ele fecha os olhos, procurando dentro de si. o silêncio do quarto só é quebrado pela respiração e o crepitar de uma vela.
ele diz as palavras que aprendeu de forma baixa, quase um sussurro. repetindo-as em sua mente, mais uma vez e outra e outra.
as paredes do quarto parecem se mover, afastando-se... o cômodo cresce e aos poucos muda de forma, frente a ele.
a vela apaga-se, com um barulho de bater de asas e o rapaz abre os olhos.
um corvo grande olha-o, com curiosidade. o pássaro dá dois passos à frente e abrindo o bico, para falar:
- isso sim é algo inesperado.
o rapaz levanta-se, assustado e admirado, olha em volta, para um cômodo muitas vezes maior que o quarto que deixou. o corvo faz um barulho com a garganta, chamando a atenção para si novamente.
- hã... eu posso te mostrar o lugar, depois. parece mesmo que você não deveria estar aqui.
- aqui é o reino onde os sonhos são tecidos?
o corvo vira a cabeça, divertidamente.
- hum... sim! você pode dizer desse jeito.
- e você é o senhor daqui?
- não, não! sou um dos empregados daqui. se quiser, te levo até o chefe.
nesse momento, as sombras adiante deles parecem se mover, abrindo passagem para um homem alto, vestido totalmente de negro. os olhos parecem poços refletindo a luz das estrelas, em meio a um rosto pálido como uma estátua. ele fala com uma voz que lembra os sons da noite.
- não será preciso, matthew... eu percebi a chegada de nosso... visitante.
o corvo voa em direção ao homem e pousa em seu ombro.
- oi, chefe! acho que temos um perdido, aqui.
- sim... ele veio para o sonhar através dos caminhos antigos... é admirável o que os mortais conseguem, quando se esforçam.
- eu... você é um deles, não? um dos perpétuos. lorde sonho.
- sim... eu sou sonho, dos perpétuos. e você veio até o meu reino em busca de algo...
- você é o senhor das histórias. e é isso que eu quero... eu quero conhecer as histórias. quero escrever sobre elas.
o senhor dos sonhos voltou-se para o corvo:
- matthew... deixe-nos a sós...
- ok, chefe!
o pássaro voou para as sombras, lançando o que poderia se chamar de um sorriso de corvo para o rapaz. o homem de negro aproxima-se mais e o rapaz percebe que em algum lugar, no manto dele, uma chama queima, antiga e inalcansável.
- me disseram que eu deveria procurá-lo. que você poderia me entregar o que posso.
- sim... eu posso entregar-lhe as histórias...
o jovem rapaz sorri.
- mas você deverá deixar algo seu aqui.
- o quê? eu não trouxe nada.
- se você desejar as histórias, deve entregar algo que seja seu. é a lei...
- mas...
- você aceita?
ele pensa, por vários segundos. o homem a sua frente fica impassível. seu rosto de estátua não se move.
- eu... eu aceito.
- pois bem. que seja...
e o sonho toca a testa do rapaz. ele fecha os olhos e vê todas as histórias rodando à sua volta, ele as recebe dentro de si. e acorda.
o seu quarto está de volta. a vela está apagada, após queimar até o fim.
ele se levanta, com um sorriso ainda hesitante no rosto. ele pega papel e caneta e começa a escrever. escreve até que seus olhos ardem e sua mão comece a doer. ele está cansado, exausto. deita-se na cama e fecha os olhos, triunfante.
mas ele não consegue dormir.
nunca mais conseguirá.
25.6.06
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