25.12.04

sweet innocence

"ela é sua."
aquelas palavras ecoaram distantes, em minha mente, enquanto eu olhava em direção ao centro do recinto.
iluminada por um círculo de velas, que davam a tudo aquilo um ar religioso, ela estava de pé.

nua...
pálida...
trêmula...
linda.

a luz fraca a tornava etérea, como um fantasma de luz... os cabelos loiros refletiam as chamas das velas em pequenos lampejos dourados.

ao sentir alguém tocando meu ombro, olhei para o chão, quase com vergonha do que meu corpo sentia. a voz disse, novamente, agora próximo ao meu ouvido:

"ela é sua. esta noite é em sua homenagem. tome-a para vc"

a voz era doce e baixa... quase um sussuro, mas assim mesmo, parecia quase uma ordem.

"ela é jovem demais..."

pensei em dizer isso como uma desculpa, mais para mim mesmo que para os outros. a mulher... não. a menina parecia não ter mais que dezessete anos... seu corpo tenro e firme tremia levemente, enquanto seus olhos pareciam pedir ajuda a mim. em vão...

"p- por favor... por favor, me deixem ir!"

não, ela não era jovem demais. e não, eu não a deixaria ir...
haviam outros ali... outros como eu e cassie... éramos 7, ao todo. alguns eram tão antigos que provavelmente conheceram o antigo mundo enquanto ainda era o único mundo conhecido. um círculo em volta de nosso altar de carne.
eu não conseguia mais afastar meu olhar do corpo dela. meus olhos percorriam cada centímetro da pele clara... seus seios pareciam quase hipnotizantes, chamando, implorando por mim... eu a desejava.
eu tinha fome.

"essa noite, christopher, vc é aceito entre nós. essa noite, vc se torna um integrante da sombra. e ela é seu prêmio. tome-a para si"

a voz era calma e antiga... parecia reverberar nas paredes, de maneira que não era possível saber exatamente de onde ela vinha... mas eu a conhecia. eu conhecia derek tempo o bastante para saber que, mais do que tudo, aquela frase havia sido um desafio.

"por favor... eu não conto sobre vcs... eu prometo... por favor, me soltem!!!"

eu caminhei na direção dela. o seu odor adocicado tomou meus pulmões, almentando meu desejo. eu acariciei o seu rosto, quase como seu amante e disse a ela, perto do seu ouvido:

"não irá demorar. eu prometo..."

eu a deitei... e a tomei, ali... no chão daquele lugar antigo e profano, aos olhos ávidos de meus companheiros... ela gemia ao sentir meu toque... e gritou quando me sentiu a invadindo... e ela pediu mais... e ela chorou...
naquele momento, eu a amei mais do que havia amado antes.
naquele momento, eu a entreguei às trevas da noite... eu a libertei do fardo da dor de viver e ela me pagou com o precioso líquido que há pouco corria em seu corpo...
depois de terminado, eu baixei vagarosamente a carcaça sem vida, deixando-a no chão. o sangue que havia escorrido no canto da minha boca ainda parecia fresco e trazia seu odor, ainda.

"está terminado."

mas não havia mais ninguém ali... nem mesmo cassie... eu estava a sós com ela. por quanto tempo?
a noite estava terminando... a lua logo iria embora, levando com ela os últimos resquícios de minha vida anterior...
eu não era mais christopher...
eu era um vampiro, agora... um morto...
uma sombra.
sentado no escuro da sala, eu observo o céu noturno, através da janela.
o brilho da lua me faz lembrar de um tempo em que um menino, nesta mesma casa, subia o telhado nas noites claras de outono para se deitar, com as mãos cruzadas atrás da cabeça, olhando para as estrelas.
o garoto, não mais velho do que 8 anos, ficava às vezes horas, ali. quando ele se deitava, de costas para o telhado, parecia que a terra desaparecia... e com ela, todos os medos e dúvidas que circundavam a jovem cabeça.
a lua parecia chamá-lo para viajar com ela... ele quase conseguia ouvir as vozes das estrelas, num cântico celeste... antigo e triste, mas extremamente bonito.
e naquele telhado, naquelas noites de outono, o menino se sentia realmente parte de algo muito maior que tudo o que ele conhecia...
e ele sorria...
hoje, olhando a noite pela janela, eu me pergunto para aonde aquele menino se foi...

11.12.04

olhando o teclado, procurando as palavras certas, mas elas parecem não vir...

29.11.04

tale of the dreaming

"esse é o seu sonho?"
"como?"

a menina olhava para o homem com um olhar de quem acabou de descobrir um grande segredo.

"esse lugar... é o seu sonho, né?"
"eu... eu não sei. como vim parar aqui"?
"ora, como todos os outros. ou vc é parte de um sonho, ou é um sonhador!"
"ah! acho que nunca fui um sonho."
"viu? eu sabia!!! estamos no seu sonho."
"hummm... e o que eu... huh... nós faremos agora?"
"não sei, o sonho é seu, ué!"

o homem olha a sua volta, tentando organizar seus pensamentos, mas a última coisa que se lembra é de ir para a cama. às 11h, como fizera todas as noites, nos últimos 27 anos. tudo aquilo era muito insólito, mas de alguma maneira, ele não sentia medo. só uma pequena confusão.
de qualquer maneira, a menina parecia estar perdendo a paciência.

"seus sonhos são sempre assim tão chatos?"
"o quê?"
"nada tá acontecendo. por que vc não sonha com princesas e dragões mágicos e cavaleiros de armadura?"
"cavaleiros? acho que realmente nunca sonhei com isso, menininha."
"humpf... que saco!"
"ei! calma."
"eu conheço um dragão! ele pode se juntar a nós, pode?"
"um dragão???"
"ééééééééé! dragão!!!! ei, dragão!!!! dragããããããããããããããããão!!!!"

o homem olha incrédulo para a menina por alguns instantes, até perceber uma sombra se formando atrás dele.

"o que vc quer?"

uma voz faz tremer o ar. o rapaz fecha os olhos, dizendo a si mesmo que aquilo devia ser uma brincadeira.

"oi, dragão! eu queria saber se vc pode ser parte do sonho desse moço aí, ó."
"hummmm... está bem... mas ele é meio franzino para um cavaleiro. e a princesa, onde está?"

o homem vira-se para trás. e a alguns passos, um enorme dragão vermelho está sentado sobre a cauda, com uma das patas sobre o joelho, apoiando o rosto.

"por deus!!!!!!"

o dragão olha assustado a sua volta:

"o que foi?"
"vc! vc é um dragão!!!"
"ah... vc é perspicaz. o que fez vc tirar essa conclusão, hein? imagino se foram as escamas vermelhas que recobrem meu corpo, ou talvez as asas... certamente não foi a minha singela cauda."
"que lugar é esse??? o que está acontecendo aqui????"

a menininha vai até os pés do dragão e olha para o homem com uma cara de quem está entediada.

"nossa, como vc é gritão."

o dragão sorri para ela. ele a pega com uma das mãos e a trás perto do seu focinho de dragão.

"ele é o dono desse sonho? acho que encontramos um daqueles meio sem imaginação."
"acho que ele está sentindo a falta da princesa. precisamos de uma princesa para ele"
"ah! eu conheço uma..."

o dragão solta um rosnado enorme, e fogo salta de sua boca, em direção aos céus. o rapaz cai ao chão, tremendo.

"olá, dragão! desculpe a demora. a droga do vestido não queria entrar de jeito nenhum. onde está meu cavaleiro?"

a princesa olhava em volta, tendo a certeza de que seus cabelos iriam brilhar à luz do sol a cada movimento. ao olhar em direção ao rapaz, ela fica um pouco decepcionada.

"é ele? ele não é meio... magrinho para ser um cavaleiro?"

a menina olha para ela com cara de brava.

"não fala assim dele!!! ele é legal. só é meio parado."
"ah... tá bem... sonho é sonho, né? só não podemos demorar, tenho que refazer minhas unhas logo"
"oba!!!! tio, eu vou ali para aquela pedra, tá? pra ver vc lutar contra o dragão para salvar a princesa!"

o homem olha desesperado para a menina.

"lutar contra o... ei! eu não quero lut..."

a princesa corre para os braços dele, que nesse momento percebe que está vestindo um armadura prateada e traz uma espada em suas mãos. a armadura incomoda bastante na parte de baixo e ele mal consegue segurar a espada. a princesa grita perto dos seus ouvidos.

"salve-me, senhor!!! esse monstro horrível destruiu minha casa, matou minha família e agora me quer! se me salvar, prometo entregar-lhe a minha mão!"

o dragão levanta-se e apoia-se nas quatro patas, rugindo ameaçadoramente e soltando labaredas enquanto aproxima-se dos dois. o rapaz fica com medo e joga a espada de qualquer maneira, em direção ao dragão. a arma cai com a ponta em cima da cauda da criatura que faz uma cara de dor.

"ei!!! não é para ser assim!!!!! vc sabia que essa espada é afiada, seu maluco???"

o rapaz não aguenta mais e grita, desesperado, enquanto afasta a princesa de si.

"chega!!! chega disso tudo! eu quero sair dessa droga de lugar agora! menininha, vc é louca! todos vcs são loucos! eu quero ir agora!!!"

- pop -

uma pequena nuvem de fumaça é tudo o que sobrou, no local onde o homem estava. os três: a menina, o dragão e a princesa se entreolham, por alguns instantes. a menina faz uma cara de desolação.

"ah... droga... de novo ele foi embora antes do sonho acabar... como ele é chato!"

"não se preocupe, pequenina, ele voltará amanhã."

"lorde sonho!"

o dragão se abaixa, numa reverência e a princesa sorri, olhando sedutoramente para o senhor do sonhar.

"princesa... creio que vc tem que participar de alguns sonhos mais adultos, ainda essa noite, não?"
"sim, milorde. com licença."

o lorde moldador olha para a pequena criança com um olhar reprovador, da cor da noite.

"dragão, dragão... vc não deveria estar guardando a entrada do meu castelo?"
"sim, milorde... voltarei nesse momento. com a sua permissão..."
"e vc, pequenina? o que fará agora?"
"hummmmm... não sei. será que o tio fiddler's green deixa eu colher flores nele???"
"provavelmente. mas seja gentil com ele, está bem?"
"tá bem, lorde sonho! beijo para o senhor."
"mande minhas saudações a ele."
"tá!"

e o homem vestido de negro olha a menina correr e começar a desaparecer na distância e ele sorri um sorriso fulgaz... quase a sombra de um sorriso.

"ele voltará amanhã... todos eles voltam na noite seguinte..."
i once dreamt i was a fallen angel,
i once dreamt i was an answer for an important question,
i once dreamt i was a star on a cold winter night,
i once dreamt i was a knight on a quest,
i once dreamt i was a happy thought,
i once dreamt i was...

16.11.04

um bom conselho

não dês língua aos teus próprios pensamentos, nem corpo aos que não forem convenientes. sê lhano, mas evita abastardares-te. o amigo comprovado, prende-o firme no coração com vínculos de ferro, mas a mão não calejes com saudares a todo instante amigos novos. foge de entrar em briga; mas, brigando, acaso, faze o competidor temer-te sempre. a todos, teu ouvido; a voz, a poucos; ouve opiniões, mas forma juízo próprio. conforme a bolsa, assim tenhas a roupa: sem fantasia; rica, mas discreta, que o traje às vezes o homem denuncia. nisso, principalmente, são pichosas as pessoas de classe e prol na frança. não emprestes nem peças emprestado; que emprestar é perder dinheiro e amigo, e o oposto embota o fio à economia. mas, sobretudo, sê a ti próprio fiel; segue-se disso, como o dia à noite, que a ninguém poderás jamais ser falso.

William Shakespeare - Hamlet

uma janela para o interior

o escritor ajeita-se na cadeira, observando o cursor piscar sobre uma tela em branco. ele suspira, tentando imaginar por que alguns dias as idéias povoam sua mente, mas recusam-se terminantemente a se transformar em histórias.
ele digita algumas palavras, mas acaba apagando-as, enquanto balança a cabeça, desaprovando tudo o que havia escrito.
ele olha pela janela. seu único contato com o mundo exterior em dias como esse e se distrai pensando em como às vezes ele parece assistir ao que se passa ao seu redor como se fosse um filme. indaga-se em silêncio se é o único a ter essa sensação perante o mundo, mas acha que no fundo ele não é tão especial assim, para ter sensações e pensamentos tão originais.
enquanto uma senhora caminha despreocupada, lá fora, o escritor se imagina como uma sombra, passando pelo mundo incólume... sendo percebido somente por pessoas com mais atenção... mas sendo esquecido instantes depois.
ele pensa em seus textos... pensa se algum deles fez mesmo sentido para os poucos que os leram... se algo que escreveu mudou algo na maneira como eles viam o mundo, mas não tem certeza disso. afinal, textos são esquecidos... palavras se perdem...
ele sorri de uma maneira um pouco sarcástica, lembrando que a melancolia não perde a menor oportunidade de se mostrar.
ele pensa na solidão que sempre sentiu, por toda a vida, mesmo quando está cercado de pessoas, ele se sente só... e pensa em como são singulares os momentos em que se sente bem com alguém. um outro sorriso... "sempre as mesmas coisas, não?" ele fala para si... "sempre acabo pensando nas mesmas coisas".
o rapaz se indaga se deve voltar a se consultar com a psiquiatra, mas só de lembrar em ter que discutir coisas muito íntimas com alguém que só está ali para receber algum dinheiro, ele se desanima.
de repente, começa a digitar... e ao invés de escrever sobre lugares fantásticos ou coisas antigas, percebe que as palavras falam dele mesmo. de como ele se sente...




9.11.04

a smile is all i have

sentimento de inevitabilidade... tarde com um solzinho chato, que não trás nada de bom, pra mim... aquele gostinho de mais do mesmo, na minha boca... usando o computador e ouvindo músicas estranhas, que me levam pra longe daqui... pra longe do mundo...
o cursor na tela do computador me convida a viajar pelas letras do teclado, escrevendo coisas que são verdades até o momento em que as digito, mas que se transformam em palavras... e não podemos confiar nas palavras.
velhos sonhos me voltam a mente, vez ou outra... sonhos de outros lugares, de épocas distantes e felizes... acho que eu era feliz, quando era criança... meu mundinho era tudo o que me importava e naquela época o mundo lá de fora não forçava tanto para entrar... me sinto uma criatura tão distante daquele menino... tão cínico, triste e até um pouco patético, com suas eternas dúvidas (e agora não existem mais adultos que as respondam).
alguém já sentiu saudade de algo que não conhece? como se cura isso???

enquanto devaneio, o sol se esconde por trás de nuvens cinzentas... por um breve segundo, penso ter encontrado uma voz nos céus que me escuta... mas eu sei que os deuses tem coisas mais importantes para fazer...

no som um rapaz morto fala "vai ver é assim mesmo e vai ser assim pra sempre, vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente".

7.11.04

sinta o novo aroma no ar, garoto,
perceba as novas cores que se descortinam,
pois há um mundo inteiro lá.
novas possibilidades, novas sensações...

deixe a chuva escorrer por seus cabelos,
curando, purificando.
pois a sua mente é agora um livro em branco,
esperando por novas poesias.

30.10.04

the outlaw torn

hear me
and if i close my mind in fear
please pry it open
see me
and if my face becomes sincere
beware
hold me
and when i start to come undone
stich me together
save me
and when you see me strut
remind me of what left this outlaw torn

28.10.04

dias cinzas

quando ando por aí em dias cinzas, eu sinto uma paz enorme... parece que o vento me acalma, me traz uma sensação boa demais...

gosto de dias cinzas!

27.10.04

scars

eu sei que essa letra é feita por uma menina... e é um tema feminino... mas é MUITO, MUITO legal:

i have scars on my body
from using myself
abusing myself
in sickness and in health
i have bruises on my body
which go away with time but remain in my mind forever
as a constant reminder of the last man i loved
loathed
left
i have the word 'truth' on my arm
because there is no room for honesty when you're a liar
i have a tattoo on the back of my neck which i cannot see
but i can feel
but i can feel
but i can
i have a tattoo on my stomach which in italian means 'the sweet life'
i have the word 'love' in flames surrounded by stars on my right wrist
because these five fingers go straight into the soul of man
i have the word 'hate' on my left wrist because the left hand is the hand of hate
and it was with this hand that cain knifed his brother
i'm right handed
maybe that's my problem
my ruin

24.10.04

sunday at night

odeio domingo à noite...

porque eu sinto esse vazio chato, todo domingo à noite?

odeio...

playing with fire

fire'll never lose a fight

it can be smothered but it will always come back

to burn men's contempt and show its force

to revenge the offense to this earth

wherever i go

all i see are fools

playing with the fire

wherever i hide

someone by my side

plays with the fire

noone'll never subjugate its force

the sweet dance of flames is rebel to our wills

it can purify the dirt of souls

it will help those who'll know its laws

some are too pretentious to respect

but fate'll remember all their deeds

as the cycles start they end one day

the fire will be there to laugh and play !

21.10.04

death of a king [conclusion]

quando o gigante veio em minha direção para terminar com minha vida, lembrei do rei, que estava sob ataque do traidor e um impulso de raiva fez-me desviar do primeiro golpe e acertar a cabeça dele com um elmo que estava a meu lado. quando ele perdeu o equilíbrio, ajoelhei e joguei todo o meu peso num empurrão que fez com que aquele traidor caísse no meio de uma poça de lama e sangue.
completamente perdido, olhei em volta, cansado e ferido, procurando pelos cavaleiros e vi que nossos homens estavam perdendo para os inimigos, pois haviam sido cercados longe dos lanceiros com escudos.
não achei a minha espada, então peguei a primeira arma que encontrei, ainda enfiada no corpo caído e corri, tentando me manter incólume no meio da batalha.
a chuva atrapalhava a corrida, havia lama demais, corpos demais jogados. meu braço latejava enquanto uma crosta de sangue ia se formando, no ombro e era difícil me manter concentrado. tudo o que eu conseguia pensar é que não poderíamos perder ele. não hoje, não nessa batalha e não aqui, às portas do centro do reino.
enquanto corria e tentava me manter lúcido, imagens de outros tempos passaram por mim. lembro da bretanha da minha infância, os ataques saxões, os senhores romanos que queriam manter a ordem pela força de um império que morria. pensei em minha doce esposa, em meus filhos. lembro da ordem que trouxemos às tribos. a paz mantida pela espada dos deuses.
aquilo não iria terminar. não hoje.
os traidores haviam cercado nossos cavaleiros. o rei estava à frente, como sempre. há alguns metros, o usurpador sorria, um sorriso em um rosto sem emoção.
uma pontada de medo surgiu em meu coração, quando percebi que o rei não iria mais recuar. eles estavam em menor número.
o homem que havia sido quase um irmão para mim estava com um olhar sereno. ele desceu do cavalo, caminhou alguns passos e gritou que aquilo terminaria ali, naquele dia.
de repente, o campo de batalha foi se tornando um lugar silencioso. todos pareciam ter ouvido a afirmação. alguns anos depois ouvi algumas mulheres dizendo que naquele dia, o rei havia tomado a voz do próprio bran para si.
eu estava lá e às vezes me pego pensando o mesmo. todos haviam se calado. a própria colina onde estávamos parecia ter adquirido um ar quase etéreo... como se tivéssemos atravessado a ponte que liga os mundos e nesse momento estivéssemos no reino dos antigos.
um dos traidores tentou acertar o rei, mas recebeu um golpe de espada nas costas que veio do próprio usurpador e caiu no chão, já sem vida.
o bastardo desceu do cavalo e passou o sangue que escorria da espada em seu rosto, mantendo o sorriso mortal por todo o tempo. ele parou por um momento, como se para fazer reverência ao rei e tentou golpeá-lo por entre as costelas. o rei desviou e eles iniciaram a luta.
golpe após golpe, eles se equiparavam, golpeando, desviando e golpeando novamente.
eu estava paralisado. tudo parecia ter parado. era um duelo entre gigantes e nenhum dos dois parecia vacilar um só segundo.
mas o usurpador era ardiloso. percebendo que não conseguiria vantagem sobre seu adversário, utilizou seus jogos sujos. depois de dar um golpe de cima para baixo, o guerreiro negro girou sobre seu próprio corpo e golpeou novamente, à maneira dos romanos e fez com que o rei usasse de toda a força para bloquear os dois golpes. nesse momento, o bastardo puxou uma faca fina que estava em seu cinto e a enterrou por baixo do braço do rei, que deu dois passos para trás, tentando entender o que acontecera.
depois de alguns segundos os passos do rei se tornaram vacilantes, quase como se ele houvesse ficado bêbado. só podia significar uma coisa. havia veneno na lâmina da faca. ele havia sido envenenado.
naquele momento, eu senti um calafrio percorrer meu corpo, pois o usurpador estava tentando gravar a espada na cabeça do rei. ele aguentou a força do golpe, mas caiu de joelhos. o traidor da bretanha se aproximou, mas o rei se levantou, com os olhos injetados de ódio e golpeou o inimigo três vezes seguidas, com tanta força que o traidor caiu de costas. o rei levantou novamente a espada sagrada e a empurrou com toda a força no peito do príncipe negro. a batalha havia acabado.
mas...
o rei não se movia.
o traidor havia levantado a sua espada no último momento e ela havia penetrado a armadura do rei, atravessando seu peito e saído nas costas.
os dois haviam se chocado por uma última vez. a guerra acabara. não haveria vencedores nesse dia.
e ali, por sobre aquela colina, eu chorei pela última vez...
ali nós perdemos a esperança... a bretanha perdeu seu rei...
e eu perdi um amigo.




20.10.04

orage

sinto as primeiras gotas de chuva em meu rosto,
mornas e doces, como lembranças de amores antigos.

ouço o sussuro do vento, dizendo que você vem.

aos poucos a luz do sol se empalidece,
perdendo terreno para sua presença.

as nuvens mostram sua grandiosidade,
cobrindo o mundo, cercando-me...
abraçando-me.

os relâmpagos caem ao meu redor,
revelando suas vontades
em forma de som e fúria.

me sinto uma criança que vê o mundo pela primeira vez,
com medo, curiosidade e desejo.

ouço nos uivos dos ventos seus gemidos...

sinto as gotas de chuva escorrendo em meu rosto,
mornas e doces, como o gosto de seu corpo...

19.10.04

dream of icarus

eu sonho que estou voando,
liberto das amarras terrenas que oprimem meu corpo,
flutuo sem peso pelos céus.
alcanço os frutos nos topos das árvores,
acompanho o vôo das aves, que me olham curiosas,
sou seu novo irmão...
ícaro.

vejo barcos percorrerem as águas abaixo,
olho para as montanhas... cada vez menos imponentes,
olho para o sol, senhor da luz,
quero alcança-lo, quero tocá-lo...
mais e mais alto, eu desejo ser o senhor da luz...

eu sonho que estou caindo,
porque ousei sonhar, porque ousei demais,
o solo cada vez mais próximo, não há mais sol,
não há mais montanhas, ou pássaros,
somente eu e a queda,
somente eu
e meu sonho...

17.10.04

dark horizons

eu estou inquieto... ansioso... de verdade... sei lá, tá parecendo que alguma coisa importante vai acontecer, mas eu não vejo nada...

vc já se sentou em um lugar alto e olhou para o horizonte, enquanto o vento traz as nuvens de chuva em sua direção e vc sente que há algo no ar... uma expectativa...

é isso que estou sentindo, hoje...

death of a king [part 2]

ordenei aos homens que reforçassem a parede de escudos, mas meus gritos quase não podiam ser ouvidos. por entre as brechas na nossa formação vi os lanceiros inimigos descendo a colina, vindo para cima de nós como a própria fúria dos deuses. ao primeiro choque de armas, muitos dos nosso caíram diante das lanças e escudos. a chuva se tornara mais forte, fazendo com que o ar se tornasse pesado e a lama devorasse nossos pés, impedindo que pudéssemos manter o equilíbrio.
ao meu lado, um jovem, pouco mais velho que meu próprio filho recebeu o impacto de uma espada que entrara fundo em seu ombro e jogando-o para cima de mim. empurrei o garoto para o chão a tempo de desviar do golpe de uma lança. segurei o cabo da arma e puxei o traidor que a empunhava em direção a mim. com um golpe rápido, cravei a lâmina da espada em sua cabeça. o sangue espirrou em meu rosto, quando puxei a lâmina de volta e agradeci a meus anos de treinamento ao lado do próprio rei.
gritei para que os homens estocassem com as lanças por baixo, para que os inimigos que estivessem na frente caíssem, diminuindo o avanço do exército.
estávamos em menor número e em posição defensiva, mas após anos de lutas ao lado dos maiores campeões da bretanha nos fizeram confiantes. talvez até confiantes demais.
nos esquecemos que a luta não era contra os selvagens saxões e suas turbas descontroladas. o exército inimigo era formado de guerreiros que como nós passaram a vida enfrentando os inimigos da bretanha.
o bastardo usurpador havia seduzido a todos com suas promessas de riquezas, se os chefes das tribos o ajudassem a matar o rei. depois de anos sofrendo contra ataques dos saxões e pictos, os homens precisavam de uma figura que mostrasse que ainda podíamos conquistar. que o ideal de paz era um sonho de um rei louco e fraco.
numa batalha como essa, a confusão toma conta do campo em pouco tempo e os momentos iniciais são sempre os decisivos. havíamos combinado na noite anterior por usar a estratégia que dera certo em outros momentos assim. o rei e os cavaleiros iriam se afastar como se estivessem fugindo do campo de batalha, enquanto na verdade estariam dando a volta para pegar os inimigos pela lateral e criando assim duas frentes de batalha, que iriam dividir a força, dos ataques.
eles já estavam quase chegando ao largo do exército quando perceberam que foram eles mesmos as vítimas de uma emboscada. os traidores mantiveram seus cavaleiros afastados, esperando o ataque de nossa cavalaria para correr ao encontro deles.
o próprio usurpador tomava a frente do grupo inimigo, cavalgando sua montaria negra, com armadura e roupas negras, como um dos próprios filhos de scathach.
comandei meu grupo para tentar correr naquela direção, mas a batalha havia afastado muitos deles. corri sozinho, tropeçando na lama e no corpo de homens caídos, na direção do rei, mas fui interrompido por um golpe pesado em meu ombro esquerdo. o barulho produzido se transformou em uma dor profunda e na certeza de que eu não poderia mais usar aquele braço em um campo de batalha nunca mais. virei-me para encarar meu inimigo, mas um novo golpe me fez cair com a cara na lama. comecei a arrastar-me para longe, pedindo à morrigan que levasse minha vida logo.

15.10.04

death of a king

no terceiro dia de batalha, quase não haviam mais homens sem ferimentos... os gritos e gemidos se estendiam por toda nossa linha de defesa, que agora se encontrava muito frágil, em vários lugares... as paredes de escudo não aguentariam mais uma investida dos traidores que se encontravam há alguma distância de nós, esperando...
meu braço estava roxo em alguns lugares, o escudo partia-se, num canto, mas eu estava bem, em relação a muitos dos nossos, que jaziam mortos, nessa terra maldita.
a chuva que caía sem perdão nos últimos dias transformara cada enlance da batalha numa luta feita de lama e sangue. nossos homens estavam cansados e sujos, e muitos não acreditavam que sairíamos vivos desse local.
muitos rezavam quase o tempo todo... chamavam por deuses... clamavam por sua ajuda... os druidas faziam seus encontros... mediam forças com os traidores, mostravam que os deuses estavam conosco.
eu acreditava que os deuses haviam nos abandonado há muito tempo... desde a chegada dele a esse mundo, o traidor que liderava os inimigos e fez com que muitos dos reis se virassem contra a parca união que havíamos conseguido, anos atrás...
olho para os homens e a alguns metros, percebo ele andando por entre a formação. mesmo depois de dias de batalha no meio da lama, com a armadura começando a enferrujar, ele parecia a própria encarnação dos reis antigos. seus olhos percorriam as linhas calmamente, parando de vez em quando para escutar um dos seus líderes, como se aquilo fosse a conversa mais importante do mundo, nesse momento.
nós acreditávamos nele, mesmo depois de anos, depois de suas fraquezas, ele era tudo o que nos manteve longe da barbárie dos saxões, expulsando os animais, onda após onda, desde que era apenas um menino... ele era a própria imagem da bretanha, o protetor.
alguns dos mais novos tentavam chegar perto o bastante para tocar o cabo da espada do rei, pois acreditavam que a espada havia sido abençoada pelo próprio merlin.
de repente, o rei toca a espada e olha em direção aos inimigos, com um olhar alarmado. eu também olho e vejo com terror que o traidor havia acabado de cortar a cabeça de um dos nossos druidas e a levantava em direção a nós... seu olhar sempre gelara meu coração, pois tudo o que eu reconhecia dentro daqueles olhos era o ódio por tudo o que o rei e todo o seu exército representavam.
os homens começam a gritar como loucos, imersos em um misto de raiva e medo... alguns se precipitam, correndo em direção à morte... tento manter meu grupo unido, pedindo calma.
no momento seguinte, percebo que o exército do traidor avança sobre a lama, em nossa direção. um exército de demônios.
é hora de enfrentar o destino. não haveria mais batalhas, depois dessa.

14.10.04

hoje está ventando bastante... estava olhando as nuvens agora a pouco, sentindo o vento...

é engraçado, como às vezes o tempo parece exprimir os nossos sentimentos, né? hoje estou sentindo como se um vento forte estivesse passando por minha alma... levando embora muita coisa de ruim... movimentando as coisas...

ventos são sinais de mudanças... e, nossa... como preciso de mudanças, agora...

mas a maior mudança vem de dentro, né?

e essa acho que já está acontecendo.

12.10.04

quoth the raven

and the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
on the pallid bust of pallas just above my chamber door;
and his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming,
and the lamp — light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
and my soul from out that shadow that lies floating on the floor
shall be lifted — nevermore!
minha gata às vezes aparece do nada e senta-se em frente a mim, me olhando com os olhões dela... e fica assim por um tempão...

nesses momentos, parece que ela me conhece tão bem...


life can be good, after all

acho que tenho muita coisa para agradecer aos deuses... têm acontecido coisas legais na minha vida, ultimamente...

a palestra que ministrei em sampa foi ótima... é muito bom poder falar de coisas que vc fez... foi legal demais...

tenho encontrado pessoas legais demais, por aí... e até tenho achado que eu posso ter amigos de verdade, mesmo... quero me esforçar para mantê-los por perto... quero mesmo... vcs são importantes, ok?

e até mesmo a dorzinha que acompanha a minha alma tem ficado amena... não tenho dado muita chance a ela...

é bom sentir esse gostinho de que a vida pode ser mais do que é agora... é bom mesmo...

5.10.04

paro embaixo do carvalho que fica perto da margem do lago e olho para as árvores, do outro lado... as folhagens de outono pintam as copas das árvores de tons de vermelho e amarelo e me lembram que logo o inverno tomará conta da floresta.
o vento traz consigo os aromas de estações passadas... acima de mim, o sol caminha-se lentamente para deitar-se no seu leito noturno...

olho para as águas refletindo os filetes de ouro que descem dos seus e penso nela...

olho para o reflexo das árvores em tons de carmim e penso em nós dois...

eu me sento sob a sombra da grande árvore e espero por ela...

1.10.04

ahhhhh... algumas vezes eu pareço uma vitrola, daquelas antigas... com um disco arranhado... sempre tocando a mesma música...

mas... afinal, é a minha música... e ainda não deu pra mudar...

o que acontece é o seguinte: eu fico o dia inteiro na boa... tudo passa, eu fico bem... brinco com as pessoas... mas quando estou sozinho, em casa, começo a pensar nas coisas que estão erradas... comigo, com as pessoas, com tudo... e fico me sentindo sozinho pra caramba...

shit... alguém tem uma fórmula para parar de pensar????

30.9.04

the hunting... [part 2]

os olhos dele eram como estrelas belas e antigas, numa noite sem lua.
a garota procurou se esquecer daquele rosto... dos olhos, mas enquanto dançava, a imagem dele parecia estar impressa em sua mente.
por fim a música terminou e ela decidiu sair da pista, caminhando para a mesa de seus amigos, ainda intrigada com aquilo tudo. nunca havia se sentido assim, antes. afinal, fora aquele olhar, o estranho parecia ser apenas mais um daqueles jovens perdidos que estavam ali.
de repente, ele estava ali, na frente dela.
ela olhou, assustada... não o reconheceria, se não fosse aquele olhar.
ele não disse uma palavra... foi vagarosamente passando suas mãos pelos braços dela, um carinho suave, subindo até que a sua mão tocasse o rosto atônito da garota.
o toque dele foi suave e fez com que ela tremesse um pouco de medo e desejo. ela não costumava chegar perto de estranhos, mas simplesmente não conseguia se afastar dele. agora, a poucos centímetros de distância, podia perceber que o rosto do homem era mais pálido do que imaginava, de feições angelicais... que eram completadas pelo par de olhos castanhos que a fitavam incessantemente. ela sentiu que aqueles olhos poderiam observá-la pela eternidade. ela se sentiu entregue, todos os seus segredos estavam abertos a ele... todos os seus desejos.
"venha", a voz disse... um sussuro, quase, mas ainda assim, apesar da música que preenchia o ambiente, ela o ouviu... era tudo o que ela ouvia, agora.
eles caminharam para fora. a menina sentia um fogo ader dentro de si, ansiosa, só conseguia pensar em pecado e naquele homem.
ele a levou até uma esquina escura... segurou-a pela cintura. ela se sentia inteira dele... os lábios do homem tocaram gentilmente os dela... a pressão aumentando... as línguas se tocando, entrelaçando-se. ela se sentia pequena diante dele... desejava suas mãos, sua boca, seu corpo penetrando as partes mais íntimas de sua alma...
ela se sentiu como uma criança, que observa a noite... como a corsa que observa o tigre que caça...
os lábios dele percorreram a pele trêmula dela, instigando, procurando.
"você é minha."
"sim!"
de repente, uma dor profunda no pescoço a fez gemer... a onda de horror e prazer que percorreu sua carne a fez gemer...
"o quê?"
ela não conseguia mexer... uma das mãos segurava gentil, mas firmemente seu corpo, trazendo-o para próximo de si, um abraço doce, mas mortal. a outra mão tocava seu seio, sentindo a pulsação de seu coração.
ela percebeu o que acontecia e teve, por um segundo, vontade de correr, de gritar... mas ela sentia um prazer que não conseguia descrever na situação... como se fosse para isso que ela existia... sim... ela se sentia dele.
um filete fino de sangue descia do pescoço, no lugar onde o homem parecia estar beijando... ele sorvia o líquido como um amante apaixonado.
a garota sentia as forças irem embora, naquele abraço mortal e quase orgásmico... ela não poderia se afastar dele... nem desejava mais isso... ela só queria se entregar, entregar seu corpo, seu sangue, sua alma...
a última coisa da qual ela se lembra é a visão de duas estrelas antigas, queimando com um novo fogo interno... ou seriam dois olhos observando-a.
não importa... agora tudo se acabou...

the hunting...

ela gosta de se vestir assim. preto quase o tempo todo. ela e todos os seus amigos se vestem desse jeito. "a tribo da noite", eles se autodenominam. crianças, mal saídas da adolescência, mas que carregam nos ombros o peso da dor e do sofrimento do mundo.
"como ficar atônito a todas as coisas erradas que existem no mundo"? ela sempre diz.
por isso ela age como se não pertencesse a esse lugar. roupas negras, olheiras por sempre dormir pouco e passeios noturnos por cemitérios "os mortos encontraram a paz, pois descobriram a maneira de escapar dessa realidade, por isso devemos viver entre eles, para aprender suas lições".
ela pensa em como gosta do toque do couro contra seu corpo pálido, enquanto calça as suas botas. o contraste entre o tom de pele e as roupas faz com que ela pareça um ser etéreo, uma visão.
as olheiras são acentuadas com uma sombra escura... o negro de sua íris é uma ilha no mar branco dos olhos.
alguns minutos depois ela encontra sua turma. inusitado é o que de mínimo se pode achar, do visual de todos. seu melhor amigo está ali, vestido com uma roupa colante, que o deixa com um ar andrógino. proposital, é claro... eles se acham acima de definições de sexo.
eles imaginam o que vão fazer. é meia-noite, mas a vida apenas começou... eles decidem ir até o clube que gostam de frequentar... dizem que haverá alguns shows interessantes, por lá...
a garota se anima, enquanto eles falam sobre filmes antigos e revistas em quadrinhos...
o local está começando a encher... ela se encaminha à mesa onde eles sempre ficam (em um dos cantos escuros, onde eles podem fazer coisas que normalmente não fariam na frente de outras pessoas) e pede uma bebida... absinto, como sempre.
ela observa as pessoas... e se sente um pouco perdida, ali... ela gosta daquilo... mas ela se sente sempre estranha, quando começa a observar... ela pensa em sua vida, no sentido da sua vida... e não vê muita perspectiva.
graças aos deuses, a bebida chega... ela toma a primeira dose, imaginando o efeito da bebida descendo por seu corpo e acordando partes quase mortas de sua alma.
"ei! vamos dançar?"
ela sorri e caminha para a pista, onde duas meninas dançam juntas, quase obscenamente, mas ainda assim, de alguma forma, é bonito...
ela percebe a música devagar, tocando seu corpo, tomando-a... a sensação de dor na alma que a acompanha em quase todo lugar começa a sumir e é substituída pela vontade da música...
ela é a música...
viva... ela se sente viva enquanto dança...
depois de alguns minutos, logo após a primeir amúsica terminar, ela sente um calor estranho... a sensação de que está sendo observada... sem deixar a pista, ela gira devagar, procurando...
ela então vê... a alguns metros de distância, fora da pista, alguém está olhando para ela.
um homem, que parece ser só um pouco mais velha que ela está parado, logo ali... seus olhar fixo nela... e os olhos... ela não consegue definir, mas há algo nos olhos...
[continua...]

28.9.04

cats are just weird

estava olhando a minha gata, ontem...

cheguei a uma conclusão:

gatos definitivamente sabem muito mais do que eles geralmente dizem...

suspense

semana que vem eu irei a s. paulo para fazer uma apresentação de um projeto...

não dá pra esconder que estou ansioso para isso... mas também dá um certo nervosismo, quando penso que vai ter um auditório lotado, olhando para mim...

well... seja o que os deuses quiserem...

hell

bom... parece que o sol reclama seu lugar, no rio de janeiro...

eu odeio esse calor... e acho estranhas, as pessoas que ficam assim:
- odeio o frio... eu gosto é de calor...

mas quando chega o calor do rio:
- esse calor me faz passar mal!

tsc... nem sabem o que querem...


24.9.04

there is not a sense in living...

just a sense of living...

something in me

há algo em mim que incomoda.

uma sensação ruim, um sentimento de vazio.

sei que preciso ficar forte, mas em alguns momentos, tudo o que eu queria é alguém para cuidar de mim.

é um pouco triste, às vezes, a maneira como me sinto sozinho quase o dia todo... mesmo às vezes estando cercado de pessoas. sei que é um pouco complicado entender isso, mas é o que acontece. pelo menos comigo.

às vezes eu gostaria de acordar um dia e nunca mais sentir isso... nada de vazio... nada de sentir uma sensação de perda de algo que nem eu sei bem o que é.

mas às vezes eu paro e penso que é exatamente quando me encontro assim que eu me sinto mais sensível... mais em contato comigo mesmo...

a dualidade desse tipo de sentimento é muito ruim... mas é real.

MESMO!

eu tento me imaginar sem sentir todas as coisas estranhas que sinto o tempo todo, mas eu não gosto muito do que vejo...

é uma sina... e nem é uma das pesadas... mas eu ainda não aprendi a conviver com ela.

um dia, marcio... um dia...

23.9.04

poema romântico

almadiçoada noite que te trouxe ao mundo
mulher de coração negro,
alma fria como o mármore do túmulo.

como ousa roubar meu coração
e jogá-lo para as feras do desejo
que o tomam em suas garras
e imaginam um sem-número de torturas.

criatura da noite,
tomou meu corpo para si,
prometeu satisfazer todos os desejos
da carne mortal que encerra minha vida.

senhora do mal,
dama negra,
que com um ato apenas
me condenou a viver a morte em vida.

como ousa, mulher?
prometeu-me o paraíso na terra,
mas é apenas o inferno que sinto
em meu peito.

seu presente final é o mais cruel
uma lápide, um anjo de pedra é tudo o que deixou...

e o vazio em meu peito.

advice

se vc se sente sozinho quando a escuridão chega e fecha-se nas sombras de seu quarto, esperando que a a dor termine logo, um conselho:


get a life!!!

filho da terra e do céu...

às vezes (e não têm sido poucas) me sinto como se não pertencesse mesmo a esse lugar... me sinto distante de tanta coisa, distante de certos tipos de comportamentos, de ações...

mas ao mesmo tempo, tenho desejos, ambições e sonhos que todos os homens têm...

odeio ter que pensar que vou trabalhar na mesma profissão o resto da minha vida... que vou ter que agir da mesma maneira frente às pessoas da mesma maneira o resto da minha vida... às vezes fico me sentindo como se estivesse apenas esperando o relógio dar sua badalada final...

mas também sinto o desejo de ver mais do mundo, de compartilhar experiências e de sentir paixão por fazer coisas especiais...

eu não sei se alguém vai entender... mas para mim às vezes é difícil manter minha conexão com as coisas do mundo... eu sei que é um defeito meu... mas às vezes é isso mesmo que sinto...

20.9.04

lições

uma navalha corta fundo a carne... mas nada dilacera a alma tanto quanto um amor perdido...

sonhos...

fecho os olhos e me transporto para outro lugar... outro mundo, em uma época onde tudo é mais simples.

sinto a brisa do final de verão, com aromas que me trazem uma nostalgia tremenda... caminho por campos verdes, observando os antigos montes onde, dizem, encontram-se caminhos antigos para o reino dos deuses.

o sol da tarde toca as construções de pedra dos antigos, tingindo o cinza com tons de um vermelho triste e ao mesmo tempo bonito.

caminho em direção à floresta, escutando o som dos animais e vendo as oferendas do povo para os seres mágicos que ali vivem.

as sombras sempre em movimento formadas pelas árvores dão à paisagem um misticismo... sinto o toque dos deuses em mim, me levando a caminhar em direção ao coração daquele lugar.

de repente, a minha frente, uma clareira se abre por entre as árvores e vejo um lago antigo, escondido ali.

caminho em direção às águas e sinto em toda a sua extensão a força daquele lugar... é como se as vozes de antigos moradores da floresta me acolhessem.

olho para as pequenas ondas formadas nas pedras e penso em guerreiros antigos, indo depositar suas espadas nas águas do lago, esperando que elas precedessem sua entrada no reino dos mortos...

me deito aos pés de um carvalho e fecho novamente meus olhos, tentando tornar todo aquele sonho em realidade...

living in a large world

cansei de agir como se fosse vítima de tudo...

quero fazer coisas... quero ver lugares e conhecer pessoas especiais...

quero conquistar o mundo... pelo menos o meu mundo.

19.9.04

back...

oi... estou de volta... ainda sem muito para falar, mas pelo menos estou por aqui, não é?

e ouvindo say a little prayer... (sorriso)


15.9.04

eu devo parecer a criatura mais estranha do mundo...

quando vou para o trabalho, ou volto para casa... eu me sento num banco do ônibus e fico lá, no meu canto, ouvindo walkman, ou lendo um livro, ou uma revista...

eu sou assim... é o meu jeito de ser...

e não é porque eu não gosto de me misturar não... é porque eu já tentei me misturar um monte de vezes e nunca me encontrei... e acabava frustrado, no final... me sentindo mais sozinho ainda, porque eu havia me esforçado e tinha dado tudo errado...

mas hoje eu vejo que eu também preciso de outras pessoas... preciso ver caras novas... preciso sentir que existem mais pessoas no mundo que se importam com as mesmas coisas que eu... que gostam de coisas que eu gosto...

eu preciso aprender a conviver com esse vazio que sinto na alma... porque eu acho que isso não tem cura... e que preciso aprender a conviver com isso...

preciso aprender também a conviver com a intensidade com que sinto as coisas...

eu sei que vai parecer que estou inventando... mas algumas vezes, eu sinto tanto, algumas coisas, que chega a doer...

e... acho que fiquei um pouco viciado nisso, sabe? sentir essa dorzinha... porque ela é intensa... e é única...

mas isso não faz bem... e eu preciso mesmo aprender a conviver com isso...

ah... palavras, palavras... será que alguém que lê isso aqui entende algo do que escrevo???

tic, tac...

sentada na cama, ela tenta olhar para a escuridão, mas de alguma forma, a escuridão olha de volta.

o único som no quarto é a batida do relógio.

tic, tac.

ela segura o choro, como fez nos últimos meses, guardando dentro de si tudo o que sente.. ela pensa em todas as noites que passou sozinha naquele quarto, enquanto seus sonhos eram dissolvidos, um a um, junto com a substância que ela injetava em seu corpo para acabar com a dor.

no escuro, ela procura um objeto tão familiar. o canivete que ela ganhou do pai... quando mesmo? parecia ter sido uma vida passada.

ela passa os dedos pela lâmina, sentindo um resto de líquido, ainda ali.

o mesmo líquido que se espalha agora por seu colo.

o líquido que sai das aberturas em seu pulso.

ela não sente medo ou dor. ela só procura alívio de tudo.

sentada no escuro, ela espera e escuta as batidas do relógio.

tic, tac.

tic, tac.

tic, tac...

odeio política

e odeio eleição para prefeito... é como se a cada ano de eleição eu visse clones dos mesmos candidatos... cara... quando vamos aprender que precisamos mudar as coisas... precisamos muito...

vc olha para a sua cidade, alguns meses antes da eleição e vê obras e mais obras acontecendo...

putz... eu acho isso ridículo...

todo mundo acha que o povo é idiota... mas o pior é que não existe mesmo ninguém diferente em quem votar...

e existem algumas ironias, né...

acho que todo mundo conhece o lindberg, né? aquele da une...

ele quer ser prefeito de nova iguaçu!!!! e pior é que tem boa chance disso...

mas... ele não é de nova iguaçu... não mora aqui... nunca visitou aqui, antes desse ano...

what the hell is happening????????

ah... whatever...

não acredito mais em política brasileira... de verdade... nós já institucionalizamos a corrupção...

as pessoas votam naquele que "rouba, mas faz..."

eu acho isso ridículo... vou achar sempre...

hello... are you there???

eu quero tomar chopp e jogar conversa fora sobre coisas legais...

quero entrar numa loja de quadrinhos e comentar sobre tudo o que existir de legal por lá...

quero poder sentar em um local e ficar olhando as estrelas, sem ter que me explicar porque isso...

quero poder passar a noite escutando música legal, bebendo vinho barato e filosofando sobre o movimento dos planetas...

quero poder ir no cinema, comentar sobre o filme e não receber olhares estranhos...

alguém se habilita à vaga de amigo??????

(sorriso)

i just think i am crazy enough to be in love with you...

saudades...

aparece logo.

11.9.04

the sound of a heart beat

o som de vozes preenche cada espaço do lugar... ele sente a estática no ar, toda a energia que está contida ali.

percebendo os olhares na escuridão, que percorrem cada centímetro de seu corpo, tentando penetrar em sua alma, ele se sente sufocado pela antecipação.

seu corpo é tomado por todas as emoções que inundam o palco onde ele e seus companheiros se encontram... um altar de veneração para milhares de súditos...

ali eles são mais que homens... são as personificações dos sonhos e esperanças de toda uma geração... eles são deuses, imortais num segundo infinito...

ele fecha os olhos, e lentamente percebe que todo o nervosismo vai embora...
um som toma os seus sentidos... um compasso que ele conhece bem... as batidas de seu coração...

e ele sente todos os conflitos se dissiparem, enquanto ele se entrega ao ritmo daquele som...

então, ao longe, outros sons se mesclam à batida surda em seu peito... ele reconhece a melodia que toma, subitamente o ar, buscando passagem por entre tudo...

e todos os que estão ali se calam, pois naquele segundo, ele também se torna aquele som... a voz de todos...

ele se torna a música.
definitivamente, eu sou uma antítese hiperbólica...

(sorriso)

confuso

eu estou meio confuso com algumas coisas que andam acontecendo...

não queria me sentir assim não... mas sou péssimo em esperar por acontecimentos... acho a espera sem nenhuma resposta uma tortura mental...

de qualquer maneira... eu estou esperando... não muito pacientemente...

mas esperançosamente...




andando entre os vivos

algumas vezes, quando estou andando em um lugar amplo, onde estão várias pessoas, eu faço uma coisa...

eu ando, olhando para a maior quantidade de pessoas que consigo... tentando sentir cada uma... tentando entrar pelo menos um pouco em cada alma...

se vc prestar bastante atenção, consegue sentir a energia que é trocada entre os corpos... percebe quem carrega fardos grandes, só por sentir o peso na alma da pessoa, ou a alegria de alguém que está com a alma leve...

eu me sinto bem, quando faço isso... me sinto parte daquilo tudo... um dos raros momentos em que me sinto perto do mundo...




7.9.04

through the window

enquanto observa os últimos móveis serem colocados dentro do caminhão, ele pensa em tudo o que havia acontecido nos últimos tempos...
não sem lembrava de quando se mudara para lá. sua mãe disse uma vez que foi logo após o seu aniversário de um ano.
enquanto crescia, aprendia todos os segredos daquele lugar que, ficara sabendo, foi contruído por um industrial para acomodar sua grande família. todos os quartos, o porão e o sotão (esse tinha um teto inclinado, que fazia com que qualquer adulto fossem até lá tivessem que se abaixar, para não bater a cabeça. foram diversas e diversas expedições exploratórias pelo jardim enorme, que terminava onde um bosque parecia criar uma cerca invisível, nos fundos.
dois dos homens que estavam carregando os móveis levavam agora a escriva do escritório, onde seu pai costumava passar o dia, escrevendo sobre coisas que o menino ainda não entendia.
ele sentiu uma pontada de tristeza tomar o seu coração, quando se lembrou que nunca mais veria o pai, novamente.
o funeral havia acontecido há algumas semanas mas parecia que tudo acontecera minutos atrás... os amigos de seu pai compraram uma coroa de flores com uma inscrição em negro sobre uma fita branca.
não sentira medo do mundo, naquele dia. apenas uma tristeza profunda e que parecia entorpecer todos os seus sentidos. seu pai havia ido sem que ele desvendasse todos os segredos da relação que eles tinham. sua mãe chorava muito. o menino sentiu que sua mãe sentia medo, pois naquela noite ela foi a seu quarto muitas vezes. ficava parada na porta, olhando-o enquanto ele fingia dormir. por duas vezes ela sentou ao lado do menino, chorando baixo. ele quis consolá-la mas não sabia o que dizer. sentia falta do pai mais do nunca, nessas horas.
quando a sua mãe ligou o carro e fechou os vidros, separando-os daquele que parecia um novo e estranho mundo, o menino colocou a mão no bolso do casaco e tocou o pequeno objeto, sentindo um pouco de calor chegar a seu coração.
o pequeno prisma de cristal com um pequeno globo incrustrado dentro sempre fora o objeto que mais chamava a sua atenção, na escrivaninha do pai... e agora era dele. uma lembrança de um mundo que havia terminado.
sabia que seu pai sempre estaria com ele, enquanto tivesse aquele prisma.

5.9.04

mad love is religion enough to my heart...

white sound

a estática de um rádio sem sintonia é chamada de som branco... é quando sabemos que não há ninguém lá fora, se comunicando com a gente...

é assim que vejo a minha vida, de vez em quando... que tudo é estática... ruído branco...

algumas vezes eu preciso de algumas respostas... outras eu penso que não há resposta alguma, de verdade... só um monte de perguntas e incertezas... que tenho que me acostumar com isso...

tem dias que tenho vontade de sair caminhando por aí... de não parar até deixar o mundo inteiro para trás... mas eu acabo voltando para casa... sem nem mesmo saber por quê...

sei que eu erro muito... sei mesmo... mas algumas vezes parece que todos os erros são meus... e isso eu não acho muito legal... mas eu estou tentando não me importar com isso, agora... porque eu preciso aprender um monte de coisas, ainda... preciso trocar de estação... preciso aprender a me ver de outra maneira...

e acho que estou indo pelo caminho certo... :)

alguma coisa se move nas sombras

domingo à noite é uma das piores horas de toda a semana... não sei se é a proximidade com a segunda-feira, se é a sensação de fim de um ciclo, mas o domingo à noite é estranho...

welcome back, me!

oi... é isso mesmo... tô voltando a escrever... não sei se isso vai durar, ou se é mais uma coisa passageira... o que eu sei é que quero me sentir melhor... chega de ser só uma sombra de quem eu era... eu quero mais... quero ser melhor do que eu era...

e voltar a escrever é uma parte dessa tentativa...

espero que alguém aí entenda o que quero dizer...

(sorriso)

before dawn

ele olha para os seus irmãos que ainda estão dormindo e reflete sobre sua própria vida. ele nunca conseguira dormir na véspera de uma batalha... se mantinha acordado, como um espírito, um fionúir, caminhando por entre as trevas, incapaz de descansar.

sentia no ar o cheiro das fogueiras que os druidas ascenderam, para fazer seus feitiços. queria ter perguntado a orthanach sobre o que os deuses disseram sobre o dia de amanhã, mas isso pouco importava para ele, agora.

presságios são para reis... guerreiros só precisam rezar para que suas vidas terminem rapidamente, em um campo de batalha...

guerreiro? sim... era isso que o pequeno lonán havia se tornado... poucos anos haviam se passado desde que os meninos da vila o chamavam de pássaro negro, por causa de seu cabelo escuro como a noite, mas os anos haviam trazido inúmeras batalhas à sua vida.

tudo o que acontecera de importante na vida de lonán acontecera durante as batalhas que assolavam interminantemente o solo da bretanha. todas as coisas boas e as ruins aconteceram durante o caos criado pelos guerreiros. ele imaginava se isso teria sido uma brincadeira dos deuses.

ah, os deuses pareciam estar brincando demais com a vida dos homens, nesses dias... principalmente os deuses do sangue e do fogo...

macha e seus corvos farão um banquete amanhã, levando embora em suas garras os olhos dos homens mortos...

mas a cabeça de loán não estava ali... ele passara a noite pensando se seu senhor chegara com segurança ao caer... se ele houvesse caído, nem mesmo os deuses poderiam proteger a bretanha de ser tomada pelos saxões. não havia em todo o mundo um homem que pudesse reunir novamente todas as tribos...

e se o homem que o criara como um filho houver morrido, não haveria mais ninguém capaz de proteger líobhan.

não... não deveria pensar em líobhan agora... não poderia se permitir sentir medo de perdê-la...

ele subiu um pequeno monte, perto de onde os homens haviam levantado acampamento e sentou-se, esperando a manhã... esperando a morte...

19.6.04

sentir...

alguém me explica, porque eu sinto tanto e tão forte?

é complicado, sabe? viver num mundo que não me entende... esconder meus pensamentos sobre um monte de coisas, porque quando os exponho, as pessoas sempre olham de uma maneira estranha...

mas não é só isso... eu tenho sentido falta de pessoas a minha volta... pessoas com quem conversar. sabe? aquelas conversas de horas, sobre coisas bobas, mesmo... ou ficar filosofando...

conversas que fazem o tempo passar rápido... que deixam a alma leve...

é... preciso de amigos.

mesmo...



14.6.04

pulvis et umbra sumus...

acho que não existe uma frase melhor para iniciar meu blog: "não somos nada além de pó e sombras..."