30.9.04

the hunting...

ela gosta de se vestir assim. preto quase o tempo todo. ela e todos os seus amigos se vestem desse jeito. "a tribo da noite", eles se autodenominam. crianças, mal saídas da adolescência, mas que carregam nos ombros o peso da dor e do sofrimento do mundo.
"como ficar atônito a todas as coisas erradas que existem no mundo"? ela sempre diz.
por isso ela age como se não pertencesse a esse lugar. roupas negras, olheiras por sempre dormir pouco e passeios noturnos por cemitérios "os mortos encontraram a paz, pois descobriram a maneira de escapar dessa realidade, por isso devemos viver entre eles, para aprender suas lições".
ela pensa em como gosta do toque do couro contra seu corpo pálido, enquanto calça as suas botas. o contraste entre o tom de pele e as roupas faz com que ela pareça um ser etéreo, uma visão.
as olheiras são acentuadas com uma sombra escura... o negro de sua íris é uma ilha no mar branco dos olhos.
alguns minutos depois ela encontra sua turma. inusitado é o que de mínimo se pode achar, do visual de todos. seu melhor amigo está ali, vestido com uma roupa colante, que o deixa com um ar andrógino. proposital, é claro... eles se acham acima de definições de sexo.
eles imaginam o que vão fazer. é meia-noite, mas a vida apenas começou... eles decidem ir até o clube que gostam de frequentar... dizem que haverá alguns shows interessantes, por lá...
a garota se anima, enquanto eles falam sobre filmes antigos e revistas em quadrinhos...
o local está começando a encher... ela se encaminha à mesa onde eles sempre ficam (em um dos cantos escuros, onde eles podem fazer coisas que normalmente não fariam na frente de outras pessoas) e pede uma bebida... absinto, como sempre.
ela observa as pessoas... e se sente um pouco perdida, ali... ela gosta daquilo... mas ela se sente sempre estranha, quando começa a observar... ela pensa em sua vida, no sentido da sua vida... e não vê muita perspectiva.
graças aos deuses, a bebida chega... ela toma a primeira dose, imaginando o efeito da bebida descendo por seu corpo e acordando partes quase mortas de sua alma.
"ei! vamos dançar?"
ela sorri e caminha para a pista, onde duas meninas dançam juntas, quase obscenamente, mas ainda assim, de alguma forma, é bonito...
ela percebe a música devagar, tocando seu corpo, tomando-a... a sensação de dor na alma que a acompanha em quase todo lugar começa a sumir e é substituída pela vontade da música...
ela é a música...
viva... ela se sente viva enquanto dança...
depois de alguns minutos, logo após a primeir amúsica terminar, ela sente um calor estranho... a sensação de que está sendo observada... sem deixar a pista, ela gira devagar, procurando...
ela então vê... a alguns metros de distância, fora da pista, alguém está olhando para ela.
um homem, que parece ser só um pouco mais velha que ela está parado, logo ali... seus olhar fixo nela... e os olhos... ela não consegue definir, mas há algo nos olhos...
[continua...]

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