4.3.06

o mais antigo jogo

fiz uma coisa nada bonita, hoje.

mas, sabe?

é muito bom sentir o poder, de vez em quando...

cena doméstica.

ele está abaixado, no canto da cozinha.

no chão, uma poça de um líquido vermelho e um pouco viscoso se espalha, silenciosa e vagarosamente.

ele tem uma faca nas mãos.

há um corpo, estendido no chão... as roupas absorvendo o vermelho do líquido espalhado.

ele chora. ele está com raiva e medo.

o corpo no chão lentamente pára de respirar.

ele só tem 10 anos.

pedaços de você

sinto o gosto doce e avermelhado de uma noite de verão. inundo os olhos com as luzes da cidade, imaginando um mar de estrelas, à distância.

tomo consciência do quão perdido eu estou em meu próprio mundo quando imagino frases ditas em um telefonema descompromissado:

- eu me apaixono direto por detalhes de várias pessoas, mas assim que chego perto e conheço melhor, tenho uma vontade enorme de me afastar.

os detalhes já não são tão importantes... ou talvez sejam tão poucos, que não importem, isoladamente.

ah! se eu pudesse montar a mulher perfeita, feita de todos os detalhes apaixonantes de todas as pessoas que encontrei por aí...

"a soma das partes é maior que o todo."

quem dera...

fecho os olhos e imagino, em meu constante sonhar acordado, um amálgama feminino, composto de olhares insinuantes, sorrisos descontraídos, voz doce (com um toque de atrevimento), cheiro de chuva, pele de mármore e sabor de morango...

todos esses detalhes dando forma a uma alma complexa (porque eu não consigo amar coisas e pessoas simples).

2.3.06

eu

eu, eu mesmo...
eu, cheio de todos os cansaços
quantos o mundo pode dar.
eu...
afinal tudo, porque tudo é eu,
e até as estrelas, ao que parece,
me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
que crianças não sei...
eu...
imperfeito? incógnito? divino?
não sei...
eu...
tive um passado? sem dúvida...
tenho um presente? sem dúvida...
terei um futuro? sem dúvida...
a vida que pare de aqui a pouco...
mas eu, eu...
eu sou eu,
eu fico eu,
eu...


álvaro de campos (ou fernando pessoa, para alguns)
ei você!

você mesma, que se imagina a criatura mais esperta do mundo...

você não sabe de nada. não consegue enxergar um palmo a frente do seu nariz.

antes de tentar tirar suas conclusões pelas aparências das coisas, deveria tentar perceber o que há realmente por dentro.

eu escrevo sobre o que eu quero, quando eu quero e como eu quero. não faço concessões sobre isso. sabe?

eu ouvi muitas e muitas vezes sobre alguém que queria escrever sobre o que quisesse.

bom... agora é a minha vez.

meus textos falam sobre o que eu quiser.

se você quiser conhecer a verdade sobre o que escrevo, venha perguntar a mim. é a mim que essa verdade pertence.
eu odeio demais quando alguém que eu imaginava me conhecer simplesmente me mostra o quanto eu não sou compreendido.

odeio muito isso.

e o pior é que isso tem acontecido tanto, nos últimos tempos...

autopsicografia

o poeta é um fingidor.
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.

e os que lêem o que escreve,
na dor lida sentem bem,
não as duas que ele teve,
mas só a que eles não têm.

e assim nas calhas de roda
gira, a entreter a razão,
esse comboio de corda
que se chama coração.

fernando pessoa

28.2.06

eles sorriem, sob o efeito do vinho. eles deixam a comida no prato, não sentem fome...

ele olha para ela e não consegue deixar de perceber os pequenos detalhes que o deixam maravilhado... ele comenta algo sobre isso, causalmente.

ela sorri de uma forma encantadora, um sorriso proporcionado pela inibição do vinho.

eles contam sobre as vidas deles, falando de todos os erros e acertos, falando sobre amores e corações partidos.

respondem sempre "eu sei, eu também sou assim!", sinceramente entendendo-se.

ele vai embora no dia seguinte... e queria tanto saber dizer a ela o quanto amou os momentos que passou ao seu lado.

eles sorriem, em silêncio, numa noite de carnaval.
me senti em vários momentos como o protagonista de "encontros e desencontros", nos últimos dias... mas, quer saber?

foram dias muito legais. de verdade.

saudade... (sorriso)