16.7.08

o sangue é lavado do asfalto.


a dor fica.
e nas horas mais estranhas, o vício de procurar por pequenas provas que ela deixa de sua existência nesse mundo me faz acreditar que existe mais. que tem que existir mais...
quando canso dessa luz viciada que cobre o mundo, procuro por ela... e como um prisma, ao ver as coisas através de sua visão, tudo parece adquirir contornos e cores novos.

19.12.07

o ponteiro se move devagar demais.


a noite demora três noites para passar. por quê? por quê?


desejar algo e não saber o que é maldição.

espírito da cidade

ela observa a cidade do topo do prédio mais alto. uma neblina baixa começa a se dissipar, conforme os primeiros raios de um sol tímido de inverno invade as ruas.
o ar é espesso e frio. o som dos carros mais abaixo começa a aumentar conforme eles tomam cada espaço livre no asfalto.

ela sorri, sentada no beiral. o cabelo e as roupas são de um negro intenso e balançam suavemente com o vento. a pele branca se ilumina com o nascer do sol, parecendo ela própria emanar a luz do dia.

a menina se levanta e abre os braços. olhos de um azul profundo se fecham devagar.

em cada centímetro de seu corpo ela sente a cidade.

no metrô um homem lê um livro, intrigado com a atitude do protagonista e ela está ao seu lado.
um casal acorda mais ao sul e ele a beija, duvidando por alguns instantes do amor que jurou meses atrás.
uma velha joga migalhas de pão para os pombos do parque, enquanto uma menina de olhos azuis e cabelo negro é a única a perceber.
um garoto rico escreve uma carta para papai noel e ela sente em si a empolgação e a magia.
uma adolescente acorda e vê a mancha de seu próprio sangue na cama. com dor e sentindo medo, ela se encolhe, pedindo perdão pela escolha que fez e não sente o carinho delicado feito por uma mão de pele branca.
em cada suspiro, em cada desejo. todos os olhares e todas as palavras são dela.

ela sente fome, dor, sorri, pede perdão, dorme, mata, se maravilha e entristesse.

de braços abertos ela se joga do prédio.

nas ruas, um garoto diz para a avó que sentiu um arrepio.

ela diz que um anjo passou por ele.

29.10.07

ele a observa enquanto ela dorme.

tentando descobrir o que ela sonha, ele imagina lugares distantes e fantásticos.

ela viajando por entre nuvens roxas por um céu azul-esverdeado.
cavalgando cavalos-marinhos pelo oceano, enquanto as estrelas brilham em tons de cores de nomes ainda não criados.

ele sorri, passando a mão de leve por seus cabelos lisos e finos. ela se vira, aproximando-se instintivamente do corpo dele. procurando proteção.

ele a abraça. quieto. lá fora os primeiros raios de sol do dia seguinte chegam ao mundo.

ele suspira, feliz.

feliz...
"me sinto tão só.
e dizem que a solidão é que me faz bem."


tô cansado disso... não quero mais brincar assim não. (sorriso)

spring time

vontade de acordar tarde.

de caminhar sentindo o vento fraco, com nome de brisa a soprar no rosto os cheiros das árvores.

vontade de sentir o calor do sol da manhã, aquele que não dói os olhos.

vontade de ver o dia passar devagar, preguiçoso em um céu de muitos tons de azuis.

vontade de sentir o amor bobo que vem nos dias mais gostosos da primavera.

saudade de um olhar que eu ainda vejo, mas que demoro a decifrar.

vontade de sentar no colo dela e ficar quieto. porque não existem palavras que exprimam tudo o que meu coração insiste em despejar aqui dentro.

22.10.07

som de trovões, lá fora...

e uma tempestade de pensamentos aqui dentro.

ancient call

os sons da floresta me chegam aos ouvidos, mesmo quando não os desejo.

o cheiro trazido pelo vento, o calor da fogueira, as estrelas no céu... os sentidos são tomados pela lembrança de uma época que supostamente não vivi.

mas por que isso?

15.9.07

wandering

sempre ando na direção errada.

presto atenção no que não devia.

como uma criança distraída, olho para o céu, para o chão, para a paisagem que passa rápida.

quando percebo, as pessoas já se foram.

pollock

a gota cai em um formato estranho.

a tela mancha.

a pureza do branco é violada pelo vermelho sangue.

amarelos brincam de esconder atrás do azul.

azuis. céus. mares. olhares. azuis.

pôr-de-sol laranja-despertar.

grama em forma de manchas.

pessoas. todas as cores, em todos os cantos.

pensamentos negros.

palavras de um cinza-chuva.

e o barulho, em tudo o barulho da cor.

eu caminho sobre as cores.

e circulo de dor cinza.

e a inquietação em um amarelo ácido se espalha em riscos.

alma ditada em cores.

por trás de tudo o branco teima em aparecer.

melancolia

ela me seduz.

seus cabelos escuros caem sobre os olhos. olhos de uma intensidade que queima.

um sorriso quase imperceptível no canto da boca. do tamanho exato para aguçar a minha curiosidade.

a pele alva é lisa e convida ao toque.

eu a conheço por muitos nomes, em muitas épocas.

já me entreguei a seus caprichos. noites e noites procurando saciar seus desejos.

fui seu amante fiel e apaixonado.

balbuciava seu nome com um ardor infantil.

melancolia.

mel.

doce de sabor ácido.