"eu tenho que ir."
ela olha pra ele, por um segundo. não esperava que essa frase viesse dele. ela sempre foi quem no fim ia embora, desligando a luz e fechando a porta de um capítulo na vida de outras pessoas.
"por quê?"
"porque eu amo você. porque eu amo de verdade."
ele olha pra ela de forma solene. ela pensa em como ele parece sério, muitas vezes, quando fala dos sentimentos dele, como se fossem tudo o que importasse para ele.
"então fica mais um pouco."
"não posso. porque eu não sou o que vc precisa. ou você não é o que eu preciso. não agora."
ele para por um instante e retorna a falar:
"não. esta tudo errado. eu sou tudo o que vc precisa. e você é tudo o que eu sempre procurei, minha vida inteira. mas acho que somos burros demais pra perceber a preciosidade disso."
"mas tem sido tão legal. os nossos momentos."
"pois é... mas são momentos. sem continuidade. eu fico no telefone, esperando uma ligação sua. ou eu prometo ligar e não ligo. temos medo de ser mais do que somos. temos medo de ser tudo o que podemos ser juntos. e eu não quero, me recuso a ser só em parte."
"eu... eu entendo. mas eu não sei ser diferente."
"eu também não! eu sinto sempre essa urgência de sentir o tudo, sempre. e com você é diferente. mas ao invés de aprendermos um com o outro, ficamos aqui, ligados nas coisas que são comuns aos dois."
"..."
"eu não estou te cobrando, ok? eu estou me cobrando. me cobrando ser mais que alguns momentos bons pra vc. eu quero ser tudo de bom. quero ser tudo o que você pode sentir por alguém. toda a intensidade. boa ou má. me ame até a morte, ou me odeie pra toda a eternidade... mas que seja tudo o que você pode sentir."
ela fica momentos em silêncio. a noite parece fria demais, de repente. o vazio que ela sempre sentiu dentro de si parece estar mais profundo.
"eu não quero ir. não quero mesmo. mas acho que preciso. pra não ser ruim."
"me abraça... ?"
ele a abraça, sentindo o corpo dela frágil, perto do seu. e, pela primeira vez em muito tempo, o coração dos dois bate juntos.
21.7.06
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