os olhos dele eram como estrelas belas e antigas, numa noite sem lua.
a garota procurou se esquecer daquele rosto... dos olhos, mas enquanto dançava, a imagem dele parecia estar impressa em sua mente.
por fim a música terminou e ela decidiu sair da pista, caminhando para a mesa de seus amigos, ainda intrigada com aquilo tudo. nunca havia se sentido assim, antes. afinal, fora aquele olhar, o estranho parecia ser apenas mais um daqueles jovens perdidos que estavam ali.
de repente, ele estava ali, na frente dela.
ela olhou, assustada... não o reconheceria, se não fosse aquele olhar.
ele não disse uma palavra... foi vagarosamente passando suas mãos pelos braços dela, um carinho suave, subindo até que a sua mão tocasse o rosto atônito da garota.
o toque dele foi suave e fez com que ela tremesse um pouco de medo e desejo. ela não costumava chegar perto de estranhos, mas simplesmente não conseguia se afastar dele. agora, a poucos centímetros de distância, podia perceber que o rosto do homem era mais pálido do que imaginava, de feições angelicais... que eram completadas pelo par de olhos castanhos que a fitavam incessantemente. ela sentiu que aqueles olhos poderiam observá-la pela eternidade. ela se sentiu entregue, todos os seus segredos estavam abertos a ele... todos os seus desejos.
"venha", a voz disse... um sussuro, quase, mas ainda assim, apesar da música que preenchia o ambiente, ela o ouviu... era tudo o que ela ouvia, agora.
eles caminharam para fora. a menina sentia um fogo ader dentro de si, ansiosa, só conseguia pensar em pecado e naquele homem.
ele a levou até uma esquina escura... segurou-a pela cintura. ela se sentia inteira dele... os lábios do homem tocaram gentilmente os dela... a pressão aumentando... as línguas se tocando, entrelaçando-se. ela se sentia pequena diante dele... desejava suas mãos, sua boca, seu corpo penetrando as partes mais íntimas de sua alma...
ela se sentiu como uma criança, que observa a noite... como a corsa que observa o tigre que caça...
os lábios dele percorreram a pele trêmula dela, instigando, procurando.
"você é minha."
"sim!"
de repente, uma dor profunda no pescoço a fez gemer... a onda de horror e prazer que percorreu sua carne a fez gemer...
"o quê?"
ela não conseguia mexer... uma das mãos segurava gentil, mas firmemente seu corpo, trazendo-o para próximo de si, um abraço doce, mas mortal. a outra mão tocava seu seio, sentindo a pulsação de seu coração.
ela percebeu o que acontecia e teve, por um segundo, vontade de correr, de gritar... mas ela sentia um prazer que não conseguia descrever na situação... como se fosse para isso que ela existia... sim... ela se sentia dele.
um filete fino de sangue descia do pescoço, no lugar onde o homem parecia estar beijando... ele sorvia o líquido como um amante apaixonado.
a garota sentia as forças irem embora, naquele abraço mortal e quase orgásmico... ela não poderia se afastar dele... nem desejava mais isso... ela só queria se entregar, entregar seu corpo, seu sangue, sua alma...
a última coisa da qual ela se lembra é a visão de duas estrelas antigas, queimando com um novo fogo interno... ou seriam dois olhos observando-a.
não importa... agora tudo se acabou...
30.9.04
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Um comentário:
Muito bom o conto!
Gosto de quando as coisas são mostradas pelos olhos da vítima, dá uma sensação de maior intimidade com os fatos.
;*
Escreva mais, você é bom nisso!
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