o vento forte anunciava a chegada do inverno. toda a tribo se preparava para os festivais que anunciavam o sono dos deuses do verão, quando eles se retiravam do mundo para dentro das colinas.
era época de armazenar alimentos... época de se sentar em frente ao fogo e pedir aos deuses do mundo que existe abaixo para que o inverno não seja rigoroso e que todos possam sobreviver.
naquela tarde, os homens estavam caçando. havia muitos indícios de que a primeira neve cairia logo e era preciso ter pressa.
a caçada fora boa para todos; especialmente para teannáil macath, que havia apanhado 3 coelhos e um javali fêmea. tinha esse nome por causa de seus cabelos da cor de fogo e por ser o homem mais alto da tribo. teannáil era o líder da tribo há 3 anos, desde que seu pai fora morto em uma batalha contra os pictos. desde então, os deuses pareciam sorrir para a tribo, pois as colheitas foram boas e os pictos e os homens que vinham do mar não mais atacaram.
enquanto caminhava, teannáil ouviu o barulho de galhos quebrando. ele continuou caminhando através da neblina, o mais silenciosamente possível, até chegar à uma clareira que não se parecia com nenhum lugar que ele já tivesse visitado.
no centro da clareira, uma corsa de chifres escuros pastava calmamente, alheia ao caçador que se aproximava. teannáil abaixou-se, preparando para lançar a corsa. de repente, o animal olhou para ele, como se sentindo a presença do caçador.
e os olhos do animal encontraram os olhos do homem. e teannáil e a corsa ficaram em silêncio absoluto, paralisados pelo momento. e, não sabendo exatamente porque, o caçador levantou-se lentamente e abaixou a lança. a corsa continuava olhando para ele, sem mexer um músculo.
teannáil estava enfeitiçado pela beleza do animal. pela primeira vez na sua vida encontrara um animal que não queria caçar. ele se aproximou da corsa, até poder tocá-la com a ponta dos dedos. sentiu a respiração, o peito que subia e descia de forma rápida.
fechou os olhos, enquanto acariciava o pêlo do animal e quando os abriu, percebeu que estava tocando os cabelos negros de uma mulher.
ele ficou assustado com aquilo, mas a beleza da mulher era tamanha que teannáil não pôde exclamar nada.
a mulher o olhou, com os olhos da corsa e o tocou no rosto, beijando-o em seguida.
e teannáil tomou a mulher para sí na clareira e ela o aceitou e entregou-se sem falar nenhuma palavra.
e o caçador dormiu...
enquanto dormia, ele sonhou com a mulher...
ela estava agora coberta por um manto tão escuro quanto o seu cabelo e atrás dela ele percebeu que haviam outros, observando.
ela disse a ele que era uma deusa daquela floresta e que estava grávida da semente de teannáil. ele não veria a criança até o momento de maior necessidade da tribo. mas a visão do filho dos dois seria a morte para ele.
e teannáil acordou na clareira... a noite havia caído e os outros caçadores haviam saído em busca do líder.
e naquela noite, teannáil não conseguiu dormir mais...
19.9.05
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Um comentário:
Lindo!
Que o vento espalhe as novas histórias, misturando com as que o passado espalhou para longe demais.
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