um "click" seco e nada acontece.
ele abre os olhos e não sente nada. o cano de metal pressiona a têmpora direita enquanto ele vê a si próprio no espelho do banheiro. desvia o olhar em um instante, sem conseguir encarar o reflexo.
guarda a arma do pai, depois de retirar a bala solitária. o garoto criou esse "ritual" para poder sair de casa. um dia acordou e não conseguia pensar em razão nenhuma para se levantar. pior... não encontrou razão nenhuma para estar vivo.
só conseguiu pensar em uma coisa: o pai guardava uma arma no armário do quarto. lembrou de ter visto um filme onde meninos brincavam de roleta russa. lembrou de pensar qual seria a sensação daquilo tudo. e lembrou-se que o personagem no filme falou que tinha recebido uma nova chance de viver.
era aquilo que ele queria. algo que lhe mostrasse que ele merecia viver.
então pegou a arma no quarto do pai e se trancou no banheiro. sentado no vaso, ele retirou as balas, menos uma. girou o tambor e o recolocou na posição. sua mão tremeu, quando ele colocou a arma na cabeça.
puxar o gatilho foi mais difícil do que esperava. "um momento apenas", ele pensava. mas ainda assim, era difícil.
ele não morreu naquela manhã.
saiu de casa melhor. percebera um sinal naquilo tudo.
mas o dia foi igual aos outros. aos poucos, a excitação foi passando. nada havia mudado de verdade. talvez no dia seguinte.
mas nada mudou. nem no dia seguinte, nem no próximo. mas ele recorria a arma, quase todas as manhãs.
apenas porque não sentia que era um desperdício estar vivo.
21.1.07
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