23.9.06

ele deseja as vestes do paraíso

tivesse eu as bordadas vestes do paraíso,
tecidas com a luz do ouro e da prata,
o azul e o sombrio e as vestes negras da noite
e a luz e o crepúsculo,
eu espalharia as vestes sob seus pés.
mas, sendo eu pobre, tenho apenas meus sonhos.
tendo eu espalhado meus sonhos sob seus pés,
pisa suavemente,
porque caminhas sobre os meus sonhos.

w. b. yeats - he wishes for the clothes of heaven
tradução: marcio carvalho

22.9.06

e hoje me peguei pensando que eu gostaria de escrever de novo um poema de amor que significasse algo.

acho que sinto falta da cumplicidade. os olhares silenciosos que falam mais do que todos os diálogos já ditos no mundo... os pequenos gestos. eu adoro mesmo os pequenos gestos de carinho.

20.9.06

eu já chorei por alguém que não conhecia.

porque pensei que ia perder alguém que eu não conhecia.

e pedi aos deuses por essa pessoa desconhecida.

e ela não morreu.

mas, naquela noite, ela levou um pedaço da minha alma com ela.
o bombeiro chora, segurando o bebê em seus braços.

o pequeno sinal de vida, o soluço perdido no silêncio da noite iluminou o mundo.

assim, ele poderia viver mais um dia consigo mesmo.
ele criava lendas sobre si.

inventava histórias e lugares e pessoas. criava situações e citava acontecimentos inexistentes.

vivia em seu próprio mundo, coberto por suas histórias.


e, de alguma forma, ele era feliz assim.
há beleza até mesmo em um coração partido.
acordou com o corpo dolorido.

o sol já estava alto no céu. dormira na praça. não. desmaiara na praça. a dor do seu corpo o faz lembrar que havia apanhado de novo dos caras mais velhos e eles haviam roubado o dinheiro que ele havia conseguido.

havia um gosto de sangue velho em sua boca. o olho parecia estar inchado, mas ele não se importava muito. a fome doía mais dentro dele do que qualquer outra dor física. a fome corroía seu corpo. não o deixava pensar, não o deixava.

ele levanta, caminha até a rua, olhando as pessoas. precisava comer algo. qualquer coisa.

mas ele era invisível. os homens e mulheres passavam a sua volta, ignorando os olhos que pediam atenção. aprendera desde cedo que as crianças de rua eram invisíveis. eventualmente, um dono de loja ou um policial o via, quando tentava roubar algo. mas era invisível quase o tempo todo. por alguma razão que ele não sabia nomear, sentia um vazio dentro de si, quando pensava que não podia ser visto.

vira uma vez outro menino, mais novo que ele, morto em uma calçada do centro. as pessoas passavam por ele como se passassem por um animal.

era isso que ele sentia. sentia que para eles era como um animal. menos que isso, ainda.

pediu, implorou por esmola, mas não ganhou nada. depois de 2 horas, sentou-se junto à marquize de um velho edifício e, com a cabeça entre as mãos, deixou duas lágrimas escaparem por seus olhos. chorou de raiva. chorou de frustração.

e acima de tudo, chorou de fome.

não percebeu que uma menina sentou ao seu lado. ela usava uma camiseta branca, muito maior que o tamanho dela e que agora era de uma cor indefinida. a cor das ruas.

ela deu a ele uma garrafa plástica. no fundo, uma cola espessa. ele cheirou, sem falar nada. conhecia ela.

eles dormiam juntos, às vezes, nas ruas. cuidavam um do outro, quando podiam.

o garoto fechou os olhos, embalado pela onda da cola.

sonhou com a menina. estavam juntos, em um lugar limpo.

os dois riam. e eram felizes.

mas ele abriu os olhos.

os dois se abraçaram, invisíveis para o resto do mundo.

de um jeito torto, da única maneira que os dois conheciam, eles experimentaram algo que as outras pessoas chamavam de amor.
sou viciado em primeiras vezes.

não... não estou falando em sexo.

tá. estou falando de sexo também, mas não só de sexo. eu sou viciado em começar coisas.

amo a sensação de estar estreando algo, de estar fazendo aquilo pela primeira vez. amo sentir o frio na barriga de antecipação. adoro sentir o relaxamento que vem depois que algo feito pela primeira vez termina bem.

mas não sou bom em continuar coisas. isso é algo que ainda estou aprendendo.

eu era do tipo que construiria um castelo, pedra por pedra, só para poder vê-lo terminado. e então virar as costas e procurar outro local interessante para construir um castelo. e recomeçar.

estou aprendendo aos poucos a cuidar do que me é importante. e não apenas virar as costas e recomeçar.

algumas vezes há diversão em apenas cuidar de algo.

17.9.06

franz

show do franz a quilômetros de distância... :)

e um fantasma no show do franz!?!

dream on

can you feel a little love?

as your bony fingers close around me
long and spindly
death becomes me
heaven can you see what i see

hey you pale and sickly child
you're death and living reconciled
been walking home a crooked mile

paying debt to karma
you party for a living
what you take won't kill you
but careful what you're giving

there's no time for hesitating
pain is ready, pain is waiting
primed to do it's educating

unwanted, uninvited kin
it creeps beneath your crawling skin
it lives without it lives within you

feel the fever coming
you're shaking and twitching
you can scratch all over
but that won't stop you itching

can you feel a little love?
can you feel a little love?

dream on dream on

blame it on your karmic curse
or shame upon the universe
it knows its lines
it's well rehearsed

it sucked you in, it dragged you down
to where there is no hallow ground
where holiness is never found

paying debt to karma
you party for a living
what you take won't kill you
but careful what you're giving

can you feel a little love?
can you feel a little love?

dream on dream on

can you feel a little love?
can you feel a little love?

dream on dream on
dream on dream on

depeche mode - dream on

amor eternno

o silêncio é a moldura do amor dele.

ele se cala diante do sorriso dela. não porque parece desdenhoso, mas porque o desarma no primeiro segundo.

e fica em silêncio, enquanto ela pega um cigarro despretensiosamente e o acende.

é em silêncio que ele observa o cabelo dela cair sobre o rosto.

e é em silêncio que ele deseja que a noite não acabe nunca.