as gotas caem... o vermelho tinge o papel espalhado, formando padrões aleatórios.
ele está ajoelhado, com os olhos perdidos. o barulho do gotejar é tudo o que se houve no quarto desprovido de qualquer sinal reconhecível de que alguém vivia ali.
as paredes brancas, o chão branco, as roupas brancas espelhavam a feição impassível do garoto.
imagens invadem a cabeça dele... um quarto escuro... solidão... medo... um gigante envolto em sombra... dor... sempre a dor... não conseguia dormir... não conseguia nada... só sentir a dor...
eles o levaram para o quarto branco... deram remédios para ele, que faziam o mundo ficar distante... mas a dor continua lá...
mas ele encontrou um alívio.
ele observa as paredes brancas, com os olhos que não mostram nada.
em seu braço, rasgos na pele formam trilhas de vermelho que escorrem, gotejando no chão.
o sangue forma padrões nas folhas brancas no formato de um menino deitado em um quarto escuro.
31.1.06
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2 comentários:
Eu *sabia* que não estava uma droga, seu bobo! :) Gostei do texto, há algo dos desenhos do Escher nele, como numa espécie de matrioskha. Ou uma recursividade latente. Um moto-perpétuo de angústia deliciosamente cortante (com trocadilho, claro).
Fiquei com gosto de quero mais.
Já reli o post algumas vezes.
Você sabe que jamais partilharia da empolgação da Paty com ele. Partilho entretanto o recôndito de alma em que cada uma das palavras ali (des)encontra eco. A sombra, no fundo de um olhar brilhante, de quem já sobreviveu mais vezes do que é capaz de contar.
Não me entristece ler essas coisas. Só faz avivar memórias e traz introspecção.
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