no terceiro dia de batalha, quase não haviam mais homens sem ferimentos... os gritos e gemidos se estendiam por toda nossa linha de defesa, que agora se encontrava muito frágil, em vários lugares... as paredes de escudo não aguentariam mais uma investida dos traidores que se encontravam há alguma distância de nós, esperando...
meu braço estava roxo em alguns lugares, o escudo partia-se, num canto, mas eu estava bem, em relação a muitos dos nossos, que jaziam mortos, nessa terra maldita.
a chuva que caía sem perdão nos últimos dias transformara cada enlance da batalha numa luta feita de lama e sangue. nossos homens estavam cansados e sujos, e muitos não acreditavam que sairíamos vivos desse local.
muitos rezavam quase o tempo todo... chamavam por deuses... clamavam por sua ajuda... os druidas faziam seus encontros... mediam forças com os traidores, mostravam que os deuses estavam conosco.
eu acreditava que os deuses haviam nos abandonado há muito tempo... desde a chegada dele a esse mundo, o traidor que liderava os inimigos e fez com que muitos dos reis se virassem contra a parca união que havíamos conseguido, anos atrás...
olho para os homens e a alguns metros, percebo ele andando por entre a formação. mesmo depois de dias de batalha no meio da lama, com a armadura começando a enferrujar, ele parecia a própria encarnação dos reis antigos. seus olhos percorriam as linhas calmamente, parando de vez em quando para escutar um dos seus líderes, como se aquilo fosse a conversa mais importante do mundo, nesse momento.
nós acreditávamos nele, mesmo depois de anos, depois de suas fraquezas, ele era tudo o que nos manteve longe da barbárie dos saxões, expulsando os animais, onda após onda, desde que era apenas um menino... ele era a própria imagem da bretanha, o protetor.
alguns dos mais novos tentavam chegar perto o bastante para tocar o cabo da espada do rei, pois acreditavam que a espada havia sido abençoada pelo próprio merlin.
de repente, o rei toca a espada e olha em direção aos inimigos, com um olhar alarmado. eu também olho e vejo com terror que o traidor havia acabado de cortar a cabeça de um dos nossos druidas e a levantava em direção a nós... seu olhar sempre gelara meu coração, pois tudo o que eu reconhecia dentro daqueles olhos era o ódio por tudo o que o rei e todo o seu exército representavam.
os homens começam a gritar como loucos, imersos em um misto de raiva e medo... alguns se precipitam, correndo em direção à morte... tento manter meu grupo unido, pedindo calma.
no momento seguinte, percebo que o exército do traidor avança sobre a lama, em nossa direção. um exército de demônios.
é hora de enfrentar o destino. não haveria mais batalhas, depois dessa.
15.10.04
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