17.3.06

sinfonia em carmim

eles estão abraçados, como duas estátuas eternamente juntas, prisioneiras dos sonhos de um escultor.

o torso desnudo expande e contrai no ritmo da respiração ofegante dos amantes.

a palidez dos corpos cintila os reflexos da luz da lua cheia.

eles se amam.

ele a toca, desvendando os caminhos de prazer do corpo delicado.

ela se entrega em corpo e alma para ele.

eles se abraçam.

eles se beijam.

e sob a luz da lua, o sangue escorre em carmim pela pele dela.

fly by night

ele sente o agitar das asas dentro de si.

garras e bicos cortando, dilacerando para se libertar da prisão de carne.

o grito que ecoa dentro de sua cabeça.

o animal de asas negras ganha a noite, deixando para trás a concha vazia do seu passado.

15.3.06

quero que alguém escreva um texto sobre mim.

sombra

eu já quis ser sombra... passar sem fazer barulho pelo mundo... só sendo percebido de tempos em tempos, quando alguém mais sensível olharia e perceberia meus contornos.

mas eu seguiria meu caminho e tudo passaria.

um dia eu deixei de ser sombra e desejei ser tudo de uma só vez. mas não consegui e me magoei e magoei outras pessoas.

já tentei ser quem eu não sou e não consegui.

já desejei ser mais do que eu sou e não soube.

hoje eu desejo muito, ainda... mas não sei o quê.

nessas brincadeiras todas que os deuses costumam fazer, eu estou me procurando novamente.

sombra, sol, corvo, menino, homem, noite, amante, super-herói, amigo, vivo...

tudo isso...

e mais.
meus humores andam mudando o tempo todo, o dia inteiro.

uma hora tenho vontade de matar um...

depois quero distância de todos...

depois, tudo o que eu queria era um abraço...

sem razões, vou navegando em um mar de emoções,

agitado, desconhecido...

e imprevisível.
ele sonha com uma floresta que não existe.

ele senta-se à beira de um lago imaginário.

o vento irreal de sua imaginação agita as folhas das árvores.

e mesmo sabendo que tudo é um sonho, ele está feliz ali.

e se sente em casa.