"michel ama carla!"
as letras feitas com spray pareciam velhas demais naquele muro. ele se perguntava se elas teriam durado mais do que o sentimento que elas proclamam...
o ar estava um pouco frio e os carros passavam por ele com seus faróis acusadores. ele gostava de se sentir anônimo enquanto caminhava, à noite. a luz dos veículos trazia ele à realidade da vida rápido demais.
sentia o resto do gosto da bebida. estava se tornando um hábito, nos últimos meses. "que ótimo... arrumando novos vícios aos trinta anos. perfeito!"
ele mesmo achava estranho, mas ele gostava de andar pelas ruas antigas e sujas do rio. ele dizia que combinavam com a maneira com a qual ele via a sua própria alma.
"há uma beleza poética na tristeza. uma beleza que vem das coisas que poderiam ter sido, mas se desfizeram. uma beleza que vem dos desgostos, da perda e da dor. a dor é bela, se você se afasta o bastante para apreciar. há beleza em cada coisa da vida. basta ter os olhos certos."
em cada poste de iluminação pública enferrujado, em cada esquina transformada em casa por um mendigo, em cada muro pixado, ele via um pedaço de suas próprias experiências.
"o lirismo do beco é construído de sujeira e sonhos destruídos. mulheres abandonadas e prostitutas baratas. a falta de perspectiva cria uma realidade própria, contundente e cheia de detalhes que sobrecarregam os sentidos. a certeza de não ter futuro algum liberta a alma."
ele caminha, ouvindo sambas antigos em sua cabeça, em direção ao amanhecer.
31.8.06
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