10.9.06

o garoto olha os homens indo embora
apinhados como bichos, no caminhão
que chora e range enquanto se afasta.

ele ficou com as irmãs e a mãe.
o homem que ele chama de pai se foi
o garoto que ele chama de irmão também.

nos meses seguintes, suas únicas companheiras são
a mãe
as irmãs
e a fome.

ele vai com a irmã mais velha todas as manhãs, buscar água
água com cor de terra
e gosto de terra
mas que os faz sobreviver mais um dia.

o sertão tem a cara da morte,
usa uma máscara de caveira de boi.

um dia, sua irmã mais nova morreu
assim, assim...
parou de se mexer (não chorava há alguns dias),
desistiu de lutar contra a fome e a sede.

a mãe a enterrou no fundo do quintal.

a morte é companheira do menino.
ele conversa com ela todos os dias, quando vai dormir.

o menino houve a mãe falar de deus e do diabo,
do céu e do inferno.
ele não precisa de explicações,
sabe bem em qual dos dois está.

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