o inverno está frio, no rio. mas mesmo assim, a calçada está repleta de meninas vendendo parte de sua vida por trocados manchados de sangue e suor. ele caminha, alheio a elas. as luzes amareladas iluminam a névoa no ar, deixando a paisagem irreal como um sonho.
ele chega à lapa, onde bares cheios de adolescentes tocam música alta, tentando atrair os olhares do mundo. ele olha por vários instantes, maravilhado com o movimento de pessoas, captando cada detalhe. em algum ponto dentro de si, alguma coisa se movimenta e protesta, desconfortável com a máscara que ele usa para o mundo.
sentado no meio fio, a uma distância segura das outras pessoas, ele cala o protesto dentro de si com uma garrafa de tequila. seus pensamentos vagam por épocas, lugares e pessoas diferentes, com uma certa melancolia que lhe é característica.
sem perceber, uma voz lhe chega aos ouvidos.
"posso tomar um pouco?"
uma menina que parece ser pelo menos 10 anos mais nova que ele está de pé ao seu lado. os cabelos roxos caem em volta dos olhos, a roupa negra cobre um corpo pequeno.
ele entrega a garrafa e ela senta-se ao lado e os dois começam a conversar. não teria feito isso, normalmente, mas algum detalhe obscuro no jeito dela o fez querer que ela estivesse ali.
eles conversam sobre a noite, falam sobre música e filmes... o humor negro dele a faz sorrir com olhos grandes e verdes de criança.
o homem não percebe quando as máscaras começam a cair e ele fala de si com uma sinceridade que pensava estar perdida para sempre.
ela fala algo bobo e de repente os dois se calam em um momento de silêncio cheio de significados. os olhares se cruzam de maneira diferente, as mãos se buscam enquanto os dois lábios se tocam, quase que incidentalmente.
eles dormem juntos, abraçados, fazendo carinhos um no outro.
ela diz que o ama.
na manhã seguinte, a cama está vazia. dois estranhos se afastam no nevoeiro que se dispersa em raios de sol que iluminam todos os lugares.
3.6.06
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