um filete de sangue sobe pela seringa, quando ele perfura a veia. uma pontada de dor que ele deixou de sentir há tempos.
o sangue desce novamente em direção ao braço, quando ele injeta o líquido. sente o calor projetando-se pelo corpo, uma serpente correndo por seus vasos sanguíneos, carregada de veneno e promessas de prazer.
ele desata o garrote e espera, encolhido, tremendo um pouco, olhando para a mesa desarrumada. entre seringas usadas e colheres queimadas para produzir uma dose, um porta-retrato onde uma mulher e uma criança olham sorrindo para um futuro que nunca existirá.
o homem olha para a chama da vela, queimando em câmera lenta, criando fachos de luz que voam pelo quarto. ele pega um desses facho e o prende com as palmas das mãos fechadas... vai até a janela e solta a pequena chama, mas nada voa de sua mão. mais abaixo, os carros desenham formas nas ruas, um rio de formas e cores corre para baixo do apartamento.
as estrelas caminham pelo céu em forma de anjos e demônios.
ele mergulha num mar de águas transparentes, feitas de diamantes extraídos de estômagos de dragões. sente a pele descolar e danças em seu corpo, seguindo um ritmo próprio.
tudo fica escuro no mundo, menos a vela, que ilumina um porta-retrato manchado e velho, onde olhos brilhantes olham de um passado distante.
o homem deita-se em uma cama de formas e cores mutantes, que o agarra e engole, levando-o para longe do mundo, para longe dele mesmo.
ele chora lágrimas de gelo, chama pelo nome das duas, mas só consegue ouvir o barulho da serpente que devora os seus sonhos, correndo em suas veias, cheia de raiva e de desejo...
5.2.06
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