ele canta baixo, enquanto observa o fogo. a canção é antiga e já foi cantada por seu pai e pelo pai dele, antes.
uma rajada fria de vento faz as chamas tremerem.
o jovem segura uma vasilha com os restos de um líquido escuro. o sabor amargo ainda permanece em seus lábios e aos poucos, uma sensação quente lhe percorre o corpo.
ele olha para a chama, olhos vidrados no movimento do fogo. aos poucos ele deixa de ser homem e se torna parte do fogo. a canção continua, mas ele parece ouvir outras vozes cantando, além da sua.
o fogo se transforma em fumaça e como fumaça, se espalha pelo ar.
o jovem sobe aos céus, seguindo os caminhos do vento.
ele não tem corpo, agora é somente espírito. a canção toma todo o ar e ele percebe que não é mais ele quem está cantando.
a figura de seu pai aparece por entre as nuvens. o pai de seu pai o acompanha. e o pai dele, junto.
as estrelas formam padrões e desenhos novos.
o jovem deixa-se carregar entre as estrelas. a canção dos antigos muda. agora eles falam diretamente em seu coração.
ele vê sua tribo cavalgando os grandes búfalos, na planície. os animais estão por todos os lados e a visão é grandiosa...
e ele vê um trovão cair do céu e um animal de metal percorrendo as planícies. há um homem branco sobre a grande serpente prateada.
os búfalos fogem do monstro. e ele vê os homens de sua tribo desaparecerem, no horizonte.
o jovem shaman abre os olhos. o fogo crepita, no silêncio da noite. não há mais canto.
não há mais futuro.
sozinho em sua tenda, o jovem chora.
3.2.07
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