10.9.06

negócio arriscado

a fumaça com cheiro de pólvora se mistura à fumaça de tabaco.

os tiros ainda ecoam no beco. o homem de sobretudo segura a arma no ar, como se fizesse pose para uma foto.

a chuva escorre do corpo caído. uma poça de água e sangue se forma no chão. olhos vidrados olham em direção ao céu.

o homem joga o resto do cigarro fora e guarda a arma calmamente. sente o cano ainda quente, no coldre junto ao peito.

ele fecha o sobretudo e caminha em direção a um carro. a chuva cai violentamente, como se deus quisesse lavar o mundo de tudo o que é errado.

"não ia sobrar muita gente", o homem pensa.

ele entra no carro e pega algo no porta-luvas. olha o distintivo da polícia por um segundo e o recoloca dentro do bolso da camisa.

um celular toca. o homem atende:

"eu."

"e então?"

"já foi."

"ótimo. nos encontramos mais tarde?"

"ok. mas esse foi o último."

"a gente conversa sobre isso depois. no lugar de sempre?"

"é. trás a grana."

"claro. até."

as luzes dos faróis tentam iluminar a noite, mas a chuva não deixa.

o homem sai com o carro, sabendo que o corpo que está jogado no beco não foi o último. mais um corpo espera por ele num restaurante, com uma mala cheia de dinheiro.

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