6.6.07

o início

ele observa a chama dançando na escuridão. a fumaça se eleva até as estrelas.

uma antiga canção é entoada. uma oração a deuses que vivem além do mundo.

o velho tritura as folhas com calma. a prece continua, repetidas e repetidas vezes. as folhas são misturadas à agua e a caneca é entregue ao garoto.

ele toma o líquido, ainda sem entender o propósito de tudo aquilo.

o velho continua a canção. repetindo e repetindo.

dentro de sua cabeça, a canção fica mais e mais alta, aos poucos. ele olha em volta de si e percebe que não há mais ninguém ali. o velho sumiu.

mas a canção continua em seus ouvidos, enquanto fecha os olhos e desaba.

ele cai para além da terra. seu corpo se perde aos poucos na escuridão, mas ele continua a perceber tudo.

o garoto flui através do fluxo das eras. seu corpo flutuando por um rio de tempo. ele vê o seu pai e seu avô e todos os que vieram antes deles.
ele vê animais correndo por entre nuvens.
estrelas queimam distantes, nascendo e morrendo entre uma respiração e outra.

ele atravessa o portão entre os mundos. não mais um jovem menino, mas agora um homem adulto.

o povo antigo o espera. antigos deuses o observam das sombras.

ele é recebido por uma mulher vestida de sol, estrelas e lua.

ela toca-lhe o corpo, beijando-o. ele retribui as carícias. os dois comungam entre as eras. ela é a terra em que ele vive. ela é a vida.

ele a toma para si. ela se entrega, reconhecendo nele o rei que ainda está por vir.

ela lhe conta um segredo.

o jovem acorda. o fogo é agora somente uma pilha de cinzas e fumaça.

o sol ilumina as árvores.

e o velho o está olhando com um olhar sério.

- está feito, arthur.

- o que está feito?

- a escolha. você é um escolhido dos deuses, garoto. seu destino não pertence mais a você.

o jovem fica parado por um tempo longo. o velho se vira subitamente e começa a caminhar.

- vamos!

- para onde?

- procurar a espada. você não pode ser o rei sem uma espada.

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