5.1.06

você consegue ouvir os sussurros no vento?

eles falam de nós...

4.1.06

eu

eu que sou dispar
como o brilho no sorriso de uma criança
frente ao brilho da lâmina da adaga.

eu sou como o luar de verão,
sou como o vento do inverno.
fulgaz, ainda que misterioso

eu ando sobre os muros,
eu caminho no limiar,
o reino dos desejos.

o desejo de amar.
o desejo da carne, do corpo.
o desejo de viver e de morrer.

eu que sinto a falta do toque,
mas que fujo da mão que dá carinho.
mais por medo sofrer do que pelo sofrimento em si.

eu que fujo do sol e me exponho à noite,
vivo nas sombras, desejando a luz.
a luz que não machuca os olhos...

eu acaricio os cabelos do menino
com a mesma mão que empunhava a lâmina
com igual prazer.

eu revejo meus erros,
tento aprender com eles
mas esqueço todos os acertos.

eu que crio histórias,
eu que pinto diferentes mundos,
eu que desenho realidades.

sinto-me como um deus
que aprecia mais o ato de criar
do que o resultado da criação.

porque eu quero mais e mais
e sempre tudo é pouco
para a alma.

e apesar de tudo
eu sou humano.

pura e simplesmente humano.

esse poema sou eu...

...
sentir tudo de todas as maneiras,
ter todas as opiniões,
ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito,
e amar as coisas como deus.

eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um operário,
eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na praia
que a dor real das crianças em quem batem
(ah, como isto deve ser falso, pobres crianças em quem batem —
e por que é que as minhas sensações se revezam tão depressa?)
eu, enfim, que sou um diálogo continuo,
um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre,
quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque
e faz pena saber que há vida que viver amanhã.
eu, enfim, literalmente eu,
e eu metaforicamente também,
eu, o poeta sensacionista, enviado do acaso
as leis irrepreensíveis da vida,
eu, o fumador de cigarros por profissão adequada,
o indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim,
prefere pensar em fumar ópio a fumá-lo
e acha mais seu olhar para o absinto a beber que bebê-lo...
eu, este degenerado superior sem arquivos na alma,
sem personalidade com valor declarado,
eu, o investigador solene das coisas fúteis,
que era capaz de ir viver na sibéria só por embirrar com isso,
e que acho que não faz mal não ligar importância à pátria
porque não tenho raiz, como uma árvore, e portanto não tenho raiz
eu, que tantas vezes me sinto tão real como uma metáfora,
...

trecho de "passagem das horas" de álvaro de campos... ou fernando pessoa, para os íntimos... :)
ela acorda cedo... na verdade dormiu pouquíssimo durante a noite. ao seu lado, o homem dorme despreocupadamente nu.

ela pensa na noite passada, como nas noites anteriores onde fora abatida pelo desejo de seu corpo. deixara que ele a cobrisse de carinho e atenção que ela sabia serem fulgazes. amor com duração programada.

gostaria que fosse mais... gostaria de se sentir segura nos braços dele... gostaria de poder confiar sua vida nas promessas dele. mas o vazio de alguma forma sempre está lá.

mesmo se entregando ao álcool, cigarros e à música alta, ela não consegue esquecer aquilo que a sua própria alma faz questão de lembrar.

ela agarra o travesseiro com força, lembrando-se de quando era tudo simples...

ela queria poder voltar atrás.

2.1.06

2006

quero muito que o 2006 seja cheio de papos bons demais... de confissões que não doem e de verdades faladas com carinho...

gosto demais quando as palavras não se perdem no meio do caminho delas...
obrigado, tá? esse domingo foi um dos dias mais importantes da minha vida... não saberia te explicar direito o porque, mas eu estava precisando demais de tudo aquilo...



como vc disse... que as coisas sejam como deve ser. que o mundo gire, que o tempo passe e que o destino faça a sua parte.
nem todas as poções mágicas, nem todos os remédios conhecidos nada, NADA tem o poder de um pouco de carinho, atenção, palavras sinceras e um ombro em que se possa encostar...