25.12.04

sweet innocence

"ela é sua."
aquelas palavras ecoaram distantes, em minha mente, enquanto eu olhava em direção ao centro do recinto.
iluminada por um círculo de velas, que davam a tudo aquilo um ar religioso, ela estava de pé.

nua...
pálida...
trêmula...
linda.

a luz fraca a tornava etérea, como um fantasma de luz... os cabelos loiros refletiam as chamas das velas em pequenos lampejos dourados.

ao sentir alguém tocando meu ombro, olhei para o chão, quase com vergonha do que meu corpo sentia. a voz disse, novamente, agora próximo ao meu ouvido:

"ela é sua. esta noite é em sua homenagem. tome-a para vc"

a voz era doce e baixa... quase um sussuro, mas assim mesmo, parecia quase uma ordem.

"ela é jovem demais..."

pensei em dizer isso como uma desculpa, mais para mim mesmo que para os outros. a mulher... não. a menina parecia não ter mais que dezessete anos... seu corpo tenro e firme tremia levemente, enquanto seus olhos pareciam pedir ajuda a mim. em vão...

"p- por favor... por favor, me deixem ir!"

não, ela não era jovem demais. e não, eu não a deixaria ir...
haviam outros ali... outros como eu e cassie... éramos 7, ao todo. alguns eram tão antigos que provavelmente conheceram o antigo mundo enquanto ainda era o único mundo conhecido. um círculo em volta de nosso altar de carne.
eu não conseguia mais afastar meu olhar do corpo dela. meus olhos percorriam cada centímetro da pele clara... seus seios pareciam quase hipnotizantes, chamando, implorando por mim... eu a desejava.
eu tinha fome.

"essa noite, christopher, vc é aceito entre nós. essa noite, vc se torna um integrante da sombra. e ela é seu prêmio. tome-a para si"

a voz era calma e antiga... parecia reverberar nas paredes, de maneira que não era possível saber exatamente de onde ela vinha... mas eu a conhecia. eu conhecia derek tempo o bastante para saber que, mais do que tudo, aquela frase havia sido um desafio.

"por favor... eu não conto sobre vcs... eu prometo... por favor, me soltem!!!"

eu caminhei na direção dela. o seu odor adocicado tomou meus pulmões, almentando meu desejo. eu acariciei o seu rosto, quase como seu amante e disse a ela, perto do seu ouvido:

"não irá demorar. eu prometo..."

eu a deitei... e a tomei, ali... no chão daquele lugar antigo e profano, aos olhos ávidos de meus companheiros... ela gemia ao sentir meu toque... e gritou quando me sentiu a invadindo... e ela pediu mais... e ela chorou...
naquele momento, eu a amei mais do que havia amado antes.
naquele momento, eu a entreguei às trevas da noite... eu a libertei do fardo da dor de viver e ela me pagou com o precioso líquido que há pouco corria em seu corpo...
depois de terminado, eu baixei vagarosamente a carcaça sem vida, deixando-a no chão. o sangue que havia escorrido no canto da minha boca ainda parecia fresco e trazia seu odor, ainda.

"está terminado."

mas não havia mais ninguém ali... nem mesmo cassie... eu estava a sós com ela. por quanto tempo?
a noite estava terminando... a lua logo iria embora, levando com ela os últimos resquícios de minha vida anterior...
eu não era mais christopher...
eu era um vampiro, agora... um morto...
uma sombra.
sentado no escuro da sala, eu observo o céu noturno, através da janela.
o brilho da lua me faz lembrar de um tempo em que um menino, nesta mesma casa, subia o telhado nas noites claras de outono para se deitar, com as mãos cruzadas atrás da cabeça, olhando para as estrelas.
o garoto, não mais velho do que 8 anos, ficava às vezes horas, ali. quando ele se deitava, de costas para o telhado, parecia que a terra desaparecia... e com ela, todos os medos e dúvidas que circundavam a jovem cabeça.
a lua parecia chamá-lo para viajar com ela... ele quase conseguia ouvir as vozes das estrelas, num cântico celeste... antigo e triste, mas extremamente bonito.
e naquele telhado, naquelas noites de outono, o menino se sentia realmente parte de algo muito maior que tudo o que ele conhecia...
e ele sorria...
hoje, olhando a noite pela janela, eu me pergunto para aonde aquele menino se foi...