23.11.05

não estou com espírito para o verão...

a gente pode passar direto para o outono, por favor?

winter morning

ela acorda com um pouco de enxaqueca... odeia se sentir assim, mas infelizmente já se acostumou com o sofrimento insolúvel.
na janela do quarto, ela percebe que algo está diferente.

ela se aproxima e vê um mundo branco do lado de fora. os olhos brilham com a constatação: "nevou à noite!!!"

ela corre para se trocar. colocar uma roupa de frio e olhar o mundo é tudo em que ela consegue se concentrar, agora.

quando ela sai, é como se estivesse abrindo os olhos pela primeira vez em um outro mundo. todas as árvores, as casas e carros, as ruas estão cobertos de um manto branco.

ela sorri, sentindo o vento frio do início do inverno... maravilhada com tudo aquilo à sua volta.

os vizinhos passam, sem entender muito o porquê da alegria, afinal é só mais um inverno.

não. não é só mais um inverno...


mais tarde, ela vai para o bosque perto de sua casa. a neve cobre o mundo com uma sensação de calma e reverência. é hora do mundo se recolher.

é hora de introspecção.

e é hora de sonhar com novas estações...
e por quê a minha mãe tá de repente enchendo o meu saco, dizendo que eu preciso casar???


casar... sei...


só se for com uma poltergheist...


hummmmm... até que não é má idéia, hein???

tem gente demais...

tem horas que eu olho enfurecido, entristecido, com poucas esperanças e penso:

- Tem gente demais no mundo!
alguém aí achou um coração???

tá meio rachado e cheio de probleminhas... mas é meu e é de estimação.

favor devolver, tá???
- eu ando meio introspectivo.

ela olha para ele, com olhar intrigado e então retorna:

- ué? pensei que você fosse introspectivo o tempo todo!

21.11.05

guardando memórias.

no final do dia, ele sempre subia para o sótão. invariavelmente no mesmo horário, o rapaz abria a porta em forma de alçapão com uma escada embutida que levava para o cômodo escuro, subia e ficava lá por vários minutos.

os pais ficaram preocupados, no início. imaginavam o que o jovem poderia estar fazendo sozinho, naquele lugar. mas como as notas na escola continuaram boas e nada parecia ter mudado, eles acabaram aceitando aquilo como mais uma excentricidade do seu filho mais novo.

e todo crepúsculo era passado na solidão do sótão da casa antiga. lá, no cantinho mais distante da portinhola, o garoto ficava sentado, com uma caixa antiga de madeira, cheia de lindos entalhes, em seu colo.

aquela caixa era onde guardava suas memórias.

quando era criança, ele gostava muito de observar o mundo. praticamente todas as brincadeiras que inventava o levavam a tentar descobrir mais um pouco sobre aquele mundo cheio de coisas curiosas. o pai dizia que ele perguntava demais e a mãe passava a mão na cabeça dele, pedindo encarecidamente para ele parar um pouco com a metralhadora de questionamentos diários. mas o menino nunca se satisfazia com as respostas dadas. sempre havia mais e mais a descobrir!

mas uma tarde, quando ele fez 12 anos, algo terrível aconteceu: não conseguia lembrar o nome do 6º do sistema solar! ele pensou e pensou e pensou, mas não lembrava...

"como isso aconteceu? eu sabia o nome... como era mesmo???"

um pensamento ruim passou por sua mente: ele estava ficando velho! e os mais velhos viviam reclamando que esqueciam coisas o tempo todo.

"ah, não!"

o que fazer??? iria esquecer de tudo pelo que passou? de tudo o que aprendeu nos livros de escola e nas horas que passava na biblioteca do pai, lendo livros sobre curiosidades do mundo??

não podia deixar isso acontecer. e o menino pensou e pensou, até que uma idéia lhe passou pela cabeça.

"vou guardar tudo o que aprendo. assim não vou ter problemas, se a minha memória ficar ruim"

lembrou-se de uma antiga caixa que o avô lhe deu e onde ele guardava sua coleção de soldados de chumbo. aquela caixa seria perfeita para guardar as memórias. mas não seria pequena demais? não. chegou a conclusão que se elas cabiam na sua cabeça, caberiam na caixa.

ele subiu correndo as escadas até o quarto e apanhou a caixa. retirou todos os bonecos de metal de dentro e saiu com ela embaixo do braço. tinha que escolher um local seguro para guardar as memórias. elas não podiam ficar em qualquer lugar. eram coisas muito preciosas!

ele lembrou que quase nunca seus pais iam para o sótão. era o local perfeito para guardar a caixa.

e ele a deixou lá. e todos os dias ia até lá para guardar as memórias do que lhe havia acontecido.

e de vez em quando, procurava na caixa a memória de um dia específico. e sorria enquanto as memórias de momentos bons eram revividas...

roll the bones

todas as vezes que olho para você, vejo possibilidades.

você me olha e vê desperdício. e resolveu novamente apostar suas fichas no jogo.

"que rolem os dados", você pensa. "a minha sorte pode virar!"

e eles rolam... e continuam rolando a noite inteira.

mas o que você esquece, querida. é que a casa sempre ganha!