4.1.06

eu

eu que sou dispar
como o brilho no sorriso de uma criança
frente ao brilho da lâmina da adaga.

eu sou como o luar de verão,
sou como o vento do inverno.
fulgaz, ainda que misterioso

eu ando sobre os muros,
eu caminho no limiar,
o reino dos desejos.

o desejo de amar.
o desejo da carne, do corpo.
o desejo de viver e de morrer.

eu que sinto a falta do toque,
mas que fujo da mão que dá carinho.
mais por medo sofrer do que pelo sofrimento em si.

eu que fujo do sol e me exponho à noite,
vivo nas sombras, desejando a luz.
a luz que não machuca os olhos...

eu acaricio os cabelos do menino
com a mesma mão que empunhava a lâmina
com igual prazer.

eu revejo meus erros,
tento aprender com eles
mas esqueço todos os acertos.

eu que crio histórias,
eu que pinto diferentes mundos,
eu que desenho realidades.

sinto-me como um deus
que aprecia mais o ato de criar
do que o resultado da criação.

porque eu quero mais e mais
e sempre tudo é pouco
para a alma.

e apesar de tudo
eu sou humano.

pura e simplesmente humano.

Um comentário:

Paty disse...

Minino, gostei do poema! Intenso, visceral, apaixonado. Arte é isso e nada mais. Adorei a citação ao reino do irmão-irmã.

E estou oficialmente com inveja: meu poema auto-descritivo não consegue achar seu fim. :)