8.2.07

é estranho...

tem dias que me sento ao computador com uma história na cabeça. exata: início, meio e fim totalmente definidos.

mas ela se recusa a ser digitada. recusa-se a sair do mundo das idéias.

minhas histórias têm vontade própria.

a você

eu observo você.

os gestos, os olhares.

aprendo seu jeito de falar.

tento descobrir seus sonhos,

tento desvendar seus desejos.

e no fim da noite

aprendo a te amar de novo.

dor de crescimento

ele pega o filho depois da escola. a professora o reconhece. de duas em duas semanas ele sai correndo do trabalho vai buscar o menino do outro lado da cidade.

quase sempre chega alguns minutos atrasado, mas todos na escola parecem compreender e mostram um sorriso simpático.

o homem olha para o garoto, por detrás das lentes dos óculos. parece que a cada dia ele cresce mais. uma onda de orgulho passa por seu coração.

no caminho de volta para casa, eles conversam sobre a semana. o menino olha para fora, tentando capturar cada segundo do caminho. ele imagina muitos mundinhos, onde as pessoas lá fora vivem aventuras fantásticas.

o pai estaciona o carro e eles entram na casa. o garoto corre para seu quarto e joga a mochila com as roupas para o fim de semana.

eles brincam e mais tarde jantam juntos. o menino acha que o pai tem um olhar triste, às vezes. mas sempre diz que está tudo bem. "o mundo dos adultos é tão complicado", pensa, em silêncio.

o homem arruma a pequena cama e coloca o filho para dormir, mas ele reclama que está sentindo muitas dores nas pernas. o homem se lembra da própria infância e lembra do que a sua mãe costumava falar sobre as "dores de crescimento" e fala:

"filho... isso são dores de crescimento. é que o seu corpo está crescendo e como você está ficando muito grande e forte, dói um pouquinho. mas não tem nada demais, tá?"

ele passa uma pomada nas pernas do garoto e depois que o pequeno cai no sono, ele deixa o quarto.

sentado na sala, o homem segura um porta-retrato entre as mãos.

na foto, três pessoas estão sorrindo. ele olha e pensa que aquilo parece ter sido há séculos atrás.

mas faz tão pouco tempo.

ele pensa em todas as coisas que se perderam. e pensa em tudo o que viveu e o que aprendeu.

ele sente uma dor na alma.

e lembra que crescer dói.