26.4.05

in dreamland

luz...

deve ser dia...

ou não...

ele ouve o próprio coração... tão rápido quanto as batidas de asas de um beija-flor...

ele pensa se teria um beija-flor no peito, batendo e batendo as asas...

ele tenta se levantar, mas seus braços e pernas estão presos à cama...

uma cama num quarto alto... ele conhece o lugar... tantas e tantas noites passadas aqui, ouvindo os barulhos de homens maus nas outras salas... ouvindo os gritos dos outros garotos...

seria um sonho?

estaria ele dormindo???

ele lembra do homem mal que lhe furava o braço, injetando-lhe os venenos que o faziam dormir e dormir e dormir...

e sonhar.

pequeno nemo, o homem o chamava... agora você vai para o reino dos sonhos...

e o pequeno sonhava com monstros perfurando-lhe o corpo com garras cheias de veneno...

e com quartos acolchoados que cheiram a urina e medo...

e com os gritos...

- o que é real?

- eu sou real???

- pequeno nemo no reino dos sonhos... é isso o que eu sou.

- e eu estou sonhando... logo vou acordar...

- não vou?

la mer

ele olha os barcos se distanciando no horizonte e pensa na saudade que lhe aperta o peito... uma saudade de algo não vivido... de um lugar não visitado, mas uma saudade que insiste em se apresentar, todas as vezes que ele relaxa os pensamentos.

se sentando, nas tábuas de um pier abandonado, ele enche o peito do ar úmido e salgado do oceano... o vento parece levar sua mente para ainda mais longe e ele se permite perder-se na imensidão do azul profundo que dança a melodia dos dias antigos.

a chuva fina e fria de inverno toca-lhe o rosto, escorrendo junto da lágrima que lhe escapa do rosto...

uma lágrima... um oceano de pensamentos e desejos e sonhos...

um lugar distante que não existe...

um lugar perto que não pode ser alcançado...