ele entra no salão. o ar espesso de fumaça de cigarro cria penumbras por entre a luz das lâmpadas vermelhas.
num dos cantos, uma banda toca alguma coisa que ele reconhece como um arranjo original, mas sem espírito, de um gardel. ele tira o chapéu cuidadosamente. cada movimento seu é sempre cuidadosamente planejado. principalmente ali.
sempre fora um boêmio. conhecia praticamente todos os bordéis de buenos aires, mas sempre voltava para lá.
passou pelas mesas de sinuca, cumprimentando os homens que entregavam o salário semanal para o jogo e as "damas".
o barman entregou-lhe o vinho, antes que pedisse. sempre tomava o mesmo vinho tinto e forte da casa. não era gostoso. mas mesmo assim, era um vício. como ela.
as mãos de outro homem apertavam-lhe o quadril, enquanto dançavam no meio do salão. era uma mistura de deusa e demônio.
na meia 3/4 um maço de notas indicava que a noite havia sido boa para ela.
ele se sentia atraído pela sensualidade do corpo de prostituta dela desde a primeira vez que a viu. ela foi dele, naquela noite. por três vezes.
e em todas as noites em que ele estivera ali.
ele sentia o corpo queimando, só em ver as curvas das pernas dela se emaranhando às do outro homem, ao som da música.
ela nunca dançou com ele. recusara-se desde a primeira vez. perguntara a ela muitas vezes, enquanto fumavam um cigarro que consumava o gozo dos dois. ela apenas se calava.
eles se amaram e gozaram e trocaram juras muitas e muitas vezes. mas ele sabia que ela sempre desceria as escadas novamente, para se entregar ao tango com outros.
puxou o canivete rapidamente, por baixo do terno de seda importado da frança. a lâmina brilho no ar por um instante, antes de encontrar a carne do homem que dançava com ela. cortou-lhe rapidamente o rosto e cravou o metal contra o peito dele, com uma força animal. o sanque sujou-lhe a mão, escorrendo pelo braço. o homem caiu.
a música continuou.
ele a pegou nos braços, enroscando-se em seu corpo. puxou-lhe para si. ela se entregou completamente, como uma virgem, como uma prostituta, como seu amor.
e eles dançaram um tango com cor de sangue.
o vinho em seu copo era vermelho como o sangue e aos poucos o barulho no salão o fez voltar ao bordel, onde ela dançava nos braços de outro e nunca seria dele.
17.7.06
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