21.11.05

guardando memórias.

no final do dia, ele sempre subia para o sótão. invariavelmente no mesmo horário, o rapaz abria a porta em forma de alçapão com uma escada embutida que levava para o cômodo escuro, subia e ficava lá por vários minutos.

os pais ficaram preocupados, no início. imaginavam o que o jovem poderia estar fazendo sozinho, naquele lugar. mas como as notas na escola continuaram boas e nada parecia ter mudado, eles acabaram aceitando aquilo como mais uma excentricidade do seu filho mais novo.

e todo crepúsculo era passado na solidão do sótão da casa antiga. lá, no cantinho mais distante da portinhola, o garoto ficava sentado, com uma caixa antiga de madeira, cheia de lindos entalhes, em seu colo.

aquela caixa era onde guardava suas memórias.

quando era criança, ele gostava muito de observar o mundo. praticamente todas as brincadeiras que inventava o levavam a tentar descobrir mais um pouco sobre aquele mundo cheio de coisas curiosas. o pai dizia que ele perguntava demais e a mãe passava a mão na cabeça dele, pedindo encarecidamente para ele parar um pouco com a metralhadora de questionamentos diários. mas o menino nunca se satisfazia com as respostas dadas. sempre havia mais e mais a descobrir!

mas uma tarde, quando ele fez 12 anos, algo terrível aconteceu: não conseguia lembrar o nome do 6º do sistema solar! ele pensou e pensou e pensou, mas não lembrava...

"como isso aconteceu? eu sabia o nome... como era mesmo???"

um pensamento ruim passou por sua mente: ele estava ficando velho! e os mais velhos viviam reclamando que esqueciam coisas o tempo todo.

"ah, não!"

o que fazer??? iria esquecer de tudo pelo que passou? de tudo o que aprendeu nos livros de escola e nas horas que passava na biblioteca do pai, lendo livros sobre curiosidades do mundo??

não podia deixar isso acontecer. e o menino pensou e pensou, até que uma idéia lhe passou pela cabeça.

"vou guardar tudo o que aprendo. assim não vou ter problemas, se a minha memória ficar ruim"

lembrou-se de uma antiga caixa que o avô lhe deu e onde ele guardava sua coleção de soldados de chumbo. aquela caixa seria perfeita para guardar as memórias. mas não seria pequena demais? não. chegou a conclusão que se elas cabiam na sua cabeça, caberiam na caixa.

ele subiu correndo as escadas até o quarto e apanhou a caixa. retirou todos os bonecos de metal de dentro e saiu com ela embaixo do braço. tinha que escolher um local seguro para guardar as memórias. elas não podiam ficar em qualquer lugar. eram coisas muito preciosas!

ele lembrou que quase nunca seus pais iam para o sótão. era o local perfeito para guardar a caixa.

e ele a deixou lá. e todos os dias ia até lá para guardar as memórias do que lhe havia acontecido.

e de vez em quando, procurava na caixa a memória de um dia específico. e sorria enquanto as memórias de momentos bons eram revividas...

2 comentários:

Vanessa disse...

Quero uma caixa dessas!

Ariel disse...

achei esse conto fantastico, milord! acho que renderia uma bela continuacao...

ando meio calada, mas sempre com vc no coracao. alias, noite passada sonhei contigo. deve ser porque esses dias estou numa expectativa de neve tremenda, e neve me lembra automaticamente voce.

fica bem... bons sonhos...