quis... eu não... eu não... não queria que ela fosse me pegar. falei pra ela não ir...
- três! ela foi estuprada por três, seu merda! ela foi te buscar e é isso que sobrou dela!
o homem apanha o envelope e o joga na cara do rapaz, que chora.
- abre! olha as fotos!
coloca a arma na cabeça do garoto com força.
o garoto abre o envelope e olha as fotos, chorando como criança.
o homem acha a cena patética. sabe que o garoto não sente praticamente nada, por causa do barato. mas ele precisa ver.
- olha pra ela, desgraçado! olha pro que você fez com ela!
- cara! eu não tava lá... não vi os caras fazendo isso.
- o socorro demorou meia hora, até achar o beco onde ela estava. jogada no lixo! ela foi pro hospital... demorou 3 horas, até que morresse...
o homem começa a chorar, também. o estômago está embrulhado, com a lembrança do que aconteceu. ele quer vomitar. quer trazer ela de volta.
- por favor! eu não fiz nada! eu não fiz nada... ela não tinha que ir lá!
- ela chamou o seu nome, na minha frente, na cama do hospital. mal podia ver e ainda assim, chamou o seu nome, verme! ela morreu por sua causa... ela morreu... ela...
- eu não queria... ela não... eu não queria... eu não queria...
o tiro atravessa o crânio. a cadeira e o garoto caem em um estranho movimento entrecortado, por causa da iluminação da sala.
o cheiro de pólvora sobe. o homem está chorando.
chora pelo que perdeu, mais do que pelo que acabou de fazer. chora por uma menina que morreu em seus braços. chora por saber que o que acabou de fazer não trará ela de volta.
o jovem faz movimentos estranhos, no chão... o sangue se espalha rapidamente em um vermelho escuro. a respiração termina abruptamente.
as fotos estão espalhadas pelo chão. uma delas pousa à frente dos olhos do garoto. uma menina loira em uma mesa de autópsia olha para o irmão morto.
a luz se apaga, uma última vez.
passos no corredor e o barulho da porta do elevador.
está terminado.
shades of grey
algumas vezes eu esqueço
todos os meus erros
e todos os medos.
e abro meus olhos,
olho para o abismo
e sorrio
o sorriso daqueles que sobreviveram
a mais uma noite frente a seus próprios erros.
a inocência se foi
a fome de coisas novas aumentou
e ainda não consigo entender tudo
mas meu coração persevera
procurando, encontrando e esquecendo logo após.
e minha alma com o fogo da criação
o fogo da fome de mais e mais.
consumindo a si mesma e se recriando.
todos os meus erros
e todos os medos.
e abro meus olhos,
olho para o abismo
e sorrio
o sorriso daqueles que sobreviveram
a mais uma noite frente a seus próprios erros.
a inocência se foi
a fome de coisas novas aumentou
e ainda não consigo entender tudo
mas meu coração persevera
procurando, encontrando e esquecendo logo após.
e minha alma com o fogo da criação
o fogo da fome de mais e mais.
consumindo a si mesma e se recriando.
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