31.10.05

o farol - parte I

os remos batiam contra a água com força, fazendo o pequeno barco avançar em direção à ilha. a tempestade da noite anterior havia sido bastante forte e o vento outonal tentava forçar o homem e seu barco em direção às pedras. mas o guia do veículo havia vivido sua vida inteira naquele lugar e conhecia bem as traições do mar.

sempre que olhava o antigo farol a essa distância, o homem imaginava estar vendo um gigante, olhando para o mar e imaginando o que nele se escondia. sempre fora assim, desde a primeira vez que o seu pai o levara até a torre onde ele ia todas as noites, para iluminar o caminho dos marinheiros, sinalizando que ali havia um local perigoso para as náus que por ali passavam.

o velho gostava de leva-lo até a borda do penhasco onde o farol, para sentar ao seu lado e conversar horas, contando histórias sobre o mar, fantasias sobre piratas, mundos em continentes perdidos e seres mitológicos.

depois que seu pai morreu, o prefeito decidiu fechar o farol. as velhas rotas de navios estavam sendo mudadas para o norte, onde um porto maior havia sido construído. o farol não era mais necessário.

o filho do antigo faroleiro comprou o terreno. ele sentia-se ligado demais ao farol e ao mar, para deixar que o local definhasse com o passar dos anos. ele se sentava nos finais de tarde na borda do penhasco e olhava para o mar e a praia e as focas que vinham para a ilha para se acasalar, talvez esperando para que as histórias que seu pai contava se tornassem realidade.

ele se sentia sozinho, vez ou outra. e aproveitava a falta de alguma coisa no farol para ir à cidade, buscar por companhia. mas no fim, quando ele retornava para o farol, estava sempre só no barco.

as ondas fizeram o barco virar para bombordo, forçando o homem a voltar para a realidade. ele olhou novamente em direção à ilha e percebeu que havia uma foca na areia da praia. havia algo de estranho, nisso, pois os animais não costumavam aparecer nessa época do ano. ele levantou-se no barco, tentando olhar melhor aquilo e percebeu que não era um animal que estava deitado na praia.

era uma pessoa. e havia sangue.

ele se apressou em manobrar o barco até a praia, lutando contra o vento e as ondas. procurou em todas as direções, tentando ver sinal de naufrágio, mas nada encontrou. porém não se preocupou com isso. ele precisava chegar até a pessoa que estava caída na praia, antes que fosse tarde.

o barco tocou a areia escura e um segundo depois o homem encontrava-se correndo em direção à mulher caída.

ela tinha uma coloração pálida. um cinza azulado, que denunciava que ela ficara muito tempo nas águas geladas. havia um ferimento em sua cabeça que sangrara bastante, mas que naquele momento havia coagulado. e não usava nenhuma roupa, o que só aumentava o mistério.

ele a levantou em seus braços e a carregou em direção à casa do farol. ela parecia estar muito mal e ele temia que o pior acontecesse àquela mulher...

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