15.9.04

tic, tac...

sentada na cama, ela tenta olhar para a escuridão, mas de alguma forma, a escuridão olha de volta.

o único som no quarto é a batida do relógio.

tic, tac.

ela segura o choro, como fez nos últimos meses, guardando dentro de si tudo o que sente.. ela pensa em todas as noites que passou sozinha naquele quarto, enquanto seus sonhos eram dissolvidos, um a um, junto com a substância que ela injetava em seu corpo para acabar com a dor.

no escuro, ela procura um objeto tão familiar. o canivete que ela ganhou do pai... quando mesmo? parecia ter sido uma vida passada.

ela passa os dedos pela lâmina, sentindo um resto de líquido, ainda ali.

o mesmo líquido que se espalha agora por seu colo.

o líquido que sai das aberturas em seu pulso.

ela não sente medo ou dor. ela só procura alívio de tudo.

sentada no escuro, ela espera e escuta as batidas do relógio.

tic, tac.

tic, tac.

tic, tac...

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