9.3.06

poesia?

hoje dormi com ela nos braços,

você estava lá, nas páginas de um livro de poesia.

intensa

sem limites

nua.

e eles nunca vão entender a comunhão que alcançamos

em cada linha em branco e preto.

nossas coxas,

nossos corpos,

nossos sexos.
o olhar de predador.

as coisas certas, ditas na hora certa.

o toque de leve na pele.

eu desejei você por muito tempo.

por todo o tempo.

ter você, tomar você, amar você.

cenas de nós dois nus invadem a minha mente, o tempo todo.

selvagens, sem pudores, entregues a um instinto antigo.

mas essa noite você é de outro.

alguns dias não são para o caçador, mesmo.
o seu cheiro.

os gemidos que você solta.

as coisas que você não diz, mas os seus olhos deixam escapar.

as curvas do seu corpo nu, deitado na cama.

coisas que me desatinam.
meu pai está velho.

um dia eu me peguei olhando para ele, procurando no olhar dele um brilho que eu sempre via, quando era pequeno.

o brilho não estava lá.

foi quando percebi que meu pai estava velho.

foi quando percebi que falta ele sempre fez, nos momentos em que estava distante.

ele foi um pai distante.

não.

eu fui um filho distante...

agora ele está velho e eu quero abraçá-lo.

mas não sei como.

quero encostar a cabeça dele no meu peito.

mas não sei como.

sei apenas que eu o amo.
eu me entrego a uma overdose de sentimentos, quase todo os dias...

me pego a vasculhar o meu passado, o tempo todo, em busca disso. e como os sentimentos que marcam mais são os que apertam a alma, acabo sempre voltando a lugares estranhos e tristes.

eu preciso disso? certamente não.

mas é vício...

como não se apaixonar por isso?

your face has faded away.
and now that you're gone
all the hate
rancour
and jealousy
and dispair have vanished.
no more pain, no more poison.
and what remains?
rememberances of sunday afternoons in bed
sex like a possession
laughing and sweetness
i'm trapped in tattered memories of joy.
mariza tavares - fio

jogos

brincamos como adolescentes, em todos os lugares, você me toca, eu aperto seu corpo de encontro ao meu.

você morde os lábios, pra não fazer barulho, porque eles estão no quarto ao lado.

eu invado seu corpo, você conquista meu desejo...

brincamos um jogo de poder sobre o outro.

desenho meu nome com meus dedos em seu corpo, marcando como ferro sua carne com meu desejo.

você me toma em suas mãos, acariciando, deixando a marca da sua boca na pele. me fazendo gozar...

e depois de tudo somos crianças de novo... falando besteiras e rindo de tudo.

e fingindo que os outros não nos ouviram no quarto ao lado...

8.3.06

encontros

ela me contava dos sonhos dela, enquanto eu viajava neles. marcamos de almoçar, mas mal conseguíamos tocar na comida. quando foi embora, você me abraçou. eu nunca tinha sido abraçado daquela maneira, antes.

você me acompanhou por todos os lugares, aquela semana.

nos encontramos de novo e de novo fiquei encantado com a sua alma. falei sobre muitas coisas, tentando te impressionar (como eu era bobo, naquela época)...

dormimos juntos aquela noite... ou não dormimos juntos... e foi incrível, pra mim.

mas o momento que eu vou guardar pra sempre foi quando olhou pra mim com a carinha mais linda do mundo e pediu, baixinho: "me abraça?"

você me ensinou tanto, me mostrou tanto...

eu não seria quem eu sou hoje sem as coisas que você me mostrou, minha lady... não escreveria essas palavras, agora... não desenharia os meus desenhos... não fotografaria o mundo que tem o meu jeito.

algumas vezes passamos por pessoas por aí e é como se nada tivesse acontecido...

algumas vezes um encontro muda tudo...
essa noite sonhei que tinha espirais por toda a pele...
ele se senta na areia, para olhar o mar.

o som do mar sempre trouxe calma ao seu coração... a visão das ondas sempre trouxeram desejo por mais.

ele gosta demais dessa mistura de sentimentos.

a lua traça um caminho de luz na água enquanto ele entrega o seu coração e sua alma ao mar.

a raven's dream

ele estende as asas, entregando-se ao ar aberto, indo na direção que o vento o carrega.

o corvo sobrevoa um campo de batalha, onde corpos estendem-se sem vidas, entregues ao esquecimento que a morte traz.

o pássaro costumava se antecipar às batalhas, sentindo-se compelido a voar na direção delas.

"ave de mau-agouro", diziam. quando na verdade a batalha fora provocada por eles mesmos.

mas agora ele busca a distância. agora ele está cansado das guerras dos homens.

guerra por poder, guerra por amor, guerras que eles travam entre si, o tempo todo.

ele viu através dos olhos de homens mortos e não viu esperança.

agora o corvo vai embora, em busca de outro lugar.

outros sonhos... outras vidas.

com as asas abertas, ele abraça o horizonte.

feliz aniversário, minha querida hel!

faz tempo que a gente não se vê, cheios de desencontros que somos, mas eu gosto muito de vc, tá? vc tem sido uma amiga muito legal pra mim.

eu sei muito bem que eu encho o seu saco, de vez em quando, sempre falando as mesmas coisas... mas eu só falo porque confio na senhorita! e por falar nisso, tô com saudade dos nossos papos!

quero que vc seja feliz de verdade, e que coisas muito, muito, muito legais aconteçam na sua vida, senhorita menina mariposa.

se cuida direitinho e supercalifragilisticexpialidocious pra vc!

:)
é batata...

sempre que eu preciso de alguém por perto, só pra eu encostar a cabeça no ombro, nada mais é sinal de que não vou encontrar ninguém.

ah...

whatever...

amanhã tem mais.

6.3.06

o calor no quarto pequeno e sujo é esmagador, mas ele parece não sentir.

do lado de fora, barulhos da noite cortam o ar carregados de perversão.

o cortiço é um antro de prostitutas e párias, esquecido em bairro antigo de uma cidade que se diz maravilhosa, mas que por dentro está apodrecida, como uma fruta que ficou tempo demais exposta ao mundo.

ele está no centro do quarto.

ele segura um crucifixo que encontrou mais cedo, na cama de uma menina de 7 anos, que morreu sozinha, depois de ter tido seu corpo destruído pela pessoa que deveria protegê-la do mundo.

ele pegou o crucifixo quando a encontrou. a menina ainda o segurava por entre seus dedos.

ele está ajoelhado ali, segurando o crucifixo em uma das mãos e sussurando.

na outra mão, há uma faca.

ele a levanta solenemente, como num rito e começa a cortar.

o sangue desce das suas costas, enquanto ele arranca as asas...