sentada na cama, ela tenta olhar para a escuridão, mas de alguma forma, a escuridão olha de volta.
o único som no quarto é a batida do relógio.
tic, tac.
ela segura o choro, como fez nos últimos meses, guardando dentro de si tudo o que sente.. ela pensa em todas as noites que passou sozinha naquele quarto, enquanto seus sonhos eram dissolvidos, um a um, junto com a substância que ela injetava em seu corpo para acabar com a dor.
no escuro, ela procura um objeto tão familiar. o canivete que ela ganhou do pai... quando mesmo? parecia ter sido uma vida passada.
ela passa os dedos pela lâmina, sentindo um resto de líquido, ainda ali.
o mesmo líquido que se espalha agora por seu colo.
o líquido que sai das aberturas em seu pulso.
ela não sente medo ou dor. ela só procura alívio de tudo.
sentada no escuro, ela espera e escuta as batidas do relógio.
tic, tac.
tic, tac.
tic, tac...
15.9.04
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