10.4.07

ele usa a faca de forma seca.

o corte é reto.

o sangue desce em um filete único, manchando de vermelho o tecido branco no chão.

ela observa, em silêncio.

um juramento é feito.

dois corpos se unem para sempre, tentando transformar em matéria o que duas almas sentem.
se sentia melhor sozinha.

ela ouvia a conversa da amiga e ficava pensando que estava melhor sozinha. experimentara sensações novas, experimentara emoções novas. lembrou-se de todos os choros as brigas e irritações de um namoro e pensou que estava bem melhor sozinha.

acabou fazendo a vontade da outra menina. seria um encontro só. uma tarde no shopping. mais inofensivo que isso, impossível. e sempre poderia dar a desculpa que precisava ir mais cedo pra casa. que chances haveriam de ele ser alguém interessante?

o domingo chegou. a tarde veio e ela chegou cedo e resolveu tomar um cappucino. a amiga deveria chegar logo.

de repente ela ouve um "oi!" vindo de algum lugar ao seu lado.

o rapaz sorria de forma clara, um sorriso quase familiar.

simpático, mas nada demais.

ele sentou ao seu lado e começou a conversar. ela gostava muito de conversas, mas achava que o início do papo estava meio chato. ele parecia ser tímido. ou só chato, mesmo.

a amiga chegou e fez a apresentação tardia. foram passear no shopping.

a tarde foi divertida. comeram, brincaram no fliperama e conversaram muito, sobre tudo.

e o rapaz sorria, com um sorriso de menino.

simpático. era isso. ele parecia simpático.

a tarde terminou. o domingo foi embora. a amiga perguntou sobre ele.

ela disse que o achou simpático. um ótimo amigo. só isso.

a menina e o rapaz começaram a conversar pela internet.

estranhamente, a cada dia que passava, ele parecia mais familiar a ela. gostos parecidos. desejos parecidos.

um dia ela resolveu visitar o blog dele. percebeu que ele era meio estranho. gostava de coisas estranhas, escrevia sobre vampiros e sangue e pessoas estranhas. se afastou um pouco.

ele sorria, dizendo a ela que aquele não era o seu eu verdadeiro. existia muito mais por baixo da fachada de rapaz mau e solitário.

ela se pegou um dia pensando nele. havia algo nas palavras que ele enviava a ela. havia algo em seu jeito.

simpático. sim, ele era simpático.

mas havia algo mais.

as noites se passaram. segredos foram trocados. promessas foram feitas.

a simpatia se transformou em afeto.

o afeto, um dia virou bem-querer.

o bem-querer transfigurou-se em amor...

hoje estão juntos.

e ela ainda se maravilha com o sorriso dele.
odeio o som do telefone se desligando.

porque te leva embora.

porque me deixa sem explicações.

porque eu quero falar mais.

porque eu quero mais.

mais do que o som terrível de um telefone se desligando.

700

setecentos posts sobre o nada...

e a certeza de saber que esse "nada" guarda em si sentimentos diversos...

perdas, encontros, desencontros, amores, desejos, saudades, frustrações, pequenas e grandes alegrias...

um nada cheio de coisas.

um nada que é tudo que não encontra voz no mundo das pessoas.

um nada órfão de explicações, mas repleto de significados.

um brinde ao nada.