19.12.07

o ponteiro se move devagar demais.


a noite demora três noites para passar. por quê? por quê?


desejar algo e não saber o que é maldição.

espírito da cidade

ela observa a cidade do topo do prédio mais alto. uma neblina baixa começa a se dissipar, conforme os primeiros raios de um sol tímido de inverno invade as ruas.
o ar é espesso e frio. o som dos carros mais abaixo começa a aumentar conforme eles tomam cada espaço livre no asfalto.

ela sorri, sentada no beiral. o cabelo e as roupas são de um negro intenso e balançam suavemente com o vento. a pele branca se ilumina com o nascer do sol, parecendo ela própria emanar a luz do dia.

a menina se levanta e abre os braços. olhos de um azul profundo se fecham devagar.

em cada centímetro de seu corpo ela sente a cidade.

no metrô um homem lê um livro, intrigado com a atitude do protagonista e ela está ao seu lado.
um casal acorda mais ao sul e ele a beija, duvidando por alguns instantes do amor que jurou meses atrás.
uma velha joga migalhas de pão para os pombos do parque, enquanto uma menina de olhos azuis e cabelo negro é a única a perceber.
um garoto rico escreve uma carta para papai noel e ela sente em si a empolgação e a magia.
uma adolescente acorda e vê a mancha de seu próprio sangue na cama. com dor e sentindo medo, ela se encolhe, pedindo perdão pela escolha que fez e não sente o carinho delicado feito por uma mão de pele branca.
em cada suspiro, em cada desejo. todos os olhares e todas as palavras são dela.

ela sente fome, dor, sorri, pede perdão, dorme, mata, se maravilha e entristesse.

de braços abertos ela se joga do prédio.

nas ruas, um garoto diz para a avó que sentiu um arrepio.

ela diz que um anjo passou por ele.

29.10.07

ele a observa enquanto ela dorme.

tentando descobrir o que ela sonha, ele imagina lugares distantes e fantásticos.

ela viajando por entre nuvens roxas por um céu azul-esverdeado.
cavalgando cavalos-marinhos pelo oceano, enquanto as estrelas brilham em tons de cores de nomes ainda não criados.

ele sorri, passando a mão de leve por seus cabelos lisos e finos. ela se vira, aproximando-se instintivamente do corpo dele. procurando proteção.

ele a abraça. quieto. lá fora os primeiros raios de sol do dia seguinte chegam ao mundo.

ele suspira, feliz.

feliz...
"me sinto tão só.
e dizem que a solidão é que me faz bem."


tô cansado disso... não quero mais brincar assim não. (sorriso)

spring time

vontade de acordar tarde.

de caminhar sentindo o vento fraco, com nome de brisa a soprar no rosto os cheiros das árvores.

vontade de sentir o calor do sol da manhã, aquele que não dói os olhos.

vontade de ver o dia passar devagar, preguiçoso em um céu de muitos tons de azuis.

vontade de sentir o amor bobo que vem nos dias mais gostosos da primavera.

saudade de um olhar que eu ainda vejo, mas que demoro a decifrar.

vontade de sentar no colo dela e ficar quieto. porque não existem palavras que exprimam tudo o que meu coração insiste em despejar aqui dentro.

22.10.07

som de trovões, lá fora...

e uma tempestade de pensamentos aqui dentro.

ancient call

os sons da floresta me chegam aos ouvidos, mesmo quando não os desejo.

o cheiro trazido pelo vento, o calor da fogueira, as estrelas no céu... os sentidos são tomados pela lembrança de uma época que supostamente não vivi.

mas por que isso?

15.9.07

wandering

sempre ando na direção errada.

presto atenção no que não devia.

como uma criança distraída, olho para o céu, para o chão, para a paisagem que passa rápida.

quando percebo, as pessoas já se foram.

pollock

a gota cai em um formato estranho.

a tela mancha.

a pureza do branco é violada pelo vermelho sangue.

amarelos brincam de esconder atrás do azul.

azuis. céus. mares. olhares. azuis.

pôr-de-sol laranja-despertar.

grama em forma de manchas.

pessoas. todas as cores, em todos os cantos.

pensamentos negros.

palavras de um cinza-chuva.

e o barulho, em tudo o barulho da cor.

eu caminho sobre as cores.

e circulo de dor cinza.

e a inquietação em um amarelo ácido se espalha em riscos.

alma ditada em cores.

por trás de tudo o branco teima em aparecer.

melancolia

ela me seduz.

seus cabelos escuros caem sobre os olhos. olhos de uma intensidade que queima.

um sorriso quase imperceptível no canto da boca. do tamanho exato para aguçar a minha curiosidade.

a pele alva é lisa e convida ao toque.

eu a conheço por muitos nomes, em muitas épocas.

já me entreguei a seus caprichos. noites e noites procurando saciar seus desejos.

fui seu amante fiel e apaixonado.

balbuciava seu nome com um ardor infantil.

melancolia.

mel.

doce de sabor ácido.

8.8.07

coração ferido

há um coração.
ele sangra.
lentamente, de feridas antigas.
ele sangra.
o sangue espalha-se.
rubro.
tinto.
a cada batida, mais sangue.
a cada batida, menos vida.

5.8.07

gostava de ir à igreja, quando pequena. tinha seus pequenos segredos.

sempre que os pais iam rezar, ela ficava olhando as imagens de santos.

imaginava que eles olhavam de volta para ela.

um dia, teve certeza que um deles piscou.
pista de dança.

luz negra.

pele branca.

olhar que enfeitiça.
andando no limite, novamente...

odeio isso.

e não consigo parar de olhar para baixo.

o problema não é apenas que eu não ligue para estar aqui.

o problema é que eu tenho curiosidade pelo que há lá embaixo.

mas tô cansado disso... de verdade.
queria dizer as palavras certas.

ao invés de sempre fazer chorar.

sempre me sinto o vilão de todas as histórias.

:(
apertava o próprio corpo com força, sem conseguir pensar em nada. o quarto parecia diminuir aos poucos. o azul da parede tornava-se um cinza cor de nada, até se tornar impossível ficar ali.

queria gritar, mas a voz morria na garganta.

trancou-se no banheiro, com dificuldade. olhou de relance o espelho, sem coragem de encará-lo.

ajoelhou-se no vaso e enfiou dois dedos na garganta, com força, expelindo o vômito.

de novo...

e de novo...

mas não conseguiu jogar fora o vazio.

20.7.07

tá.

eu sinto saudade de vc sim...

vc me faz querer rir mais. :)
ele toca o espelho, fascinado.

a imagem do outro lado é embaçada... como se coberta por uma fumaça espessa. quase leitosa.

ele não se reconhece no reflexo.

não reconhece os olhos, não reconhece a face. o cabelo está diferente.

ainda assim, ele sabe que no mundo inteiro, não há nada que se pareça tanto com ele.

ele toca o espelho, imaginando como seria atravessar.

ele pensa em hiatos, tempos, erros e acertos. pensa em distâncias entre corações e mentes.

ele imagina o que a pessoa do outro lado do espelho pensa.

o toque da superfície espelhada é frio.

raiva. ele sente raiva e frustração.

grita em direção ao reflexo.

esmurra o vidro.

uma rachadura em forma de teia marca o espelho.

um filete de sangue escorre do local onde o punho bateu.

do outro lado, uma pessoa olha.

diferente, mas ainda assim, iguais.

moto perpétuo

o vento sopra fraco, trazendo ondas leves em direção à areia.

o garoto brinca na beira da água, afastado das outras crianças. ele molda a areia com cuidado. gosta dos pequenos detalhes. gosta de ser diferente de todos os outros.

aos poucos o castelo toma sua forma, erguendo-se na areia fofa e clara. depois de terminado, o menino se levanta e caminha para olhar o castelo de longe.

ele encosta-se nas pedras e espera. pouco tempo depois as ondas começam a subir mais e mais até começarem a bater no castelo.

as pequenas torres vão se desfazendo aos poucos e a construção vai perdendo a forma. em minutos não há nada além de um monte de areia um pouco mais alto que o resto da praia. logo não se nota sinal de nada.

as outras crianças continuam brincando. duas delas riem do castelo desfeito.

o garoto não liga.

ele se sente feliz quando constrói o castelo, mas fica igualmente encantando quando o mar vêm e toma tudo de volta.

e pensa consigo mesmo qual seria a graça em se construir um castelo de areia que durasse para sempre...

18.7.07

desabafo

desastre aéreo em s. paulo.

estava acompanhando agora há pouco os comentários em sites de notícia sobre o desastre aéreo com o avião da tam em congonhas. espanta em se ver que a maioria esmagadora dos comentários culpa o governo lula sobre o problema com o caos aéreo, a liberação da pista sem todas as medidas de segurança e praticamente todas as desgraças que aconteceram no brasil nos últimos anos.

eu fico indignado com isso. não, eu não sou petista. não pertenço a partido nenhum e tenho altas tendências anarquistas. minha indignação é direcionada aos brasileiros. cada vez que ouço as pessoas reclamando dos casos de corrupção descobertos no governo, a indignação cresce mais um pouco.

desde criança ouço falar que vivemos em uma democracia. que nós elegemos os governantes. que o governo eleito é a representação da nação brasileira. então, senhores, só me resta indagar o quanto a nação brasileira está afundada no famoso mar de lama.

jeitinho brasileiro
tenho dito nos últimos tempos que o problema do brasil é o "jeitinho brasileiro". o nosso famoso jogo de cintura para passar por cima de situações problemáticas e que é tão celebrado pela mídia se tornou, a meu ver, o grande mal do país.
outro dia estava em um ponto de ônibus e logo atrás de mim estavam duas meninas, conversando. em determinado momento uma delas briga com a outra por ter jogado o papel no chão. a outra menina diz que se ela não jogar o papel no chão, o lixeiro não teria trabalho. as duas começaram a rir.

é disso que falo: o brasileiro vive da prioridade pessoal, da capacidade de se dar bem em qualquer situação, com o menor esforço e maior lucro possível.

quantos de vocês aí já deixaram de realizar uma obrigação cível para ter um lucro qualquer?
reclamam da polícia corrupta, mas lembram de oferecer um dinheiro para a "cervejinha" para se livrar de uma multa.

primeiro o meu
nós brasileiros não temos noção de civilidade. não temos senso comum. não observamos regras básicas de convivência pública.

outro exemplo típico:
já tentou pedir a alguém que está em um espaço de convivência pública?
bom, salvo raríssimas exceções, a resposta que irá ouvir será algo do tipo "o lugar é público, eu faço o que bem quiser!"
não.
é justamente o contrário! espaços públicos são feitos para serem divididos entre todos. e é nesses lugares que temos que mostrar o respeito que temos pelas outras pessoas. ninguém é obrigado a gostar de ouvir a mesma música que você.
quer ouvir o último cd de funk, na última altura do seu som? faz isso em casa. mas faz nos horários em que se é permitido fazer isso!

vivemos em um país incrivelment belo. grande pela própria natureza, como diz o hino. mas feito pequeno pelos habitantes.

já chega de pensarmos em nós mesmos o tempo todo. já chega de colocar a culpa nos outros e fechar os olhos quando é algo que favorece a gente.

chega de cobrar do governo um comportamento que deve começar em casa, em pequenos atos.

o país não mudará nunca se não começarmos a mudar as pequenas coisas. não há alternativa.

bom... há uma alternativa.

pegar um avião e mudar de país.

se bem que eu não recomendaria, ultimamente.

17.7.07

o mundo é tão grande.

tenho 5 sentidos.

às vezes isso é tão pouco.
a noite tem a cor do silêncio trocado por dois amantes que temem não dividir nada além de seus corpos nus.


há amor no medo de ficar sozinho?


há verdade em um beijo de despedida?


há esperança em uma cama de motel?
a pequena menina dorme no banco da praça.

os cabelos claros, sujos e endurecidos caem sobre o rosto.

o corpo franzino e pequeno se dobra em posição fetal.

as roupas brancas estão encardidas, rasgadas, amassadas.

as pessoas passam em volta, perdidas em seus próprios mundos.

e não percebem, nas costas da menina, um pequeno par de asas.

15.7.07

um choro

ele se senta no beiral do prédio. o vento sopra as nuvens em direção ao horizonte e os sons da cidade são apenas murmúrios.

ele lembra dela.

o verão que passaram juntos. os segredos trocados embaixo dos lencóis. lembra do sorriso dela, que parecia iluminar a sala inteira. o beijo doce e suave.
ele pensa no silêncio dos olhares apaixonados.
lembra do calor do corpo dela. lembra do olhar silencioso e calmo.

a noite cai aos poucos. as luzes se acendem. a cidade não quer a escuridão.

ele lembra da noite do acidente.

lembra de apertar a mão dela. lembra de sentir a mão afrouxar.

ele pensa no dia do funeral. sente novamente a dor de se despedir de alguém que não deveria ter ido.

ele olha para as ruas. as lágrimas são levadas pelo vento.

é tão fácil se deixar ir. um pequeno empurrão.

terminar tudo.

então ele ouve o choro. ao seu lado, um pequeno rádio, conectado ao quarto da menina.

ela precisa dele.

ele precisa mais ainda dela.

tatuagem

as linhas se desenham aos poucos, sinuosas pelas costas, pelas pernas.
as pernas se enroscam quentes em volta do corpo.
o corpo se move, em meio a gemidos e suor.
o suor escorre pelo rosto, pelo pescoço.
em curvas sinuosas, pelas costas, pelas pernas.
feito as linhas da tatuagem.

luz

o sol brilha em todas as coisas. a luz amarela e quente se espalha pelo ar.
a luz, dizem, é símbolo da verdade. porque a luz nos faz enxergar o mundo.

ainda assim.

ainda assim, o sol faz meus olhos doerem.

(what heals me, kills me)

lembro das manhãs de inverno da minha infância. minha mãe me obrigava a ficar sentado ao sol, por causa da bronquite.

lembro que eu não gostava nada, porque tinha que ficar parado, ali.

o mundo é engraçado.

12.7.07

existem dias em que todos os sons do mundo parecem machucar.
há um jardim além do reino dos meus pensamentos.

só consigo alcança-lo em meus sonhos.

é um jardim escondido. lá não há pessoas.

o lugar é antigo.

mais antigo que tudo, acredito.

as plantas e flores crescem naturalmente, em seu ritmo invisível.

o silêncio do jardim só é quebrado pelo som de meus próprios passos.

no centro desse jardim antigo há um banco de pedra, que é iluminado por uma lua eternamente prateada.

é nesse banco que descanso o corpo e a alma.
gosto de penhascos.

sonho às vezes com um penhasco à beira mar.

as ondas batem, mais abaixo. o som acalma. faz a mente viajar.

sonho que estou olhando o mar.

e tudo parece perfeito.
ele olha em direção à chama. não pode evitar, é a natureza dele.

o fogo parece dançar ao som de uma música inaudível. o homem é fascinado pela dança.

ele sabe o quanto o fogo é traiçoeiro.

ele sabe o quanto a carne é frágil ao toque do fogo.

mas ele sabe, de uma forma íntima demais para explicar, que ele precisa da luz trêmula e do calor febril.

a chama dança. sinuosa e lânguida.

o homem observa e deseja.

10.7.07

o silêncio oprime.

as últimas estrelas se escondendo no horizonte me lembram que logo precisarei colocar novamente a fantasia do personagem que irei representar amanhã.

eu sou um contador de histórias.

não. sou o libertador de histórias.

prisioneiras da mente, elas imploram por ganhar o mundo. quando fecho os olhos, posso vê-las.

todas elas.

algumas me assustam.

mas preciso libertá-las.

é nosso trato.

eu as liberto e elas levam consigo um pouco da dor.

rogo pelo dia em que todas irão embora e no fim sobre apenas eu.

e o silêncio.

8.7.07

sessão de fotos

nós dois
linhas tortas (foto: mariana mello)
degraus (foto: mariana mello)
meu pai (foto: mariana mello)
nas sombras
beija-flor

beija-flor


minha mãe
linha de pensamento
vida

4.7.07

memento mori

dizem que quando um general romano voltava vitorioso para casa, faziam um festival chamado triunfo, onde ele era carregado pelas ruas, para ser ovacionado.
atrás dele ia um escravo que repetia de tempos em tempos a expressão "memento mori", "lembre-se que és mortal".

isso lembrava o general que apesar de se sentir como os deuses naquele momento, ele era um homem e que o destino dele era igual ao de todos os homens.

às vezes esquecemos isso.

26.6.07

ela me olha com seus olhos grandes e curiosos.

fico a pensar se ela tem idéia do quanto é bonita.

há uma tristeza no seu olhar que me cativa. tristeza de quem não consegue encontrar seu lugar entre as pessoas.

ela sorri um sorriso iluminado.

tristeza e sorriso.

perda e reencontro.

loucura e sensatez.

gosto dela. gosto de ficar em silêncio do lado dela.

fora de sincronismo

o mundo se move devagar demais quando eu quero movimento.

e rápido demais quando eu preciso ficar parado.

não consigo entrar no compasso das coisas.

6.6.07

gosto de manhãs com sol no inverno.

a luz da manhã fica bonita.
eu me movo entre as batidas do seu coração.

em silêncio, com calma.

a cada dia me aproximo mais.
capuccino para o corpo.

um bom livro para a mente.

uma boa conversa para o coração.

um dia perfeito.

o início

ele observa a chama dançando na escuridão. a fumaça se eleva até as estrelas.

uma antiga canção é entoada. uma oração a deuses que vivem além do mundo.

o velho tritura as folhas com calma. a prece continua, repetidas e repetidas vezes. as folhas são misturadas à agua e a caneca é entregue ao garoto.

ele toma o líquido, ainda sem entender o propósito de tudo aquilo.

o velho continua a canção. repetindo e repetindo.

dentro de sua cabeça, a canção fica mais e mais alta, aos poucos. ele olha em volta de si e percebe que não há mais ninguém ali. o velho sumiu.

mas a canção continua em seus ouvidos, enquanto fecha os olhos e desaba.

ele cai para além da terra. seu corpo se perde aos poucos na escuridão, mas ele continua a perceber tudo.

o garoto flui através do fluxo das eras. seu corpo flutuando por um rio de tempo. ele vê o seu pai e seu avô e todos os que vieram antes deles.
ele vê animais correndo por entre nuvens.
estrelas queimam distantes, nascendo e morrendo entre uma respiração e outra.

ele atravessa o portão entre os mundos. não mais um jovem menino, mas agora um homem adulto.

o povo antigo o espera. antigos deuses o observam das sombras.

ele é recebido por uma mulher vestida de sol, estrelas e lua.

ela toca-lhe o corpo, beijando-o. ele retribui as carícias. os dois comungam entre as eras. ela é a terra em que ele vive. ela é a vida.

ele a toma para si. ela se entrega, reconhecendo nele o rei que ainda está por vir.

ela lhe conta um segredo.

o jovem acorda. o fogo é agora somente uma pilha de cinzas e fumaça.

o sol ilumina as árvores.

e o velho o está olhando com um olhar sério.

- está feito, arthur.

- o que está feito?

- a escolha. você é um escolhido dos deuses, garoto. seu destino não pertence mais a você.

o jovem fica parado por um tempo longo. o velho se vira subitamente e começa a caminhar.

- vamos!

- para onde?

- procurar a espada. você não pode ser o rei sem uma espada.

5.6.07

tenho vício por primeiras vezes.

adoro conquistar.
adoro sentir a emoção de ter algo pela primeira vez.
adoro começar coisas novas.

mas tenho um problema grande em manter tudo, depois.
tenho problemas em cuidar.
tenho problemas em continuar


preciso aprender.

summerisle (the maypole song)

in the woods there grew a tree
a fine, fine tree was he

on that tree there was a limb
and on that limb there was a branch
on that branch there was a nest
and in that nest there was an egg
in that egg there was a bird
and from that bird a feather came
of that feather was a bed

on that bed there was a girl
and on that girl there was a man
from that man there was a seed
and from that seed there was a boy
from that boy there was a man
and for that man there was a grave
from that grave there grew a tree

in sumerisle, sumerisle, sumerisle, sumerisle, sumerisle

on that tree there was a limb
and on that limb there was a branch
on that branch there was a nest
and in that nest there was an egg
in that egg there was a bird
and from that bird a feather came
of that feather was a bed

in sumerisle, sumerisle, sumerisle, sumerisle, sumerisle

on that bed there was a girl (sumerisle, sumerisle)
and on that girl there was a man (sumerisle, sumerisle)
from that man there was a seed (sumerisle, sumerisle)
and from that seed there was a boy (sumerisle, sumerisle)
from that boy there was a man (sumerisle, sumerisle)
and for that man there was a grave
from that grave there grew a tree

trilha sonora do filme "the wicker man"

4.6.07

estou cansado.

não gosto de magoar pessoas.

mas não sou fácil de se lidar.

mas eu estou cansado. queria mesmo férias de mim.

uma montanha. uma floresta verde. simplicidade.

só consigo gostar da simplicidade da natureza.
vi uma foto de um feto abortado, na capa de um jornal.

não devia ter olhado. aquilo estragou o meu dia.

pessoas são estúpidas.

odeio ser uma pessoa.
o vento frio assusta as pessoas.

eu gosto de sentir o vento. gosto de imaginá-lo levando pensamentos ruins embora.

o silêncio das tardes de inverno me dão paz.

o mundo parece quase parar. e por alguns momentos consigo observar a beleza de tudo.

o cinza no céu não é triste. o vento não é melancólico.

sinto saudades dos dias cinzentos. parece que o mundo se torna um pouco mais suportável.
tem alguma coisa quebrada aqui dentro. queria saber como consertar. queria saber o que consertar.

os dias frios me deixam mais calmo. mas sinto vontade de sair caminhando por aí até parar em outro lugar, distante.

sinto falta da magia no mundo.

sinto falta de perceber as maravilhas.

não gosto de ser tão cínico. tão sem esperança.

tenho vontade de voar, mas encaro o abismo e me perco.

21.5.07

estou cheio de palavras vazias

há um segredo em cada coração.
que se esconde tanto e tão bem
que algumas vezes nem o dono sabe que esse segredo existe.
ele observa a cama vazia ao seu lado e sente falta do tempo em que aquilo o incomodava.
queria lembrar o nome dela.
perdido entre todo o lixo jogado no chão do quarto estava o coração dele.
ele quebra o espelho para encarar a si mesmo.
esperava ouvir uma voz conhecida no silêncio de seu quarto. as paredes de pedra o observavam. frias, insondáveis.
lá fora a chuva bati na janela, escorrendo em pequenos cristais translúcidos.
ele gostava da chuva. gostava de olhar os pingos na janela. de alguma forma, ver as gotas escorrerem trazia uma sensação boa.
o papel e o lápis jaziam no chão. palavras desconexas escritas em uma letra trêmula.
nos cantos das folhas, pequenos desenhos que escaparam entre uma idéia e outra.
queria ser outra pessoa.
o ar do quarto parecia-lhe carregado. não conseguia respirar.
a luz do dia se esvai em uma fuga demorada.
ele senta no canto do quarto, esperando ouvir uma voz conhecida.
lá fora a chuva continua a cair.
o lápis continua no chão.
o silêncio continua.

17.5.07

chão do banheiro

a menina está sentada no chão do banheiro.

ela olha para a faca de cozinha a sua frente.

sonha não estar ali. sonha em caminhar no meio de todos sem sentir que tudo o que existe é uma mentira. uma ilusão.

ela abraça as próprias pernas, procurando proteção dentro de si. mas ela encontra um vazio grande demais.

a menina chora.

e aos poucos as paredes vão desaparecendo. a pia pára de pingar e some. a porta trancada parece se tornar etérea. o mundo some, pouco a pouco a sua frente.

o vazio que havia dentro dela pouco a pouco ocupa todo o mundo. não há sons. não há sensações. só um nada claustrofóbico.

ela tateia o vazio. ela sente o frio do cabo de metal.

a faca raspa forte no braço. cortando, dilacerando a carne.

com força a menina faz sulcos fundos na pele clara.

a dor traz a realidade de volta.

e a menina balança a cabeça, sentada no chão frio enquanto fios de um vermelho vivo colorem o mundo.
o anjo chora.

em um quarto de paredes sujas e rachadas, ele chora.

as lágrimas escorrem de seus olhos fechados. pequenos diamantes brilham no chão aos seus pés, onde elas caem.

ele sente o coração de toda a humanidade.

e por isso ele chora.

realidade dissonante

inquietação.

por que eu sempre vivi com essa inquietação? por que não consigo calar os pensamentos, para dormir em paz uma só noite.

por que eu preciso me deitar apenas quando o corpo não aguenta mais? por que eu quero absorver cada pedaço, cada fagulha de mundo que há? por que ao fazer isso eu sinto dor?

é como estar em uma sala saturada de luz. abrir os olhos dói demais.

quero pousar a cabeça. quero pousar o coração.

quero sentir uma mão fazendo carinho em meus cabelos e só fechar os olhos e aproveitar.

preciso.

preciso me sentir em foco com o mundo.

16.5.07

mentiras

- o senhor tem um trocado pra me dar? eu tô precisando comprar comida pros meus filhos.

- não, amigo. desculpa, mas eu tô duro.

e o homem continua a caminhar, esquecendo quase totalmente da mulher que acabou de abordá-lo com um olhar perdido. e esquecendo dos 10 reais enterrados no bolso da calça social.


eu odeio mentiras. odeio as pequenas mentiras que contamos: "putz! eu esqueci. amanhã eu trago."
odeio as grandes mentiras: "claro que eu te amo. por que eu mentiria?"

odeio saber que muito do que eu sei é mentira. "mentir é inerente ao ser humano. é necessário para a vida em sociedade", ele diz. que patética é nossa sociedade, então. elevada sobre um pilar de falsidade.

odeio saber que existe mentira em tudo. odeio saber que mesmo sabendo disso, quando descubro uma mentira me sinto traído.

odeio saber que isso é inevitável.

odeio mais ainda saber que eu minto como todos os outros.

15.5.07

inquietação.

porque ela só surge quando estou sozinho?

sinto falta de observar a lua.
eu vejo luz em você.
quando você vê confusão, eu vejo possibilidades.
quando você se perde, eu quero estender a mão.
quando você chora, quero te abraçar.
quando você sorri, eu me sinto um pouco mais feliz.

gosto de ser o seu anjo. gosto de caminhar ao seu lado, olhando pra você do alto. gosto de passar minhas mãos por seu corpo, só pra ter certeza que você está lá.

sou seu amigo.

seu protetor.

seu amante.

você será sempre uma fada de cabelos coloridos e nariz arrebitado.

amo você.
ela tenta gritar. a mão em sua garganta aperta, forte. ela bate nele mas ele a segura.
ela escuta o próprio coração bater alto rápido demais.
o medo escorre por seu corpo, tomando tudo.
respirar. ela precisa respirar.
a mão continua apertando. os olhos dela estão arregalados. ela vê o rosto dele. não há emoção.
ajuda.
alguém ajude.
os olhos dele são negros. o cabelo também. a mão aperta forte.
algo quente escorre pelas pernas dela.
a mão no pescoço vai ficando fria. tudo vai ficando frio.
ela grita, sem som algum. dentro de sua garganta, algo estala e se quebra.
ela olha para ele.
ela vê um brilho na outra mão.
e sente seu corpo se abrir.
frio.
tão frio.
vermelho.
os olhos.
negros.

13.5.07

eu odeio bloqueios de escritor!

shit.
eu não estou acostumado com isso.

ao mesmo tempo em que minha cabeça clama por solidão, por silêncio e lugares vazios, meu coração pede para estar com você.


eu não sei lidar com o amor direito.

parece que ele vai sobrepujar tudo em mim.

dá um pouco de medo, pensar que eu não controlo tudo em mim.

mas ainda assim, eu quero você. e quero estar com você.

2.5.07

aprenda a ler os sinais.

é importante que você aprenda.

1.5.07

dissonantes

olharam um para o outro por muito tempo. conheciam cada marca, cada expressão do rosto um do outro. não havia nada de novo. não havia mistérios, não havia segredos. compartilharam tudo por um tempo que pareceu uma eternidade para os dois. estavam cansados
estavam entediados.

uma manhã ela desperta e ele não está lá. surpresa por um segundo, ela logo sente um alívio por não ter que contemplar aquele rosto novamente tão cedo.
ela resolve caminhar. os raios de sol iluminam as pedras no caminho, as árvores parecem resplandecer com uma vitalidade renovada.
ela chega a uma praça e senta, observando tudo a sua volta. de repente, uma voz diferente chega-lhe aos ouvidos.
ela se vira e percebe um jovem. um rosto novo, desconhecido.
uma pontada de preocupação lhe toma o coração, mas logo ela é derrotada por uma excitação grande. ela ouve as palavras do rapaz e elas são todas novas.
ele parece trazer um ar de frescor um mistério no olhar que a deixa curiosa por mais.

na casa dela o outro homem, aquele que ela conhece até demais chega e encontra a cama vazia. um olhar de espanto é trocado rapidamente por um certo alívio. ele senta na cama e observa as flores que trazia. ele sente uma liberdade nova tomar o seu coração, mas as flores o lembram de algo precioso.

a mulher sorri, encantada. o rapaz a leva a lugares novos. ela conhece novos rostos, descobre uma nova vida. sente-se renovada por dentro e por fora.
mas ela observa os olhos felinos do rapaz e sente algo diferente.
ele ainda parece o mesmo, mas de repente o brilho que parecia vir dele se torna muito tênue. e, inevitavelmente ela começa a se lembrar do olhar do homem que conheceu há tempos. e começou a comparar o olhar dos dois.
e a cada dia, toda aquela nova vida parecia-lhe fútil, sem razão.

na casa antiga, o homem se deita cedo e olha o teto. na mesa de cabeceira um ramo de flores começa a murchar, enquanto ele tenta se lembrar do sorriso conhecido dela. ele sonha em reencontrar o rosto dela na multidão de desconhecidos, lá fora.
e, sozinho, ele chora.

a mulher está deitada ao lado do rapaz. na escuridão da madrugada, ela toma uma decisão.
no dia seguinte ela volta à casa que abrigou-a durante anos. ela entra no quarto e o encontra dormindo. ela senta ao seu lado e chama o nome, surpresa com a sensação boa que isso desperta.
ele acorda e a vê. saltando da cama, ele a abraça.
ela sente o calor bom do abraço dele.

mas agora, quando ele a olha, vê algo diferente. é o mesmo rosto, a mesma mulher, mas ele percebe alguma coisa por baixo de tudo.
e ela ainda gosta de olhar para ele. mesmo tendo que esconder a vergonha que sente de si mesmo.

eles se beijam, os mesmos, mas ainda assim, diferentes.

Nereid

16.4.07

tô me sentindo perdido...

queria dormir do seu lado hoje, fadinha. queria falar tanta coisa.

há um silêncio grande demais no meu quarto.

perdidos

- você não se perdoa nunca?

ele olha para ela e pensa em tantas coisas do passado antes de responder.

- não. eu sempre acho que estou fazendo algo errado. sinto essa síndrome de super-herói, uma vontade de ajudar a outra pessoa. mesmo eu estando muito mal.

a garota o observa com um olhar triste.

- e quem vai te ajudar?


- ninguém.

no silêncio, eles se abraçam.

10.4.07

ele usa a faca de forma seca.

o corte é reto.

o sangue desce em um filete único, manchando de vermelho o tecido branco no chão.

ela observa, em silêncio.

um juramento é feito.

dois corpos se unem para sempre, tentando transformar em matéria o que duas almas sentem.
se sentia melhor sozinha.

ela ouvia a conversa da amiga e ficava pensando que estava melhor sozinha. experimentara sensações novas, experimentara emoções novas. lembrou-se de todos os choros as brigas e irritações de um namoro e pensou que estava bem melhor sozinha.

acabou fazendo a vontade da outra menina. seria um encontro só. uma tarde no shopping. mais inofensivo que isso, impossível. e sempre poderia dar a desculpa que precisava ir mais cedo pra casa. que chances haveriam de ele ser alguém interessante?

o domingo chegou. a tarde veio e ela chegou cedo e resolveu tomar um cappucino. a amiga deveria chegar logo.

de repente ela ouve um "oi!" vindo de algum lugar ao seu lado.

o rapaz sorria de forma clara, um sorriso quase familiar.

simpático, mas nada demais.

ele sentou ao seu lado e começou a conversar. ela gostava muito de conversas, mas achava que o início do papo estava meio chato. ele parecia ser tímido. ou só chato, mesmo.

a amiga chegou e fez a apresentação tardia. foram passear no shopping.

a tarde foi divertida. comeram, brincaram no fliperama e conversaram muito, sobre tudo.

e o rapaz sorria, com um sorriso de menino.

simpático. era isso. ele parecia simpático.

a tarde terminou. o domingo foi embora. a amiga perguntou sobre ele.

ela disse que o achou simpático. um ótimo amigo. só isso.

a menina e o rapaz começaram a conversar pela internet.

estranhamente, a cada dia que passava, ele parecia mais familiar a ela. gostos parecidos. desejos parecidos.

um dia ela resolveu visitar o blog dele. percebeu que ele era meio estranho. gostava de coisas estranhas, escrevia sobre vampiros e sangue e pessoas estranhas. se afastou um pouco.

ele sorria, dizendo a ela que aquele não era o seu eu verdadeiro. existia muito mais por baixo da fachada de rapaz mau e solitário.

ela se pegou um dia pensando nele. havia algo nas palavras que ele enviava a ela. havia algo em seu jeito.

simpático. sim, ele era simpático.

mas havia algo mais.

as noites se passaram. segredos foram trocados. promessas foram feitas.

a simpatia se transformou em afeto.

o afeto, um dia virou bem-querer.

o bem-querer transfigurou-se em amor...

hoje estão juntos.

e ela ainda se maravilha com o sorriso dele.
odeio o som do telefone se desligando.

porque te leva embora.

porque me deixa sem explicações.

porque eu quero falar mais.

porque eu quero mais.

mais do que o som terrível de um telefone se desligando.

700

setecentos posts sobre o nada...

e a certeza de saber que esse "nada" guarda em si sentimentos diversos...

perdas, encontros, desencontros, amores, desejos, saudades, frustrações, pequenas e grandes alegrias...

um nada cheio de coisas.

um nada que é tudo que não encontra voz no mundo das pessoas.

um nada órfão de explicações, mas repleto de significados.

um brinde ao nada.

24.3.07

por que só eu escuto o choro de uma criança que não nasceu?

:(
você é a minha versão feminina...

e, por sorte, é muito mais bonita!!! (sorriso)

te amo, pequena garota de cabelos coloridos...

minha personal delirium!
ela se contorce durante o sono. sonha com algo crescendo dentro de seu corpo.

algo que se alimenta do corpo dela.

algo que se movimenta. que a comprime por dentro, sempre querendo mais e mais espaço.

ela quer destruir o intruso.

matar

expurgar

ele se movimenta em seu abdôme.

e a cada movimento

ela se lembra de outro monstro

de outra invasão.

ela quer matar os monstros.

ela precisa.

mas não consegue.

por quê?

por quê?
não gosto do seu silêncio. ele me lembra demais coisas ruins.

às vezes me sinto bobo, querendo que você fale.

você tem direito de ficar quieta.

eu só acho o silêncio estranho, às vezes.

sagrada blasfêmia

quero provar de novo seu corpo. o gosto nunca me saiu da cabeça.

meus dentes arranhando a pele, enquanto a língua brincava alucinada, sentindo cada porção de pele.

penso em seu sangue, sempre, sempre, quando olho para as veias sobressaltando-se na pele clara do seu braço.

penso no vermelho. penso no gotejar lento e interminável.

seu corpo

seu sangue

quero comungar com você.
há um mundo estrangeiro a minha espera.

eu sempre soube que não estava preso a um lugar.

estranha sensação de perceber que se é menor e maior do que se imaginava.

tudo ao mesmo tempo.
gosto dos seus cabelos coloridos...

arte

não escrevo poesias,
sou vítima delas.
insinuam-se, obscenas,
cheias de curvas,
parábolas,
hipérboles,
metáforas à mostra.

figuras de linguagem
me seduzem

não escrevo contos,
eles me são entregues em sonhos
por deuses antigos.
encontro-os em antiquários,
escavo-os de antigas pirâmides.

não há um único texto em mim que seja meu
esqueço-os assim que os transporto para o mundo.
psicografados,
teletransportados,
imaginados.

não há uma única verdade em mim que seja absoluta
somente a absoluta falta de verdades.

as palavras brincam ao meu redor,
eu as absorvo

regurgito poemas disformes
contos órfãos com bocas famintas
de leitores.

17.3.07

changes

still don’t know what i was waiting for
and my time was running wild
a million dead-end streets and
every time i thought i’d got it made
it seemed the taste was not so sweet
so i turned myself to face me
but i’ve never caught a glimpse
of how the others must see the faker
i’m much too fast to take that test

ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
ch-ch-changes
don’t want to be a richer man
ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
ch-ch-changes
just gonna have to be a different man
time may change me
but i can’t trace time

i watch the ripples change their size
but never leave the stream
of warm impermanence
so the days float through my eyes
but still the days seem the same
and these children that you spit on
as they try to change their worlds
are immune to your consultations
they’re quite aware of what they’re going through

ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
ch-ch-changes
don’t tell them to grow up and out of it
ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
ch-ch-changes
where’s your shame
you’ve left us up to our necks in it
time may change me
but you can’t trace time

strange fascination, fascinating me
ah changes are taking the pace i’m going through

ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
ch-ch-changes
oh, look out you rock’n rollers
ch-ch-ch-ch-changes
(turn and face the strain)
ch-ch-changes
pretty soon now youre gonna get a little older
time may change me
but i can’t trace time
i said that time may change me
but i can’t trace time

david bowie - changes

13.3.07

a bondade é um ato anti-natural.
o pequeno zé tinha um balão vermelho.

a mãe o observava, sentada no banco da praça.

o garoto sorria, brincando com o cordão que o ligava ao balão. o pequeno zé corria e via o balão flutuar meio solto, meio preso atrás dele.

a pedra se interpôs entre o menino e sua corrida.

o menino caiu... o balão fugiu e subiu...

o menino chorou, enquanto via um ponto vermelho cada vez menor flutuar e desaparecer no céu.

o pequeno zé cresceu.

um dia, ensinaram a ele que a terra, o lugar onde ele e todo mundo morava, era como uma enorme bola que flutuava no espaço.

zé pensou que em algum lugar havia um menino triste, por ter deixado o mundo escapar...

encontros

ela chora ao telefone.

confusa, sem esperanças, fragilizada.

ele escuta o choro, as lágrimas parecem machucá-lo, abrindo um caminho até o seu coração.

ele a ama.

mas não sabe o que fazer.

ela diz que se odeia. ele pede para que ela não vá embora.

ela está perdida.

ele não sabe quem é.

ainda assim, eles precisam demais um do outro.
a luz entra pelas frestas da janela do prédio.

pequenos tijolos quadriculados filtram a luz, como milhares de olhos de insetos.

o mundo chega a mim fragmentado.

ainda assim, alguns dias ele parece grande demais.

busca

há algo perdido no mundo. sinto a falta dessa coisa. dessa coisa que não consigo nomear, mas que eu sei que deveria existir.

vivi a vida a procurar uma resposta para esse sentimento.

pensei estar louco algumas vezes. pensei estar próximo algumas vezes.

desejei que a resposta fosse alguém. busquei a resposta em braços e camas diferentes.

mas no fim da noite o silêncio me mantinha acordado.

o sentimento se tornou vazio. o vazio, desespero.

o desespero me levou ao mais fundo e mais escuro poço.

acho que de algum modo doentio, acreditei que lá haveria alguma resposta.

gastei minha juventude na busca.

tornei-me homem.

cínico.

me afastei de todos.

me afastei do mundo.

contemplei o vazio incomensurável do universo.

um universo de vazios.

um espelho de mim.

8.3.07

sinto saudade de você o tempo todo...

é bom te ver...

um calor gostoso pelo corpo...

os últimos dias têm sido de um frio estranho...

me esquenta? por favor?

nada

alguém me faça escrever algo bom...

de volta

post demorado pra sair...

eu estou meio que num exílio auto imposto da internet... não tenho certeza se quero voltar... enfim... estamos conversando.

mas eu estou com vontade de escrever, apesar de estar me sentindo muitíssimo estranho por dentro.

27.2.07

onde encontro o botão "verão off"???
e na escuridão, percebo o olhar em minha direção.

duas chamas, ardendo de inveja e cobiça.

aqueles olhos desejam destruir cada coisa que construo.

só assim "ele" se sente realizado

eu observo o brilho daquele olhar, reconhecendo a imagem que vejo

através do espelho.

amor sem regras

quero que você me mostre o mundo,
o seu mundo,
com seus olhos.

quero que me ensine que além do negro véu
existem cores novas,
excitantes.

deixa eu aprender sobre você.
deixa eu conhecer você,
desvendar o segredo que vive em seus olhos

me liberta da carne,
me tira o juízo,
toma minha alma.


deixa eu descobrir
a nudez do seu corpo
e te envolver em um manto de prazer.

ajude-me,
destrua-me,
recria cada conceito meu.

quero ser seu,
só seu,
e te quero minha,
toda minha,
multiplamente minha.

traz a esperança de volta
na pequena forma
que se aninha em seus braços.

expurgue cada dor de mim.

abençoe cada gemido de prazer.

eu quero tudo:
todos os sonhos,
todos os desejos,
de você
com você
para você.

casa comigo.

apaixone-se um pouco a cada dia.

deixa sua alma nadar na minha.

pois eu amo!

sim, eu amo!

como amo...

26.2.07

adoro quando você faz barulhos imitando uma gatinha. (sorriso)
estou me sentindo só e cansado.

deixa eu encostar a cabeça no seu colo e descansar?

viver às vezes é uma tarefa muito grande.

é preciso continuar... mas é difícil...

simples

estou com medo de algumas coisas, hoje.

vontade de passar a mão pelo seu cabelo, fazendo carinho de leve. vontade de olhar para você enquanto faz qualquer coisa, só pelo prazer de saber que você está por perto.

desejo de beijar a sua boca docemente, um milhão de beijos, até você ter sono e dormir com jeito de criança.

estou um pouco triste. triste de saudade, triste por não saber o que fazer, triste por só poder esperar, agora.

por que o simples é tão complicado de alcançar?

20.2.07

clementine: joely?
joel: yeah tangerine?
clementine: am i ugly?
joel: uh-uh.
clementine: when i was a kid, i thought i was. i can't believe i'm crying already. sometimes i think people don't understand how lonely it is to be a kid, like you don't matter. so, i'm eight, and i have these toys, these dolls. my favorite is this ugly girl doll who i call clementine, and i keep yelling at her, "you can't be ugly! be pretty!" it's weird, like if i can transform her, i would magically change, too.
joel: [kisses clementine] you're pretty.
clementine: joely, don't ever leave me.
joel: you're pretty... you're pretty... pretty...

eternal sunshine for the spotless mind

eu adoro o diálogo acima... é tão eu e você, sabe? eu queria muito, muito, muito te fazer entender que é a criatura mais linda do mundo. que não precisa fazer nada para que as pessoas erradas gostem de você. e que não precisa me chamar a atenção, porque eu só consigo olhar para você...

amo tanto...

isso faz com que me sinta bem... e vivo. mas também traz um medo estranho...
ah! só para registrar:

eu odeio carnaval.
estou um pouco perdido, hoje.

de vez em quando, eu também preciso de alguém me mostrando que vai ficar tudo bem...

queria que vc percebesse mais isso.
não quero ser visto como um pai chato, que fica regulando as coisas.

não quero.

eu quero o seu bem... acredite ou não.
estou cansado...

cansado do corpo e da mente.

odeio repetir as coisas.

odeio ser o chato.

e muitas e muitas vezes odeio ser eu.

eu acredito nas pessoas quando elas me dizem coisas,

acredito na palavra delas,

acredito que é fácil nos entendermos.

acredito mesmo que sejamos cheios, cheios de erros (eu, com certeza sou)

mas eu quero mais:

quero acreditar que palavras trocadas entre amantes não são palavras jogadas ao vento.

quero acreditar que eu posso ficar tranquilo. eu quero muito, muito mesmo, ficar tranquilo.

ah! não sei o que estou dizendo.

estou triste, acho.

triste e cansado.

meu coração pede repouso...

8.2.07

é estranho...

tem dias que me sento ao computador com uma história na cabeça. exata: início, meio e fim totalmente definidos.

mas ela se recusa a ser digitada. recusa-se a sair do mundo das idéias.

minhas histórias têm vontade própria.

a você

eu observo você.

os gestos, os olhares.

aprendo seu jeito de falar.

tento descobrir seus sonhos,

tento desvendar seus desejos.

e no fim da noite

aprendo a te amar de novo.

dor de crescimento

ele pega o filho depois da escola. a professora o reconhece. de duas em duas semanas ele sai correndo do trabalho vai buscar o menino do outro lado da cidade.

quase sempre chega alguns minutos atrasado, mas todos na escola parecem compreender e mostram um sorriso simpático.

o homem olha para o garoto, por detrás das lentes dos óculos. parece que a cada dia ele cresce mais. uma onda de orgulho passa por seu coração.

no caminho de volta para casa, eles conversam sobre a semana. o menino olha para fora, tentando capturar cada segundo do caminho. ele imagina muitos mundinhos, onde as pessoas lá fora vivem aventuras fantásticas.

o pai estaciona o carro e eles entram na casa. o garoto corre para seu quarto e joga a mochila com as roupas para o fim de semana.

eles brincam e mais tarde jantam juntos. o menino acha que o pai tem um olhar triste, às vezes. mas sempre diz que está tudo bem. "o mundo dos adultos é tão complicado", pensa, em silêncio.

o homem arruma a pequena cama e coloca o filho para dormir, mas ele reclama que está sentindo muitas dores nas pernas. o homem se lembra da própria infância e lembra do que a sua mãe costumava falar sobre as "dores de crescimento" e fala:

"filho... isso são dores de crescimento. é que o seu corpo está crescendo e como você está ficando muito grande e forte, dói um pouquinho. mas não tem nada demais, tá?"

ele passa uma pomada nas pernas do garoto e depois que o pequeno cai no sono, ele deixa o quarto.

sentado na sala, o homem segura um porta-retrato entre as mãos.

na foto, três pessoas estão sorrindo. ele olha e pensa que aquilo parece ter sido há séculos atrás.

mas faz tão pouco tempo.

ele pensa em todas as coisas que se perderam. e pensa em tudo o que viveu e o que aprendeu.

ele sente uma dor na alma.

e lembra que crescer dói.

3.2.07

sonhos

ela era uma menina inquieta. não que isso fosse algo ruim, mas seus pais tinham que lhe dar milhares de avisos sobre coisas perigosas. no fundo eles gostavam do jeito moleque dela.pareciam ser uma família feliz.

a infância foi calma. pequenos arranhões, um braço quebrado, várias e várias bonecas e muitas histórias. ela adorava dormir escutando seu pai contar histórias à beira da cama. havia algo na voz dele que a acalmava.

seu primeiro beijo foi aos 13 anos. ela não gostava tanto do menino, mas ele era um dos mais bonitos da escola. ela mesma chamava a atenção de muitos.

ela gostava de dançar. quando estava na pista, era como se nada mais no mundo existisse.

a menina conheceu ele quando fazia faculdade de história. eles não tinham muita coisa parecida, mas não desgrudavam um do outro.

eles se casaram depois que terminaram a faculdade. ela gostava de trabalhar dando aula e a vida de casada era muito mais interessante do que ela imaginava.

eles envelheceram juntos. os dois costumavam escrever histórias e contar para seus dois filhos e depois para os netos.

gostavam de passear juntos e gostavam de cinema e pipoca.

já velhinha, ela gostava de observar os netinhos correndo no quintal. sentia-se feliz.

ela está na sala de parto. olha para o lado e vê a mãe chorando, deitada. seu corpo de bebê é incapaz de se estabelecer. aos poucos, ela fica fraca demais. a pequenina luta de olhos fechados. tenta viver, mas a luta é longa e cansativa demais.

em seus sonhos, ela é feliz.

na mesa de cirurgia, um coração minúsculo pára de bater.

sonhos

ele canta baixo, enquanto observa o fogo. a canção é antiga e já foi cantada por seu pai e pelo pai dele, antes.

uma rajada fria de vento faz as chamas tremerem.

o jovem segura uma vasilha com os restos de um líquido escuro. o sabor amargo ainda permanece em seus lábios e aos poucos, uma sensação quente lhe percorre o corpo.

ele olha para a chama, olhos vidrados no movimento do fogo. aos poucos ele deixa de ser homem e se torna parte do fogo. a canção continua, mas ele parece ouvir outras vozes cantando, além da sua.

o fogo se transforma em fumaça e como fumaça, se espalha pelo ar.

o jovem sobe aos céus, seguindo os caminhos do vento.

ele não tem corpo, agora é somente espírito. a canção toma todo o ar e ele percebe que não é mais ele quem está cantando.

a figura de seu pai aparece por entre as nuvens. o pai de seu pai o acompanha. e o pai dele, junto.

as estrelas formam padrões e desenhos novos.

o jovem deixa-se carregar entre as estrelas. a canção dos antigos muda. agora eles falam diretamente em seu coração.

ele vê sua tribo cavalgando os grandes búfalos, na planície. os animais estão por todos os lados e a visão é grandiosa...

e ele vê um trovão cair do céu e um animal de metal percorrendo as planícies. há um homem branco sobre a grande serpente prateada.

os búfalos fogem do monstro. e ele vê os homens de sua tribo desaparecerem, no horizonte.

o jovem shaman abre os olhos. o fogo crepita, no silêncio da noite. não há mais canto.

não há mais futuro.

sozinho em sua tenda, o jovem chora.
você é o lugar onde não me sinto sozinho.
queria inventar palavras pra dizer o que eu sinto.

as que conheço parecem tão toscas.

não há precisão nas palavras.

29.1.07

niilista em conflito

eu sou naturalmente niilista. é complicado demais, imaginar uma outra existência além desse mundo.

e ainda assim, lá dentro, enterrado fundo em minhas conjecturas e pensamentos, existe uma pequena luz que brilha apesar de toda a escuridão e desolação.

fé?

em quê?

21.1.07

i should wait.

i should be more patient.

i should.
um "click" seco e nada acontece.

ele abre os olhos e não sente nada. o cano de metal pressiona a têmpora direita enquanto ele vê a si próprio no espelho do banheiro. desvia o olhar em um instante, sem conseguir encarar o reflexo.

guarda a arma do pai, depois de retirar a bala solitária. o garoto criou esse "ritual" para poder sair de casa. um dia acordou e não conseguia pensar em razão nenhuma para se levantar. pior... não encontrou razão nenhuma para estar vivo.

só conseguiu pensar em uma coisa: o pai guardava uma arma no armário do quarto. lembrou de ter visto um filme onde meninos brincavam de roleta russa. lembrou de pensar qual seria a sensação daquilo tudo. e lembrou-se que o personagem no filme falou que tinha recebido uma nova chance de viver.

era aquilo que ele queria. algo que lhe mostrasse que ele merecia viver.

então pegou a arma no quarto do pai e se trancou no banheiro. sentado no vaso, ele retirou as balas, menos uma. girou o tambor e o recolocou na posição. sua mão tremeu, quando ele colocou a arma na cabeça.

puxar o gatilho foi mais difícil do que esperava. "um momento apenas", ele pensava. mas ainda assim, era difícil.

ele não morreu naquela manhã.

saiu de casa melhor. percebera um sinal naquilo tudo.

mas o dia foi igual aos outros. aos poucos, a excitação foi passando. nada havia mudado de verdade. talvez no dia seguinte.

mas nada mudou. nem no dia seguinte, nem no próximo. mas ele recorria a arma, quase todas as manhãs.

apenas porque não sentia que era um desperdício estar vivo.
se você pudesse entrar dentro da minha cabeça, eu te mostraria todos os cantos que nunca foram visitados por ninguém. ficaria feliz em te levar a cada momento bom que vivi. poderia segurar sua mão quando relembrasse coisas ruins.

ia deixar você tentar dar uma arrumada em todas as confusões, em todos os traumas, em todos os pensamentos sem sentido.

queria que isso pudesse ser verdade. ando cansado de mim. ando cansado de pensar do jeito que penso.

nha... tô resistindo bravamente à vontade de te acordar agora mesmo e dizer tudo o que eu sinto. mas eu sei que não conseguiria e ficaria com uma cara de perdido no mundo.
eu quero paz... sério mesmo.

não aguento mais uma vida completamente fora dos padrões... acho que isso perdeu a graça, pra mim...

ou talvez eu esteja ficando velho, não sei.


mas eu queria paz.


mas por que eu tenho a sensação de que não vou conseguir?

dreamgirl

20.1.07

por que eu estou triste?
olho os horizontes, como se procurasse uma resposta para a inquietação que toma meu peito. as nuvens distantes deslizam silenciosas, desdenhando dos pobres seres que vivem abaixo.

penso no que foi tirado de mim. uma lembrança feliz que eu nem cheguei a ter. um pequeno sorriso que foi calado antes mesmo de surgir.

eu sinto inveja de outras pessoas.

não por causa das riquezas que conseguiram ou dos seus feitos. tenho inveja dos sentimentos que eles conhecem e que, nesse momento, me parecem ter sido roubados.

o silêncio é a minha única resposta. o deslizar suave das nuvens é o único sinal que recebo dos seus.

há uma lágrima que eu reprimi e que insiste em aparecer quando eu não preciso.

quero ser feliz um dia.

19.1.07

butterflies and hurricanes

change,
everything you are
and everything you were
your number has been called
fights, battles have begun
revenge will surely come
your hard times are ahead

best,
you've got to be the best
you've got to change the world
and you use this chance to be heard
your time is now

change,
everything you are
and everything you were
your number has been called
fights and battles have begun
revenge will surely come
your hard times are ahead

best,
you've got to be the best
you've got to change the world
and you use this chance to be heard
your time is now

don't,
let yourself down
don't let yourself go
your last chance has arrived

best,
you've got to be the best
you've got to change the world
and you use this chance to be heard
your time is now

the muse - butterflies and hurricanes

16.1.07

ele observa o fogo.

hipnotizado, parece não perceber mais nada.

mas o fogo se apaga.

e ele fica lá, olhando a escuridão.
a vida é uma sucessão de saudades.

noites

a calçada molhada brilha, refletindo as luzes de letreiros de neon. uma chuva fina e fria cai no meio do verão, forte o bastante apenas para incomodar enquanto se anda, mas fina demais para se ter vontade de abrir o guarda-chuva.

ele caminha sozinho, a fumaça do cigarro desvia dos pingos que caem do céu. imerso em pensamentos antigos, ele deixa a rua guiá-lo. ele olha para os letreiros que piscam e se revezam em cores fortes com promessas de sensações intensas e prazer inigualável. ele sabe que as luzes das fachadas servem apenas para esconder a verdadeira natureza do lugar.

ele pensa nas mulheres que exibem corpos cheios de marcas de anos de abuso, pensa em crianças perdendo a virgindade em camas sujas para quem pôde pagar mais. ele pensa em filhos criados em meio a álcool e drogas; violência e indiferença.

homens sem alma o olham, desconfiados. o cheiro da rua é forte e desagradável. em um beco escuro, uma mulher entrega seu corpo por alguns trocados para comprar comida. ele se pergunta se há algum alimento que vá tapar o buraco em sua alma.

então ele a vê: o corpo franzino mal desenvolveu curvas que a deixam parecida com uma mulher adulta. o olhar mantém algo de infantil, mas falta algo. ele imagina que seja a inocência perdida há tempos. ela veste roupas curtas que mostram uma pele branca.

ela o vê chegando e finge um sorriso.

o homem pára na frente da menina. ele a olha em um longo silêncio.

ele a vê em outra noite como essa. ele vê o corpo franzino. o olhar inseguro. a pele quase etérea.

e ele vê um corpo jogado em um canto. um corpo de menina.

ele olha novamente para ela e percebe que aquela ali é outra garota.

e mais uma noite, ele foge para as sombras.

e mais uma noite, ele chora em silêncio, pedindo perdão.
eu a observo todo o tempo que posso.
imagino o que passa na cabeça dela, enquanto ela olha para o nada, quieta.
observo o sol bater nos cabelos dela, produzindo brilhos de cores intensas.
invento uma piada boba, para vê-la sorrir...
vejo-a correr, feito criança, feliz e sinto um calor gostoso no peito.

ela me faz bem.

tempus fugit

eu perco o tempo entre os dedos.
entre as batidas do meu coração, os momentos se passam, únicos.
o conforto silencioso da noite termina em um brilho solar.
a necessidade da vida me retira do sono.
vivo, pois, entre os segundos do ponteiro do relógio.
sorrio, choro, amo, machuco.
vivo, a cada segundo, toda uma vida.
pois em algum lugar
o tempo espera, inexorável.
finjo fugir dele, procuro a imortalidade em minhas palavras,
mas ele espera.

no fim, ele é só o que resta.

14.1.07

eu estou de saco cheio dos medos.

e querendo quebrar alguma coisa, agora.
eu sempre arranjo um jeito de estragar tudo...

eu quero o mundo todo, de uma vez só.

(suspiro)
eu gosto de quebrar paredes.

não sei ficar sentado olhando para a parede, esperando que ela caia por si só.

5.1.07

tenho idéias sombrias...

e gosto delas, enfim.
vou começar um livro.

os deuses queiram que saia alguma coisa daí.

vou precisar de ajuda, acho.
ele coloca o telefone no gancho, mas o som da voz dela continua ecoando em seu cérebro.

por que se sentia assim? por que parecia já ter ouvido as palavras que lhe foram ditas, tantas e tantas vezes antes?

recusava-se a repetir os erros do passado. queria crer que era capaz de aprender, mas sempre em determinado momento ouvia as mesmas palavras vindas da pessoa amada.

queria aprender a não repetir os mesmos erros. precisava.

sentou-se ao lado do aparelho telefone. nem percebera quando os primeiros sinais da manhã explodiam no céu. ele tomou uma decisão, enfim: foi ao apartamento da menina. tocou o interfone até que uma voz cheia de sono atendeu.

sentia urgência em seu coração, então contou coisas demais ali mesmo, na rua. do outro lado do fone, somente silêncio. fez uma pausa e perguntou por ela. a voz vacilante disse que ela estava ouvindo.

ele pediu para subir. ela aceitou, depois de um longo silêncio.

ele subiu as escadas, pois o elevador parecia lento demais para seus impulsos. encontrou a porta do apartamento entreaberta.

ela estava no sofá, ainda de camisola, com um olhar entre o surpreso e o zangado.

ele a abraçou por um tempo que pareceu ser grande demais para ela. ainda não entendera porque ele estava ali.

então, contrariando todo o seu passado, ele se ajoelhou em frente a ela. beijou-lhe as mãos carinhosamente e olhou-a com um sorriso indecifrável.

se casaram 2 semanas depois.