16.11.04

uma janela para o interior

o escritor ajeita-se na cadeira, observando o cursor piscar sobre uma tela em branco. ele suspira, tentando imaginar por que alguns dias as idéias povoam sua mente, mas recusam-se terminantemente a se transformar em histórias.
ele digita algumas palavras, mas acaba apagando-as, enquanto balança a cabeça, desaprovando tudo o que havia escrito.
ele olha pela janela. seu único contato com o mundo exterior em dias como esse e se distrai pensando em como às vezes ele parece assistir ao que se passa ao seu redor como se fosse um filme. indaga-se em silêncio se é o único a ter essa sensação perante o mundo, mas acha que no fundo ele não é tão especial assim, para ter sensações e pensamentos tão originais.
enquanto uma senhora caminha despreocupada, lá fora, o escritor se imagina como uma sombra, passando pelo mundo incólume... sendo percebido somente por pessoas com mais atenção... mas sendo esquecido instantes depois.
ele pensa em seus textos... pensa se algum deles fez mesmo sentido para os poucos que os leram... se algo que escreveu mudou algo na maneira como eles viam o mundo, mas não tem certeza disso. afinal, textos são esquecidos... palavras se perdem...
ele sorri de uma maneira um pouco sarcástica, lembrando que a melancolia não perde a menor oportunidade de se mostrar.
ele pensa na solidão que sempre sentiu, por toda a vida, mesmo quando está cercado de pessoas, ele se sente só... e pensa em como são singulares os momentos em que se sente bem com alguém. um outro sorriso... "sempre as mesmas coisas, não?" ele fala para si... "sempre acabo pensando nas mesmas coisas".
o rapaz se indaga se deve voltar a se consultar com a psiquiatra, mas só de lembrar em ter que discutir coisas muito íntimas com alguém que só está ali para receber algum dinheiro, ele se desanima.
de repente, começa a digitar... e ao invés de escrever sobre lugares fantásticos ou coisas antigas, percebe que as palavras falam dele mesmo. de como ele se sente...




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