23.5.06

a dança

ele apreciava a dança. sabia olhar nos olhos da parceira, entendia na linguagem do corpo dela o próximo passo, o gesto que se seguiria.

imaginava-se acompanhando-a, sem tocá-la, a milímetros da pele dela.

a precisão era fundamental.

aprendera essa dança há pouco tempo. sempre achara que precisavam dançar juntos, um levando o outro, o tempo todo. mas entendeu que ele se fosse realmente preciso, ela não perceberia o que estava dançando até estar totalmente envolvida no ritmo.

ele precisava conhecê-la primeiro. dirigia-lhe um olhar ou outro... algo quase casual. aproximava-se de leve, despretensioso.

até que ele mudava o olhar (era especialista nisso). esse olhar era misterioso, profundo.

e principalmente, penetrante.

caminhava em direção a ela, ainda de forma despretensiosa, mas o olhar se mantinha fixo.

parava bruscamente, à frente dela. e esperava.

ela nunca sabia o que fazer, à princípio... não conseguia definir o olhar que recebia... seu rosto ficava quente, precisava fazer algo.

então, em algum lugar na mente dela, começava a ouvir um ritmo... algo que parecia antigo... tambores? não conseguia definir... mas não aguentava mais...

e então a dança começava.

ia em direção a ele, para tocá-lo, mas ele se afastava (era imprescindível, nesse momento, se manter a uma distância precisa).

os movimentos dela eram instintivos, agora. tentava se aproximar, os olhos não viam nada além do parceiro.

ele sorri, um sorriso fugidio... adorava cada passo.

o ritmo aumenta de volume e fica mais rápido.

os dois se movem, giram.

a música toma o ar.

ele então faz seu ato final. quando ela não pode mais se livrar, ele a toca, puxando o corpo frágil em direção ao seu, colando-a junto a si.

ele a beija.

outra dança tem início.

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