7.9.04

through the window

enquanto observa os últimos móveis serem colocados dentro do caminhão, ele pensa em tudo o que havia acontecido nos últimos tempos...
não sem lembrava de quando se mudara para lá. sua mãe disse uma vez que foi logo após o seu aniversário de um ano.
enquanto crescia, aprendia todos os segredos daquele lugar que, ficara sabendo, foi contruído por um industrial para acomodar sua grande família. todos os quartos, o porão e o sotão (esse tinha um teto inclinado, que fazia com que qualquer adulto fossem até lá tivessem que se abaixar, para não bater a cabeça. foram diversas e diversas expedições exploratórias pelo jardim enorme, que terminava onde um bosque parecia criar uma cerca invisível, nos fundos.
dois dos homens que estavam carregando os móveis levavam agora a escriva do escritório, onde seu pai costumava passar o dia, escrevendo sobre coisas que o menino ainda não entendia.
ele sentiu uma pontada de tristeza tomar o seu coração, quando se lembrou que nunca mais veria o pai, novamente.
o funeral havia acontecido há algumas semanas mas parecia que tudo acontecera minutos atrás... os amigos de seu pai compraram uma coroa de flores com uma inscrição em negro sobre uma fita branca.
não sentira medo do mundo, naquele dia. apenas uma tristeza profunda e que parecia entorpecer todos os seus sentidos. seu pai havia ido sem que ele desvendasse todos os segredos da relação que eles tinham. sua mãe chorava muito. o menino sentiu que sua mãe sentia medo, pois naquela noite ela foi a seu quarto muitas vezes. ficava parada na porta, olhando-o enquanto ele fingia dormir. por duas vezes ela sentou ao lado do menino, chorando baixo. ele quis consolá-la mas não sabia o que dizer. sentia falta do pai mais do nunca, nessas horas.
quando a sua mãe ligou o carro e fechou os vidros, separando-os daquele que parecia um novo e estranho mundo, o menino colocou a mão no bolso do casaco e tocou o pequeno objeto, sentindo um pouco de calor chegar a seu coração.
o pequeno prisma de cristal com um pequeno globo incrustrado dentro sempre fora o objeto que mais chamava a sua atenção, na escrivaninha do pai... e agora era dele. uma lembrança de um mundo que havia terminado.
sabia que seu pai sempre estaria com ele, enquanto tivesse aquele prisma.

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